O que funciona para dor lombar? Estudo aponta que soluções são raras

A dor lombar parece ter uma solução para cada pessoa — ou nenhuma. Analgésicos, massagens, acupuntura, relaxantes musculares, opioides, canabinoides... a lista de tratamentos disponíveis é longa, mas será que algum deles realmente funciona? Um novo estudo aponta que, na maioria dos casos, a resposta é não.

Segundo a pesquisa, publicada em março na revista BMJ Evidence-Based Medicine, há pouca ou nenhuma evidência de que a maioria dos tratamentos oferecidos para dor lombar tenha efeito real na redução do sofrimento dos pacientes.

Na avaliação de Jean Klay Santos Machado, membro titular da Sociedade Brasileira de Trauma Ortopédico, do Pará, as conclusões do estudo estão de acordo com o tipo de pesquisa realizada -- uma metanálise.
"Esse tipo de estudo consiste em reunir diversos trabalhos sobre um mesmo tema para extrair conclusões mais amplas. Nesse sentido, os resultados refletem, em parte, a realidade da prática clínica, ainda que de forma mais generalizada. Como toda metanálise, o foco está em oferecer uma visão geral, e não específica, sobre o tema."

Mas segundo ele, esse é justamente o grande desafio: ao reunir pacientes com diferentes tipos de dor lombar em um único estudo, perde-se a possibilidade de avaliar abordagens específicas para cada subtipo da condição. "Quando colocamos todo mundo em um mesmo grupo, a chance de identificar nuances específicas se perde. Por isso, muitos desses estudos acabam mostrando resultados menos consistentes", explica.

Fernando Jorge, especialista em medicina intervencionista em dor pela Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, complementa que a resposta aos tratamentos varia significativamente entre os pacientes, algo que estudos populacionais nem sempre retratam. "O estudo reforça a importância da personalização terapêutica, de acordo com orientações baseadas em evidências, que enfatizam a necessidade de levar em conta fatores psicossociais e as características específicas de cada paciente", diz.

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Imagem: Karolina Kaboompics/Pexels

Por que não há uma resposta única para a dor lombar

Jorge aponta que a lombalgia frequentemente resulta de uma interação complexa entre fatores biomecânicos, neurofisiológicos e psicossociais. "Intervenções que se concentram apenas na estrutura, como as manipulações vertebrais, acabam desconsiderando aspectos importantes, como o medo de se mover (para não gerar mais dor), sintomas depressivos ou condições de trabalho, que podem contribuir para a persistência da dor."

Além disso, aponta o médico, a heterogeneidade dos estudos — que agrupam pessoas com origens distintas de dor sob um mesmo diagnóstico — tende a diluir os efeitos observados. Por exemplo, um paciente com dor de origem neuropática pode não apresentar melhora com anti-inflamatórios, ao passo que outro, com inflamação local, pode se beneficiar significativamente.

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Acupuntura e massagem são inúteis?

Jorge ressalta que não necessariamente. Embora as evidências científicas ainda sejam fracas quanto à capacidade dessas terapias de provocar mudanças estruturais na coluna — como regenerar discos desgastados —, elas podem atuar na forma como o cérebro percebe a dor, por meio de mecanismos como a liberação de endorfinas. Além disso, ao proporcionarem alívio subjetivo, podem melhorar a adesão do paciente ao tratamento.

Fabiano Moura, ortopedista da Santa Casa de São José dos Campos (SP), complementa: "Tratamentos como acupuntura e massagem são paliativos, mas não precisam ser abandonados. Eles podem sim ser usados para aliviar a dor, embora não tratem a causa nem promovam a cura".

Posso tomar remédio para dor lombar?

Os anti-inflamatórios não esteroides, como ibuprofeno e naproxeno, são eficazes no alívio da dor lombar aguda de origem inflamatória, mas seu uso costuma ser limitado por receios quanto a efeitos adversos, como problemas gastrointestinais ou renais.

Mas, quando prescritos por curtos períodos (cinco a sete dias) e com monitoramento adequado, eles são seguros para a maioria dos pacientes.

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Mesmo assim, especialistas ressaltam que, em muitos casos, é fundamental investigar a origem da dor. Tratar apenas os sintomas, sem compreender a causa, pode levar à cronificação do quadro e à perda de oportunidades terapêuticas mais eficazes.

Exercícios dão estabilidade para a coluna lombar, fortalecem a musculatura e os ligamentos
Exercícios dão estabilidade para a coluna lombar, fortalecem a musculatura e os ligamentos Imagem: Getty Images/iStockphoto

Exercício: o melhor remédio?

O estudo aponta que há boas evidências de que o exercício físico pode ajudar na dor lombar crônica, embora o efeito seja pequeno do ponto de vista clínico.

Os pesquisadores analisaram centenas de ensaios clínicos e descobriram que o exercício foi um dos poucos tratamentos com benefício comprovado para casos crônicos — ao lado de manipulação da coluna, antidepressivos, fitas adesivas e cremes que aquecem a pele.

Ainda assim, o ganho médio foi de apenas 7,9 pontos numa escala de dor de zero a cem, o que, para muitos médicos, não representa uma melhora significativa. Um dos especialistas entrevistados fez uma analogia: se a dor de um paciente está em sete (de zero a dez), o exercício poderia reduzi-la para algo como 6,3 — o que, isoladamente, não muda tanto a qualidade de vida.

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Segundo Fabiano Moura, ortopedista, os exercícios físicos realmente ajudam no controle da dor lombar, ainda que o efeito seja pequeno, como apontado no estudo. "Eles dão estabilidade para a coluna lombar, fortalecem a musculatura e os ligamentos, então há uma melhora na estabilização da coluna", explica. No entanto, ele destaca que o tratamento da dor lombar não pode se basear apenas em exercícios. "É um tratamento multidisciplinar. Precisamos tratar a origem do problema, não só a dor."

Para o ortopedista Jean Klay Santos Machado, o foco deve estar em grupos musculares específicos que influenciam diretamente a saúde da coluna. "Precisamos dar destaque à musculatura abdominal, à musculatura paravertebral — que coordena a coluna — e à musculatura estabilizadora do quadril, que é muito importante e frequentemente negligenciada", conclui.

Mas os especialistas concordam que não há um único tratamento que resolva a dor lombar. "É o conjunto que funciona. Por exemplo, se o paciente tem uma hérnia de disco, pode ser necessário usar fisioterapia, medicação, bloqueios e até cirurgia. Não é uma abordagem isolada que vai resolver", diz Moura.

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