Bagunça pode ser sinal de problema emocional? O que desorganização revela

Você já teve a sensação de que a bagunça na sua casa está te dizendo alguma coisa? Como se fosse um reflexo do caos mental materializado, com direito a pilhas de roupas, papéis espalhados e aquela louça acumulada que insiste em ignorar? Pois saiba que isso não é só impressão: sua desorganização pode ser um retrato fiel do seu estado emocional.

"A bagunça externa costuma ter relação com a bagunça interna da pessoa. É mais comum que as desordens de dentro (do inconsciente, subjetivas) causem as de fora, mas o contrário também é possível", explica a psiquiatra Larissa Lauriano.

Em outras palavras, a desordem que se espalha pelo ambiente pode ser sintoma —e também agravante— de problemas psicológicos. E quando a coisa foge do controle, o impacto atinge não só o chão da sala, mas também sua autoestima, produtividade, memória e até o humor.

Efeitos da bagunça no cérebro e no foco

O excesso de estímulos visuais embaralha os pensamentos e transforma qualquer tarefa simples em uma maratona mental. É quase impossível ser produtivo nesse cenário;

Além disso, a desorganização espacial impacta a memória. Com tanta interferência visual e mental, o cérebro tem dificuldade em registrar e recuperar informações, como horários, compromissos e até nomes.

Peso emocional da desorganização

Quando deixamos de cuidar do nosso ambiente, é comum que o desleixo se estenda à própria aparência, à alimentação e à higiene pessoal. Isso acaba alimentando um ciclo de baixa autoestima, críticas internas, isolamento social e a sensação de não pertencer ao próprio espaço;

Se você já se sentiu desconfortável vendo programas sobre acumuladores, imagine viver numa casa em que tudo está fora do lugar. Quem vive no caos pode não perceber de imediato, mas muitas vezes carrega uma culpa constante, como se estivesse sempre em dívida consigo mesmo;

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Quando o caos domina tudo à sua volta e parece não haver solução, surge um cansaço profundo — mental e físico. A sensação de impotência e frustração toma conta, e isso pode evoluir para apatia, perda de interesse e até sintomas de depressão.

Consequências para a autonomia e o bem-estar

Crianças e adolescentes que não aprendem a cuidar de seu próprio espaço podem se tornar adultos com dificuldades em assumir responsabilidades. A desorganização vira um obstáculo ao desenvolvimento da disciplina, da autonomia e da autoconfiança;

Bagunça demais funciona como uma overdose de informação. O cérebro entra em modo de alerta constante, dificultando o relaxamento e o sono. A longo prazo, isso ativa a liberação de hormônios do estresse, como o cortisol e a adrenalina, afetando diretamente o humor, o sono e a saúde emocional.

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Imagem: Getty Images

Ok, estou no meio do caos. E agora?

A boa notícia é que o processo inverso também é verdadeiro: organizar o espaço pode ter efeitos terapêuticos. Um ambiente arrumado transmite sensação de controle, alívio e bem-estar — e ajuda a mente a fazer o mesmo.

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Aqui vão algumas dicas práticas:

Comece pequeno: não tente arrumar a casa inteira em um dia. Escolha uma gaveta, uma prateleira. O importante é começar e ver o progresso acontecer.

Use listas e categorias: anote tarefas, defina prioridades (urgente, importante, rotineiro, opcional) e estabeleça prazos. Isso ajuda o cérebro a sair do modo "tudo ao mesmo tempo agora".

Terminou? Guarde: evite deixar coisas pela metade. Finalizar tarefas e limpar o espaço depois ajuda a criar uma sensação de conclusão — e alívio.

Organize por lógica: caixas, etiquetas, cestos e pastas são seus aliados. Agrupar objetos por tipo, cor ou frequência de uso facilita o acesso e reduz o estresse.

Divida responsabilidades: não carregue tudo sozinho. Delegar tarefas e pedir ajuda também faz parte da organização emocional.

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Desapegue: descarte, doe ou venda o que não faz mais sentido — objetos e sentimentos. Às vezes, aquela tralha na estante está só ocupando o espaço que poderia ser de algo novo (ou de nada, o que também é libertador).

Tecnologia é aliada: aplicativos de organização, lembretes e alarmes são ótimos para manter a rotina nos trilhos e evitar o esquecimento.

A psicologia não vê a desorganização como um defeito a ser consertado, mas como um sintoma a ser compreendido. E, quem sabe, um ponto de partida para uma vida mais leve, limpa e mentalmente saudável.

*Com informações de reportagem publicada em 23/03/2024

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