Precisa de um cuidador de idosos? Veja o que é essencial na hora da seleção

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Escolher um profissional para cuidar de um ente querido nem sempre é uma tarefa fácil, afinal o desejável é alguém que dê carinho e atenção ao familiar.
Na hora da seleção, o histórico pessoal e a experiência —verificar se a pessoa tem vivência no cuidado de pessoas idosas e na administração de medicamentos— são critérios indispensáveis, segundo Walquíria Cristina Batista Alves Barbosa, coordenadora da comissão de políticas públicas e controle social da Abraz (Associação Brasileira de Alzheimer).
Veja algumas dicas que podem ajudar:
Busque referências e recomendações de familiares ou amigos que já utilizaram os serviços do profissional;
Confirme se a pessoa cuidadora tem certificação na área e treinamento específico para o atendimento de idosos;
Realize entrevistas detalhadas para avaliar a compatibilidade da personalidade do cuidador com a da pessoa idosa.
A conexão entre cuidador e idoso é fundamental para construir uma relação baseada em confiança, afeto e respeito mútuo. Um bom vínculo contribui para o bem-estar emocional do idoso, facilita a adesão ao tratamento e promove uma convivência mais harmoniosa. Andreia Teixeira, presidente da ABC-Cuidadores (Associação Brasileira dos Cuidadores)
De acordo com Teixeira, é aconselhável que a família acompanhe os primeiros dias de trabalho para avaliar a afinidade e a empatia entre cuidador e o idoso.

Contrato é fundamental
Naira Dutra Lemos, presidente do departamento de gerontologia da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia), também destaca a importância de a família fazer um contrato com o cuidador. Esse acordo oferece segurança e clareza nas responsabilidades do profissional.
Por exemplo, é vital detalhar no contrato as responsabilidades do cuidador, especificando os procedimentos para manter a segurança e saúde do idoso, incluindo a administração de medicamentos e a realização de atividades que promovam bem-estar, os horários de trabalho e as tarefas previstas. Isso estabelece expectativas claras e evita mal-entendidos.
Deve-se também determinar a duração do contrato, junto com o cronograma de trabalho e os dias de descanso do profissional. Outro aspecto indispensável é a definição da remuneração e benefícios, que deve abranger o salário, compensações extras e quaisquer vantagens adicionais.
Para proteger a privacidade do idoso e de sua família, é importante incluir uma cláusula de confidencialidade, assegurando sigilo em relação a informações pessoais e sensíveis.
A comunicação entre as partes também merece atenção. Por isso, é útil definir como será o fluxo de comunicação e notificações em caso de mudanças ou imprevistos. Para evitar complicações futuras, é prudente estabelecer as condições para a rescisão do contrato, incluindo prazos de aviso e eventuais penalidades.
O contrato deve ser detalhado, transparente e equilibrado para ambas as partes. Consultar um advogado para revisão é altamente recomendável, garantindo que ele esteja alinhado com as necessidades específicas da família e do cuidador. Walquíria Barbosa, coordenadora da comissão de políticas públicas e controle social da Abraz

Qual deve ser o perfil dos profissionais
No Brasil, a profissão de cuidador ainda não é regulamentada. Por isso, é comum que famílias façam a contratação desses profissionais como prestadores de serviço.
No ano passado, o projeto de lei n° 5.178/2020, que regulamenta a profissão de cuidador, avançou sua tramitação no Senado e agora aguarda votação na CAS (Comissão de Assuntos Sociais). O PL estabelece dois tipos de profissionais: cuidador de pessoa, quando o trabalho é realizado em casa, e cuidador social de pessoa, quando o trabalho é realizado em uma instituição de acolhimento.
Caso seja sancionado, o texto prevê que para exercer a profissão de cuidador, a pessoa terá que ter concluído o ensino fundamental e realizar um curso de formação ministrado por instituição de ensino reconhecida pelo Ministério da Educação ou por uma associação profissional reconhecida pelo órgão público competente, com carga horária mínima de 160 horas. Quem exerce a profissão há pelo menos dois anos ficaria dispensado da exigência do curso.
A nova regulamentação também diz que o contrato de trabalho do cuidador estará sujeito às regras da CLT. A jornada seria de oito horas diárias, totalizando 40 horas semanais, ou na forma de revezamento de 12 horas de trabalho por 36 de descanso.
Teixeira diz que, atualmente, cerca de 90% das pessoas que atuam como cuidadoras no Brasil são mulheres. Elas têm, em sua maioria, entre 35 e 55 anos, e predominantemente são negras ou pardas, com formação em nível fundamental. "O que observamos é que a maioria trabalha de forma informal ou como profissional autônoma. Também temos observado um aumento no número de profissionais que procuram qualificação e registro formal na área."
Pesquisas apontam que, em média, cuidadoras domiciliares que prestam serviços de tempo integral costumam cobrar entre R$ 1.500 e R$ 4.000 por mês. Mas esse valor é mais baixo no interior do Brasil.
No estado de São Paulo, por lei, o salário do cuidador de idoso deve ter como base o salário-mínimo paulista —hoje em R$ 1.640. "Embora não tenhamos uma estatística oficial, estimamos que, hoje, cerca de 70% dos cuidadores são os próprios familiares dos idosos assistidos, enquanto apenas 30% dos cuidadores são não familiares", diz Lemos.

Cursos de capacitação
De olho nesse crescente mercado de trabalho em função do envelhecimento da população —projeções do IBGE estimam que, em 2070, cerca de 37,8% dos brasileiros serão idosos—, algumas instituições de ensino do Brasil já oferecem cursos de capacitação para cuidadores de idosos.
Curso de Capacitação de Cuidadores de Idosos, promovido pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Com 30 horas de duração, é um curso gratuito que explora temas como o envelhecimento humano, os direitos da pessoa idosa e cuidados essenciais.
Formação de Cuidadores, oferecida pela organização Olhe, com 120 horas de conteúdo que combina aulas práticas e teóricas. O curso aborda aspectos do envelhecimento, ética, medicina e nutrição, proporcionando uma formação completa.
Qualificação Profissional no Cuidado à Pessoa Idosa, ministrada pela Fiocruz no Rio de Janeiro. Este curso intensivo de 240 horas é dividido em duas fases e inclui estágio curricular em serviços especializados no cuidado de idosos.
Cuidador de Idoso, disponibilizado pelo CETEP EAD, com carga horária de 100 horas. O curso enfoca a saúde e os cuidados necessários para atender às demandas dos idosos.
"Essas iniciativas não apenas ajudam a formar profissionais competentes, mas também contribuem para garantir um cuidado mais digno e respeitoso aos idosos. A escolha de um curso adequado pode fazer toda a diferença na vida dos cuidadores e daqueles que eles cuidam", afirma Barbosa.
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