Quais estados têm mais gente com DNA de origem africana? E nativa?

Cerca de 60% dos brasileiros têm ancestralidade europeia, 27% têm origens africanas e 13% indígena, em diferentes graus que variam de acordo com as regiões do país. A conclusão é de um estudo genético liderado por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) publicado ontem na prestigiada revista científica Science.

Cientistas conseguiram determinar qual foi a contribuição de cada povo para a população de diferentes estados. Por exemplo, as populações com maiores porcentagens de ancestralidade africana estão no Nordeste, de indígenas no Norte, enquanto as europeias se concentram mais no Sul.

Já o Sudeste e o Centro-Oeste são mais diversos. Ao Estadão, pesquisadores revelaram as percentagens de 11 estados bem representados no estudo (em negrito, o maior percentual encontrado na pesquisa entre as três genéticas):

  • AM*: 14,36% africana; 42,10% europeia; 43,53% nativa americana
  • AM*: 23,26% africana; 53,19% europeia; 23,55% nativa americana (*grupos diferentes de populações ribeirinhas do AM estudadas)
  • BA: 48,30% africana; 46,51% europeia; 5,19% nativa americana
  • CE: 18,56% africana; 65,29% europeia; 16,14% nativa americana
  • ES: 30,49% africana; 58,22% europeia; 11,29% nativa americana
  • GO: 8,75% africana; 82,49% europeia; 8,76% nativa americana
  • MG: 34,07% africana; 60,76% europeia; 5,17% nativa americana
  • PA: 25,62% africana; 41,71% europeia; 32,67% nativa americana
  • RJ: 41,65% africana; 51,17% europeia; 7,18% nativa americana
  • RS: 25,82% africana; 62,72% europeia; 11,45% nativa americana
  • SE: 38,86% africana; 51,43% europeia; 9,71% nativa americana
  • SP: 27,69% africana; 62,92% europeia; 9,39% nativa americana
A distribuição do DNA de diferentes povos na composição genética dos estados brasileiros
A distribuição do DNA de diferentes povos na composição genética dos estados brasileiros Imagem: Reprodução/Science

DNA de indígenas exterminados e violência sexual da colonização encontrados

A pesquisa encontrou registros de povos indígenas exterminados durante a colonização, mas que ainda aparecem nas amostras de DNA. Também foram identificadas combinações de genomas africanos não encontrados na África que só se misturaram no Brasil, para onde foram trazidos escravizados.

Os povos geograficamente distantes retirados à força da África se encontraram aqui e se misturaram.
Lygia da Veiga Pereira, uma das líderes do estudo

Há também sinas claros da violência sexual na colonização, revelada por casos em que o cromossomo paterno tem ascendência europeia e as linhas maternas são africanas ou indígenas. A maioria (71%) das linhagens do cromossomo Y, herdado dos homens, era de origem europeia, enquanto a maioria das linhagens mitocondriais, que são herdadas das mulheres, era africana (42%) ou indígena (35%).

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A miscigenação atingiu seu pico nos séculos 18 e 19. Os pesquisadores conseguiram estabelecer uma linha do tempo na análise do genoma para determinar há quantas gerações houve misturas entre povos —e o período mais intenso foi exatamente o da Corrida do Ouro, quando chegaram europeus (e escravizados trazidos por eles) para explorar as minas no Brasil e a população se expandiu urbanamente.

O estudo identificou também variantes genéticas que favorecem a fertilidade, além de genes ligados à resposta imunológica do organismo e ao sistema metabólico. Eles teriam sido favorecidos pela seleção natural ao longo de 500 anos de miscigenação.

Os processos de seleção natural do genoma costumam ocorrer ao longo de milhares de anos, mas na população brasileira observamos um processo mais recente e muito mais curto. Descreveu o pesquisador David Comas, do Instituto de Biologia Evolutiva (IBE) de Barcelona, que colaborou com a pesquisa da USP.

Os cientistas identificaram ainda variantes em 450 genes ligados a doenças cardíacas e obesidade, além de 815 genes relacionados a doenças infecciosas, como malária, hepatite, gripe, tuberculose e leishmaniose. Mais estudos serão necessários para determinar o papel e a influência de cada um deles.

*Com informações da Deutsche Welle e do Estadão Conteúdo

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