Ovo inteiro ou só a clara? O que cada parte do ovo traz para o corpo

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Durante décadas, ela foi vista com desconfiança: acusada de elevar o colesterol, demonizada em dietas e ainda hoje separada da clara como se fosse desnecessária. Mas será que a gema é só gordura mesmo, desprovida de benefícios nutricionais, como alguns podem supor? Ou existe mais por trás daquela esfera amarela e cremosa que dá cor ao ovo frito e textura e firmeza ao pudim de leite?
Com a ajuda de especialistas, VivaBem vai descascar essa dúvida e elucidar as diferenças entre gema e clara, o que cada uma oferece ao organismo e por que esse pequeno ingrediente culinário pode fazer uma tremenda diferença no seu prato —e na sua saúde.

Por dentro do produto da galinha
Por fora, um simples ovo parece só... um ovo. Mas, no seu interior, ele guarda uma dupla com funções e composições bem distintas —nenhuma das partes está ali por acaso.
A clara é comparada a uma pocinha translúcida e gelatinosa de proteína pura. Composta basicamente por água e albumina, essa estrutura que protege a gema é campeã em dietas de baixa caloria. "Ela tem praticamente zero gordura, poucas calorias e cerca de três gramas de proteína por unidade", diz o nutricionista Lucas Alves Deienno, de São Paulo. É o combustível favorito dos marombeiros, mas também fundamental para quem busca refeições leves e com sustança.
Já a gema é, digamos, o "núcleo bioquímico" do ovo. De cor amarelo-ouro (ou quase alaranjada, dependendo do que se alimenta a galinha), ela concentra cerca de três gramas de proteína de alta qualidade e 4,5 a seis gramas de gorduras, sendo estas em sua maioria insaturadas (benéficas para a saúde), além de uma rica mistura de fosfoproteínas e lipoproteínas, complementa Deienno. Sim, há colesterol ali (em torno de 5,2% do total de gordura), mas não é o vilão absoluto que muitos pensam.
Na gema ainda se encontram:
Vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K): a vitamina A contribui para a saúde ocular e a integridade da pele, enquanto a D ajuda na absorção de cálcio, para ossos fortes. A vitamina E age como antioxidante, protegendo as células contra danos. Por último, a K é fundamental para a coagulação sanguínea e também saúde óssea.
Minerais como ferro e fósforo: o ferro é fundamental para o transporte de oxigênio no sangue e para prevenir a anemia, enquanto o fósforo ajuda na formação e manutenção dos ossos e dentes, além de participar na produção de energia celular.
Antioxidantes potentes como luteína e zeaxantina: eles ajudam a proteger os olhos contra os danos causados pela luz azul e podem reduzir o risco de doenças oculares, como a degeneração macular e catarata.
Ácidos graxos saudáveis: o ômega-3 presente na gema é um aliado da saúde cardiovascular, contribuindo para a redução de inflamações e promovendo a saúde cerebral.
Colina: esse nutriente desempenha um papel enorme na saúde do cérebro e da memória, além de ser importante para o metabolismo das gorduras no fígado.
Ovo inteiro ou só a clara?
Eis uma dúvida comum entre muitos: separar ou não a clara da gema? A resposta depende do seu objetivo. Se você está seguindo uma dieta com restrição calórica ou de gorduras, pode ser interessante focar nas claras, afirma a nutricionista Luana Leite, de Lauro de Freitas (BA). Elas são a escolha preferida nos cardápios de quem busca definição estética ou controle de peso.
Mas excluir a gema apenas por receio de engordar pode ser um tiro no pé: além de reduzir a densidade nutricional do prato, você perde muitos dos benefícios que só ela oferece. A gema complementa o que falta à clara —inclusive, com metade das proteínas do ovo.
"Em média, cada gema carrega cerca de 17% de proteínas e 34% de gorduras", explica a nutricionista Ana Cristina Pinesso Ribeiro, de Londrina (PR). Isso a torna fundamental para quem busca não só energia como também recuperação e crescimento muscular.
O segredo, como quase tudo na nutrição, está no equilíbrio, reforça Luana Leite. Para a maioria das pessoas, consumir o ovo inteiro é a melhor escolha: um combo completo de nutrientes, proteínas e sabor. E, se restar alguma dúvida, o nutricionista é o melhor parceiro para ajustar a dose certa para o seu corpo e sua rotina.

Meu colesterol é alto, e agora?
Se a sua preocupação é se o colesterol da gema afeta os níveis de colesterol no sangue, elevando principalmente o LDL (conhecido como colesterol ruim), saiba que a ciência atual diz que, para a maioria das pessoas, ele tem pouco impacto. O que realmente faz a diferença são os hábitos alimentares como um todo, com destaque para o excesso de consumo de gordura saturada, alimentos ultraprocessados e a falta de atividade física (sedentarismo).
"Hoje sabemos que consumir um ovo por dia é considerado seguro e saudável dentro de uma alimentação equilibrada e variada", garante a nutricionista Ana Cristina Pinesso Ribeiro.
Então, em vez de banir a gema do cardápio, o ideal é consumi-la com moderação, sobretudo em casos específicos. "Indivíduos com hipercolesterolemia familiar [condição genética que eleva muito o colesterol no sangue] ou que têm sensibilidade individual ao colesterol alimentar podem, sim, precisar de cuidados extras", comenta Lucas Alves Deienno. Nessas situações, é preciso seguir orientações personalizadas de um médico ou nutricionista.
E não é só o "quanto" se come, mas "como" se come. A forma de preparo pesa muito quando falamos de ovos. Fritá-los por imersão em óleo, por exemplo, adiciona uma quantidade desnecessária de gordura e pode comprometer a qualidade dos nutrientes. A dica da nutricionista Luana Leite é apostar em preparações simples e saudáveis: cozidos, mexidos com um fio de azeite, omeletes em fogo baixo, ou até pochê. Quanto menos agressivo o calor, maior a preservação dos nutrientes —e menor o risco à saúde.
No fim das contas, quem gosta de ovo pode comemorar: ele segue firme como um superalimento acessível, nutritivo e versátil. E, sim, a gema faz parte desse pacote.
Fontes: Ana Cristina Pinesso Ribeiro, nutricionista e professora do curso de nutrição da Universidade Unopar Anhanguera, de Londrina; Luana Leite, nutricionista e professora do curso de nutrição do Centro Universitário Unime, de Lauro de Freitas (BA); e Lucas Alves Deienno, nutricionista pela Unicid (Universidade Cidade de São Paulo) e da Clínica CliNutri (SP).
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