Humanos podem pegar? Tem vacina? Tire suas dúvidas sobre a gripe aviária

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A descoberta de um foco de gripe aviária em uma granja no Rio Grande do Sul fez com que ao menos 60 países suspendessem a compra de frango do Brasil. Abaixo, tire suas dúvidas sobre a doença.
O que é?
A gripe aviária é causada pelo vírus influenza, em especial pelo subtipo A (H5N1), altamente agressivo para aves. Esse vírus já provocou surtos globais e costuma circular entre aves selvagens, migratórias e de criação, podendo afetar mamíferos como porcos, vacas e até mesmo animais domésticos, como gatos e cachorros.
A doença é altamente contagiosa entre aves e seu principal sinal é a morte súbita. A mortalidade em lote pode ultrapassar 60%, chegando a 100% em casos mais agressivos, segundo a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Outros sinais incluem tosse, muco nasal, queda na produção de ovos, hemorragias, inchaço em articulações e alterações na coloração da crista.
Humanos podem pegar?
Sim, mas o risco de contaminação é baixo. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), casos em humanos são raros e ocorrem quase exclusivamente por contato direto e desprotegido com aves contaminadas.
A doença geralmente atinge profissionais da linha de frente, como tratadores, granjeiros ou veterinários. Por isso, eles devem usar equipamentos de proteção, como máscaras e luvas. Criações domésticas também exigem atenção: mortes repentinas devem ser comunicadas imediatamente às autoridades sanitárias.
O Ministério da Saúde informou ontem que foi descartado o caso suspeito da doença em um trabalhador da granja onde foi identificado o foco. Neste momento, não há outros casos suspeitos ou em investigação no Brasil.
Mesmo sendo rara a contaminação, a doença preocupa por causa da alta taxa de mortalidade. Entre o início de 2003 e abril de 2024, a OMS registrou 889 casos de gripe aviária em humanos, espalhados por 23 países. Destes, 463 culminaram em morte, o que representa uma taxa de mortalidade de 52%.
O consumo da carne do frango e do ovo é seguro?
Sim, porque o vírus da gripe aviária não resiste ao calor. Portanto, alimentos bem cozidos não transmitem a doença. A orientação é evitar produtos crus ou mal cozidos, como ovos com gema mole, medida já recomendada para evitar outras infecções alimentares, como por Salmonella.
O cancelamento das exportações acontece por precaução e protocolo.O Brasil é o maior exportador de frango do mundo, mas há um acordo entre os países que diz que as compras serão "suspensas imediatamente" em caso de gripe aviária.
O risco é de que seja transportada a carcaça que esteja contaminada com o vírus e contamine os plantéis comerciais daquele país. Não é o consumo humano que está com risco. Carlos Fávaro, ministro da Agricultura, em entrevista à Globonews na sexta-feira (16)
O que acontece com os animais infectados?
Para evitar a disseminação do vírus, os animais do local —com sintomas aparentes ou não— são sacrificados. No caso ocorrido do Rio Grande do Sul, por exemplo, das 17 mil aves que viviam na granja, 15.650 foram encontradas mortas, e outras 1.358 foram sacrificadas. Ainda como medida de segurança, foi realizado o isolamento de um raio de 10 quilômetros ao redor da granja. Já os ovos oriundos do estabelecimento no qual a doença foi detectada foram localizados em três estados e devidamente descartados.
Como se prevenir?
A população deve evitar tocar em animais mortos ou doentes e seguir as orientações sanitárias locais em caso de suspeita. Caso encontre alguma ave morta, seja na área rural ou urbana, não a manipule e acione as autoridades locais de meio ambiente, saúde ou agricultura, que devem seguir protocolos específicos para avaliação do caso.
Há riscos de pandemia?
A chance de uma pandemia é considerada baixa, mas o vírus é monitorado de perto. A principal preocupação dos especialistas é a possibilidade de mutação do vírus —principalmente em hospedeiros como porcos, que podem servir como uma "ponte genética" entre vírus aviários e humanos. Neste cenário, caso haja uma mutação no vírus, a transmissão entre as pessoas poderia ser facilitada. O aumento de casos ao redor do mundo, especialmente nos EUA, tem sido avaliado pelas autoridades competentes.
Qual a diferença entre gripe aviária, covid-19 e influenza?
As três são doenças respiratórias, mas causadas por vírus diferentes. Como os sintomas da gripe aviária são similares aos da gripe comum e do coronavírus, vale ficar alerta se esses sinais ocorrerem após exposição a animais doentes. Veja abaixo as possíveis manifestações da gripe aviária:
- Tosse;
- Febre;
- Dor no corpo e na cabeça;
- Falta de ar;
- Náusea, vômito e/ou diarreia;
- Em casos graves, pode causar pneumonia e levar à morte.
Como é feito o diagnóstico em humanos?
Por exame laboratorial do tipo RT-PCR, com base justamente nos sintomas e no histórico de exposição. O teste detecta a presença do vírus em secreções respiratórias e deve ser solicitado especialmente em pacientes com contato recente com aves doentes.
Tem tratamento?
Em humanos, o tratamento envolve suporte clínico para aliviar os sintomas. Isso pode incluir antivirais e ventilação mecânica em casos graves. Caso apresente algum sintoma, busque atendimento médico.
Existe alguma vacina contra a doença?
Cerca de 20 vacinas contra o H5N1 foram licenciadas ao redor do mundo, mas o Brasil não está na lista. Esses imunizantes, de caráter emergencial, estão estocados em pelo menos dez países. No Brasil, o Instituto Butantan aguarda desde agosto de 2024 o aval da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para estudo da vacina contra influenza tipo A H5N8 (fragmentada, inativada e adjuvada) em humanos.
O estudo clínico terá centenas de voluntários e tem como função produzir dados de segurança e eficácia para um eventual pedido de registro no futuro. É importante ressaltar que as vacinas atuais contra a influenza sazonal ou gripe comum não protegem contra a infecção pelos vírus H5N1.
O frango pode ficar mais barato? E o ovo?
Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária, não. "A experiência adquirida [mostra que] os preços não baixaram tanto", afirmou Fávaro. O principal motivo é o volume que deixará de ser exportado. "Não vai ficar tão grande a restrição. É possível que depois dos 28 dias [até o fim do foco, a venda] volte gradativamente à normalidade."
70% da produção de frango já é comercializada no mercado interno, o que diminui o impacto econômico das restrições de exportação. O preço dos ovos também não deve mudar. Isso acontece já que os EUA, maior comprador do ovo brasileiro, anunciaram que não vão suspender a compra do produto. Ainda assim, Fávaro defendeu a criação de um fundo nacional direcionado a criadores de aves.
O que acontece agora?
Foco de gripe aviária deve acabar em meados de junho. O ministério estima 28 dias para concluir todas as medidas do plano de contenção da gripe, iniciado no dia 15 de maio. Os 28 dias também correspondem ao ciclo do vírus causador da gripe, o H5N1. Só depois desse período, e sem o registro de novos casos, o país voltará a exportar frango.
A ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) e as autoridades sanitárias garantem que o foco no RS está sob controle e sendo monitorado. O Brasil mantém um plano de contingência desde os anos 2000, com treinamento de equipes, vigilância epidemiológica e protocolos de comunicação internacional.
*Com informações de matéria publicada em 01/03/2023 e Estadão Conteúdo
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