Resgatam sensações: 5 memórias de infância que mais marcam os filhos
Colaboração para VivaBem
15/05/2025 15h31
Quem nunca se lembrou inesperadamente de um cheiro, uma música ou uma cena da infância que, à primeira vista, parecia irrelevante? Um almoço de domingo, o tom de voz da mãe chamando para entrar, ou até o barulho da chuva enquanto você assistia ao desenho animado.
Essas cenas aparentemente banais têm mais poder do que imaginamos e, segundo a psicologia, moldam parte de quem nos tornamos.
Relacionadas
Recordações infantis que mais marcam
Segundo especialistas em psicologia e neurociência, estas são as lembranças que mais deixam marcas emocionais duradouras — para o bem ou para o mal.
A forma como os pais reagiam às emoções do filho: se uma criança chorava e ouvia um "engole o choro", ela aprendia que sentir era errado. Se, em vez disso, era acolhida e compreendida, aprendia a lidar com as emoções de forma saudável. A resposta emocional dos cuidadores molda como os filhos vão lidar com o próprio mundo interno e com o dos outros.
Momentos de conexão profunda (mesmo que simples): não precisam ser grandes viagens à Disney, por exemplo. Pode ser o pai que sempre colocava a criança para dormir contando histórias, ou a avó que fazia bolinho de chuva nas tardes chuvosas. Essas pequenas constâncias criam sensação de pertencimento e segurança. O cérebro grava com carinho o que é feito com presença e afeto.
Situações em que a criança se sentiu valorizada, ou desvalorizada: Um elogio sincero depois de um desenho. Um "você não serve pra nada" num momento de raiva. Palavras importam, e a forma como uma criança se sente vista e reconhecida molda sua autoestima por anos — às vezes por toda a vida.
Experiências de exclusão ou inclusão social: a lembrança de ter sido escolhido por último no time da escola ou, ao contrário, de ter sido convidado para um grupo, pode parecer boba aos olhos adultos, mas tem impacto gigantesco. A infância é o laboratório onde testamos nossas habilidades sociais — e o cérebro guarda isso como um manual de instruções para o futuro.
Experiências traumáticas, mesmo que "pequenas": um susto, uma briga intensa entre os pais, uma separação repentina, uma mudança forçada... O que pode parecer trivial para os adultos pode ser vivido como um terremoto por uma criança. A percepção dela, e não a dos outros, define o quanto aquele momento será gravado como trauma — ou não.
Como recordamos esses episódios?
Seu cérebro não acessa um único lugar onde a memória está guardada. Ele faz uma busca complexa por várias áreas ao mesmo tempo: o som fica com o córtex auditivo, o tato com o parietal posterior, as expressões faciais com o giro fusiforme e as emoções com a amígdala. Tudo isso se junta no lobo temporal medial (com participação especial do hipocampo) para formar uma lembrança quase inteira.
E tem mais: cerca de 50% dos detalhes de uma memória recente já estão distorcidos depois de um ano. E a gente nem percebe. Apesar disso, a essência emocional dos momentos se mantém. É isso que sustenta as chamadas memórias implícitas. Elas são aquelas que não exigem esforço consciente para serem lembradas, como andar de bicicleta ou falar um idioma.
Já as memórias explícitas são mais visuais, narrativas e carregadas de significado. Elas envolvem transições (como infância para adolescência), marcos da identidade e acontecimentos intensamente emocionais.
Fontes: Carla Guth, psicóloga em especialização em neuropsicologia; Harif Bakri, psiquiatra; e Júlio Pereira, médico neurocirurgião.
*Com informações de reportagem publicada em 21/02/2022