Bolo 'divide' escola: doença celíaca e intolerância ao glúten são iguais?

Tayrine Novak, 33, moradora de Araucária, no Paraná, enfrenta dificuldades para garantir que a filha Thaylla, de 9 anos, consiga se alimentar de maneira adequada na escola. A criança é celíaca e não pode consumir glúten, com risco de reações sérias a sua saúde. A condição é diferente - e mais grave - da intolerância ao ingrediente.

Entenda a diferença

A doença celíaca é autoimune, não uma reação alérgica. Ela se manifesta quando o organismo produz anticorpos contra o glúten, um composto de proteínas naturalmente presente em cereais como trigo, centeio e cevada que serve, sobretudo, para dar elasticidade a receitas de massas, como a dos pães.

A doença afeta o intestino delgado. Para quem sofre de doença celíaca, o consumo do glúten provoca um ataque do sistema imunológico, que danifica a estrutura da mucosa do intestino delgado, impossibilitando a absorção de nutrientes vitais.

Os celíacos apresentam diversos sintomas e podem ter sua qualidade de vida impactada. O paciente pode sentir diarreia e dor. A intensidade também varia entre os pacientes, que podem experimentar desde um incômodo intestinal mais simples, até sintomas mais severos. Adultos podem ter deficiências graves de vitaminas e um aumento no risco do desenvolvimento de alguns tipos de câncer.

O tratamento exige que quem é celíaco elimine o glúten da dieta. A investida em novos hábitos alimentares é especialmente difícil para os muitos que, muitas vezes, não podem ter contato nem com uma panela ou colher pelas quais passaram alimentos com glúten. Atualmente, não há tratamento farmacológico.

Quem tem intolerância tem a ausência da enzima responsável pela digestão. Isso dificultando sua absorção. Trata-se de uma condição que gera sintomas mais locais, ligados ao aparelho gastrointestinal.

Os sintomas e sinais podem variar, mas, em geral, estão relacionados ao sistema digestivo: cólicas ou dor abdominal, estufamento gástrico, distensão, borborigmos (barulhos na barriga), náuseas, regurgitação, flatulência, constipação e até diarreia. Sintomas sistêmicos como irritabilidade, fadiga, enxaqueca, urticária e dores articulares também podem estar presentes.

Efeito passa após algumas horas. Os sintomas podem se iniciar logo após ou um tempo depois da ingestão do alimento, e durar horas. O alívio costuma ocorrer após a completa fermentação dos componentes não digeridos pelas bactérias intestinais ou pela eliminação da substância através das fezes.

O caso de Thaylla

O diagnóstico de doença celíaca, que impede a ingestão de alimentos que contenham glúten, chegou em novembro de 2023. Thaylla estuda em período integral na Escola Municipal Professora Egipciana Swain Paraná Carrano. A unidade oferece cardápio específico para celíacos, conforme determina a legislação, mas, segundo a mãe, em abril do ano passado, alterações nos exames da menina demonstraram a possibilidade de contaminação cruzada — quando há erro na manipulação do alimento e traços de glúten ficam presentes —, o que pode agravar o estado de saúde de quem convive com a doença.

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De posse de laudo médico atestando que a criança não poderia ingerir alimentos com glúten e que as refeições deveriam ser preparadas em casa, a mãe combinou com a escola que enviaria as marmitas da filha.

No início do mês, um pedaço de bolo de cenoura com cobertura de chocolate deu novo ingrediente à luta de Tayrine. A mãe de um estudante enviou mensagem à escola reclamando que a menina levou a iguaria e o seu filho ficou com vontade.

Durante reunião, Tayrine foi questionada sobre a cobertura do bolo, que não estaria de acordo com o cardápio da escola. A mãe informou que se adapta conforme o que tem em casa e as condições econômicas da família, e que fez a calda de cacau para que a filha pudesse ingerir melhor o alimento, que é muito seco.

O chefe de gabinete disse que Tayrine não segue a legislação: "A lei é muito clara, o alimento precisa ser semelhante e não destoar, não é o que você quer". A mãe rebateu dizendo que acompanha resolução federal que permite bolo, desde que não seja industrializado.

Uma das participantes da reunião sugeriu a possibilidade de a criança não comer na escola quando a mãe não puder seguir o cardápio.

Com informações de reportagens de abril de 2011, maio de 2022 e maio de 2022.

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