Ex-Globo achou tumor após pneumonia; câncer de pulmão não tem sintoma?

Jonas Almeida, ex-apresentador do Vanguarda Mix, da TV Vanguarda (afiliada da Rede Globo no Vale do Paraíba, no interior de São Paulo), teve 20% de um pulmão retirado após o diagnóstico de um "silencioso" câncer de pulmão. Aos 45 anos, ele só recebeu a notícia após ter uma pneumonia, sem sintomas anteriores.

Câncer de pulmão não causa sintomas?

Doença nem sempre dá "pistas" de sua presença. "O câncer de pulmão, quando [em fase] inicial, pode ser assintomático. Nestes casos, só é descoberto ao acaso, quando se realiza um exame devido a sintomas de outra doença", explica Ticila Melo, oncologista clínica da Imuno Santos. Foi o que aconteceu com Jonas.

"Silêncio" do tumor coloca o paciente em risco. "Nós temos dois pulmões, então ele vai crescer num dos pulmões e, com o restante do pulmão funcionando bem, você não sente absolutamente nada. Esse é um dos grandes problemas. Quando você tem algum sintoma decorrente do câncer, em geral, significa que é uma doença que está já em um estágio mais avançado. E quanto mais avançado, menor é a chance de cura", diz o oncologista Jefferson Luiz Gross, líder do Centro de Referência em Tumores de Pulmão e Tórax do A.C.Camargo Cancer Center.

No Brasil, apenas 16% dos cânceres de pulmão são diagnosticados em estágio inicial, com o tumor ainda localizado em um ponto do órgão. O dado é do Ministério da Saúde.

Em casos mais avançados, o paciente pode ter tosse persistente. Outros sintomas podem acompanhar essa tosse, como a hemoptise, mais popularmente conhecido como catarro com sangue. Veja a lista:

Estes sintomas, porém, são bastante comuns a outras doenças. "Não existe nenhum sintoma que seja específico de câncer de pulmão", lembra Jefferson. Portanto, é importante consultar um médico não só ao apresentar algum destes sinais de desconforto, para receber uma avaliação correta, como realizar o chamado "exame de rastreamento", diz o oncologista.

Exames de rastreamento são indicados para pessoas com alto risco de câncer de pulmão. Maiores de 50 anos, fumantes ou ex-fumantes que pararam há menos de 15 anos, por exemplo, devem fazer uma tomografia de tórax de baixa dose anualmente, recomenda o especialista. Esta prevenção é similar à mamografia anual que mulheres realizam a partir dos 40 anos, seguindo a recomendação da Sociedade Brasileira de Mastologia.

Veja outros fatores de risco para o câncer de pulmão, segundo a instituição de pesquisa americana Mayo Clinic:

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  • Exposição indireta à fumaça de cigarro ou outros gases tóxicos;
  • Tratamento com radiação anterior;
  • Exposição a carcinogênicos (amianto, arsênio, crômio e níquel);
  • Histórico familiar de câncer de pulmão --como é o caso de Jonas.

Diagnóstico foi "surpresa"

Jonas teve gripe, o que acabou motivando sua ida ao médico e a descoberta da doença. Ele conta que não apresentava tosse com sangue, por exemplo.

Eu perdi o dia da vacina (da gripe), porque eu estava meio gripado e pensei que era melhor não tomar. Os três (esposa e filhos) tomaram e o que aconteceu? Todo mundo pegou a influenza, eu peguei e o meu, claro, se agravou, porque eu não tinha a vacina. Virou uma pneumonia, que virou um ronco feio no peito e, quando eu vou no hospital, olha que coisa maluca: eu nunca tiro raio-x, não tiro tomografia, porque eu tenho medo de pegar câncer.

O apresentador topou fazer a tomografia e teve a confirmação da doença, que já vitimou um avô e uma tia. Assim, ele decidiu acelerar a cirurgia com seus médicos para tratar a doença.

Tratamento não é igual para todos

Jonas passou pela cirurgia que removeu 20% do seu pulmão afetado. A esposa afirmou que ele passa bem. "Sai [o câncer], junto com uns linfonodos que estão ali que parece que estão 'infectados'", explicou o apresentador.

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A extensão retirada do pulmão depende do tamanho do câncer. "No procedimento, deve ser retirado todo o tumor e uma pequena parte do pulmão circundante para garantir que todo o tumor foi removido com margem de segurança", explica Ticila.

Nem toda retirada do câncer é igual. A especialista esclarece que é possível fazer uma cirurgia com o tórax aberto, a toracotomia, ou cirurgias assistidas por vídeo (videolaparoscopias) ou robóticas (com o auxílio de robô, como o nome sugere).

A técnica é decidida pelo médico dependendo do caso do paciente. "Em algumas situações, a cirurgia tem de ser aberta mesmo, mas sempre que possível a recomendação é que se faça de forma minimamente invasiva. Você tem menos dor e um retorno às suas atividades habituais mais precocemente do que quando se faz a cirurgia aberta", diz Jefferson.

Complicações podem acontecer em cerca de 30% das cirurgias, segundo o oncologista. Entre as mais comuns estão fístulas aéreas (escape de ar resultante de dificuldades de cicatrização), infecção, arritmia cardíaca e trombose. Portanto, boa alimentação e fisioterapia respiratória são fundamentais para melhorar a função pulmonar e prevenir complicações.

Jonas anunciou que fará quimioterapia em seguida. Ela é indicada tanto para complementar a cirurgia (como no caso do apresentador), como em quadros mais avançados em que o paciente já não é mais candidato ao procedimento cirúrgico. "Em alguns casos selecionados, pode ser indicada uma quimioterapia antes da cirurgia", aponta ainda Ticila. Ela serve para reduzir o tumor —e consequentemente a porção do órgão que será retirada, além de destruir células cancerígenas que possam ter se espalhado—, aumentando as chances de sucesso da cirurgia e do tratamento como um todo. "É necessária uma avaliação do especialista para indicar o melhor tratamento."

*Com informações de matérias publicadas em 15/12/2023 e 21/05/2025.

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