Personalizado e por DNA: exame promete mais precisão ao tratar autistas

Remédios não funcionam da mesma maneira para todo mundo. Isso porque nossos genes são capazes de determinar a quantidade, a velocidade com que metabolizamos e o princípio ativo ideal para curar doenças e tratar síndromes. As reações são individuais e podem ser mapeadas por testes farmacogenéticos.

A GnTech, empresa especialista no desenvolvimento de exames farmacogenéticos, acrescentou ao seu portfólio uma análise voltada especialmente para autistas. Não se trata de diagnóstico de TEA (transtorno do espectro autista), mas, sim, de um caminho para encontrar os melhores remédios para comorbidades comuns nesses pacientes.

"Fizemos um grande levantamento de literatura e conversamos com diversos médicos, de psiquiatras a neurologistas, para saber quais eram os medicamentos mais difundidos para quem tem TEA. O exame analisa os 52 fármacos mais utilizados para o sistema nervoso central desses pacientes", diz o psiquiatra Guido Boabaid, fundador e CEO da GnTech.

O PsicoGene TEA Pro analisa a reação do corpo a medicamentos antipsicóticos, psicostimulantes, antidepressivos, estabilizadores de humor (voltados ao controle emocional e impulsividade), moduladores do sono e canabinoides. O valor do teste, que pode ser feito em casa, individualmente, e enviado via Correios para o laboratório, é de R$ 2.700.

Analisando o DNA

Defensor do uso do exame, o neuropediatra Rubens Wajsnztejn, diretor da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil, explica como funcionam esses testes. "É por análise do DNA, usando a saliva. Não há precisão absoluta em seu resultado, mas ele rastreia qual é o seu tipo de metabolismo e aponta o fármaco mais favorável para o seu corpo", diz.

O tratamento de um paciente com TEA não é fácil e pode passar por uma grande variedade de medicamentos antes que o médico consiga acertar o remédio ideal para ajudar no TDAH, na ansiedade e na insônia, por exemplo. O que esse exame farmacogenético propõe é oferecer mais assertividade nos consultórios.

Os chamados "pacientes refratários", que já trocaram de medicamentos diversas vezes e ainda não encontraram resultados positivos, podem se beneficiar da análise.

"Esse tipo de teste é importante principalmente no manejo medicamentoso do paciente que tem comorbidades. Ele nos dá a possibilidade de uma abordagem mais personalizada", explica o neuropediatra Flavio Geraldes Alves, especialista no uso de canabidiol.

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Segundo o especialista, quando se entende qual medicamento é recomendado, há menos efeitos colaterais. Muitos pacientes autistas são não verbais e não conseguem relatar os problemas. Assim, é mais fácil acertar e causar menos sofrimento.

"Alguns pais também sentem medo, baseando-se na reação de outros pacientes a determinados medicamentos. Esse tipo de teste pode facilitar a decisão, já que a pessoa muitas vezes irá tratar TDAH, distúrbios do sono e ansiedade, por exemplo", explica Alves.

Wajsnztejn defende que se trata de um teste de alta qualidade. Além de tornar o tratamento mais assertivo, ele ajudará pacientes que precisam passar por diversas trocas de medicamento —reduzindo também o custo desse tratamento.

O geneticista Salmo Raskin, presidente do Departamento Científico de Genética Clínica da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), já não aposta todas as suas fichas nesse tipo de exame. Para ele, ainda faltam algumas evidências científicas antes de se apoiar plenamente em seus resultados.

"O investimento nesse tipo de exame é alto e ainda há muitos estudos sendo feitos sobre ele. Uma das conclusões é de que precisamos de mais análises. Se pegarmos, por exemplo, 50 pessoas que são metabolizadoras mais lentas de um medicamento, elas não reagirão da mesma forma", explica.

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