Cibele vai fazer 3 provas da Maratona do Rio: 'Sonho é correr os 42 km'

A agente administrativa Tatiane Cibele Felippe, 42, vai participar este ano da Maratona do Rio em grande estilo. Pela primeira vez, ela completará três distâncias em três dias consecutivos: os 5 km, os 10 km e os 21,095 km (meia maratona). Paraplégica desde que levou um tiro, ela encontrou na corrida uma nova forma de viver e de se superar. A seguir, Cibele conta como se apaixonou pela corrida e fala do sonho de um dia terminar os 42 km da Maratona do Rio

"Estava comemorando o meu aniversário de 27 anos em um bar com amigos quando houve uma briga. Um homem disparou vários tiros —um pegou no meu abdômen e o outro, na minha costela. Fiquei paraplégica.

A adaptação foi difícil. Tive que fazer reabilitação e reaprender a fazer tudo, pois morava sozinha. Poderia ter morrido, mas escolhi ver a vida de outra forma e aproveitei a segunda chance que Deus me deu.

Imagem
Imagem: Arquivo pessoal

Antes de perder o movimento das pernas, era sedentária e não praticava nenhuma atividade física. Ao me tornar cadeirante, senti vontade de entrar para o mundo dos esportes e virar paratleta

Algumas pessoas sugeriram que eu praticasse basquete, mas por hobby e não profissionalmente porque era muito difícil conseguir patrocínio. Desisti da ideia porque precisava me sustentar. Então, arranjei um emprego e comecei a me interessar pelo universo da corrida de rua.

Em 2017, participei pela primeira vez do projeto Correndo por Eles, que visa à inclusão de pessoas com deficiência em corridas no Rio de Janeiro. Durante a prova, voluntários empurram PCDs em triciclos. Dois anos depois, com o apoio desse mesmo projeto, participei da prova conduzindo a minha própria cadeira e percebi que tinha potência para correr. Comecei a fazer musculação para melhorar o condicionamento físico e para fortalecer e ganhar resistência nos braços.

Imagem
Imagem: Arquivo pessoal

Um dos meus maiores desafios é incluir o treino na minha rotina. Saio de casa às 7h para trabalhar e só chego por volta das 21h. Levo quatro horas de deslocamento de transporte público entre ida e volta. O único horário que consigo treinar é das 21h30 às 23h.

Continua após a publicidade

Treino sozinha no entorno da comunidade onde eu moro, em Senador Camará, na zona oeste do Rio de Janeiro. A pista não é adequada —é irregular, tem buracos —e corro com a cadeira de rodas em meio aos carros, motos e ônibus. É perigoso, mas não tenho outra opção. Além disso, não tenho um modelo específico de corrida e uso a minha cadeira de rodas do dia a dia para correr. Só troco as rodas por uma mais fina nas provas.

Imagem
Imagem: Arquivo pessoal

Participo de duas a quatro corridas de rua por mês e tenho uma incrível rede de apoio, à qual sou grata. Durante as provas, conto com o auxílio de voluntários para me ajudar, em situações como passar em algum trecho com relevo ou pegar água. Atualmente meu treinador Igor Lorenzzato me acompanha de forma online e gratuita. Ele tem sido fundamental no meu desenvolvimento. Em 2024, participei das maratonas de São Paulo e de Florianópolis graças ao dinheiro que arrecadei com rifas e vaquinhas para pagar os gastos com hospedagem, transporte e alimentação.

Vou fazer três provas na Maratona do Rio

Em junho deste ano vou fazer, pela primeira vez, três provas na Maratona do Rio de Janeiro (5 km, 10 km e 21 km), em três dias consecutivos. Será uma experiência única que simboliza superação, resistência e paixão pela corrida.

Meu sonho é correr os 42 km da Maratona do Rio, mas não sei se vou conseguir este ano. A World Athletics — entidade que regulamenta as competições de atletismo no mundo —exige como requisitos uma cadeira apropriada e um guia, para garantir a segurança no percurso. Infelizmente não possuo esses recursos no momento.

Continua após a publicidade
Imagem
Imagem: Arquivo pessoal

Tenho um carinho especial pela Maratona do Rio porque ela é uma grande parceira do projeto que me ajudou no início dessa trajetória. Eles têm um compromisso real com inclusão e acessibilidade, com a oferta de cortesias e de premiação aos três primeiros colocados entre os PCDs.

A corrida deu um novo sentido à minha vida. Adoro a energia e a emoção de estar no meio da galera. Sou cadeirante, mas sinto como se estivesse correndo com as minhas próprias pernas

Ver a minha evolução só me faz acreditar que estou no caminho certo. Uma frase que sempre levo comigo é: 'Faça tudo que tiver desejo de realizar, independentemente das condições que você tem'".

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.