Bolsonaro teve obstrução intestinal; veja os riscos de ficar sem fazer cocô
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O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) passou por uma cirurgia de 12 horas ontem para tratar uma obstrução intestinal, quadro que dificulta a passagem de gases e fezes. Ele segue em recuperação na UTI do Hospital DF Star, em Brasília.
Quais são os riscos de ficar muitos dias sem fazer cocô?
Quadros de obstrução intestinal parcial ou total, com muitos dias sem a passagem adequada de gases e fezes, causam inchaço abdominal, além das dores. Falta ou diminuição do apetite, náuseas e vômitos, diarreia, ainda mais gases, intestino preso e até febre alta também estão entre os sintomas que podem ser apresentados.
Se não for tratado, este tipo de quadro pode levar a complicações gravíssimas e potencialmente fatais. Entre elas estão perfuração do intestino, peritonite (infecção da cavidade abdominal), sepse (infecção generalizada) e necrose (a morte do tecido da parede intestinal), segundo a tradicional instituição de pesquisa americana Mayo Clinic.
Cerca de 85% das obstruções parciais do intestino delgado são resolvidas sem cirurgia. No entanto, apenas 15% das obstruções completas do intestino delgado não precisam de cirurgia. O diagnóstico do quadro pode ser feito através de exame médico do abdome, radiografias e tomografia computadorizada.
Quando a cirurgia não é indicada, o tratamento pode incluir medicamentos ou procedimentos. Ingestão de líquidos intravenosos e utilização de sonda nasogástrica estão entre estas possibilidades. É possível ainda usar um tubo expansível colocado na obstrução para facilitar o movimento do trato gastrointestinal e medicamentos para combater a inflamação e a dor.
O que causa a obstrução intestinal?
As causas mais comuns são:
- Aderências (causadas por cicatrizes de cirurgias anteriores);
- Hérnias;
- Tumores;
- Diverticulite;
- Corpo estranho (incluindo cálculos biliares);
- Torção do intestino.
Prisão de ventre pode levar à obstrução?
Sim. De acordo com a Cleveland Clinic, outra instituição médica de referência dos EUA, casos de constipação severa podem causar obstrução.
A prisão de ventre é caracterizada por menos de três evacuações por semana, pouco volume, muito esforço e fezes de calibre fino e endurecidas. Acontece quando há uma lentidão nos movimentos peristálticos do intestino, responsáveis por empurrar o bolo fecal do intestino grosso até o reto para ser eliminado.
Além da frequência, volume das fezes repetidamente diminuído, muito esforço para fazer cocô, presença de dores são sinais de alerta. É considerado normal evacuar entre três vezes ao dia e três vezes na semana, sendo que a sensação deve ser de evacuação completa, ou seja, que o cocô foi totalmente eliminado.
Quadro pode evoluir, inicialmente, para o fecaloma, bolo de fezes ressecado e compacto. Ele bloqueia o trânsito pelo reto, provocando desconforto intenso. Nos casos de fecaloma, a evacuação não acontece mais de forma natural, sendo necessária avaliação e intervenção médica.
Casos de constipação crônica (que se estende por mais de 30 dias) podem provocar danos a longo prazo. A passagem de fezes duras ou volumosas pode provocar o aparecimento de pequenos cortes na pele que reveste o ânus, conhecidos como fissuras, que podem gerar dor intensa e sangramentos. O tratamento para fissuras pode ser feito com medicamentos, cremes específicos, supositórios, banho de assento e higiene reforçada. É fundamental ter o acompanhamento médico nestes casos.
Além das fissuras, as hemorroidas também podem ser resultado de episódios de constipação. O esforço e o aumento da pressão durante as idas ao banheiro podem resultar na dilatação das veias da região anal ou do reto, causando ou agravando as hemorroidas. É comum o aparecimento de dor intensa, coceira em volta do ânus e inchaço local. Casos mais graves de hemorroidas podem exigir cirurgias.
O uso de laxantes não deve ser feito sem prescrição médica, para não agravar o quadro. Existem diferentes tipos de remédios desta classe, portanto, é importante que o profissional de saúde verifique qual deles melhor se encaixa em cada situação.
Em 85% dos casos, a prisão de ventre é fruto de uma alimentação inadequada - rica em açúcar, farinha refinada e gordura e pobre em fibras - e da pouca ingestão de líquidos, principalmente água. Além disso, sedentarismo, medicamentos, disfunções hormonais e problemas que afetam a musculatura do intestino podem causar o problema. Este não era o caso do ex-presidente (veja abaixo).
Como foi a cirurgia de Bolsonaro
Laparatomia exploradora para reconstruir parede abdominal foi necessária porque exames mostraram persistência da obstrução. Este quadro foi causado por uma dobra do intestino delgado e é decorrente das cinco cirurgias pelas quais o político já passou desde que tomou uma facada na campanha eleitoral de 2018.
Médicos relataram ter encontrado a parede abdominal de Bolsonaro "bastante danificada". "O presidente tinha um abdome hostil, com muitas cirurgias prévias, aderências causando um quadro de obstrução intestinal. Uma parede abdominal bastante danificada em função da facada e das cirurgias prévias", disse Cláudio Biroloni, chefe da equipe médica.
As aderências, explicou o médico, são comuns em que já passou por cirurgia abdominal. "Se você abrir o abdômen de alguém que nunca teve cirurgia, o intestino é todo soltinho. Em quem já foi operado quatro, cinco, seis vezes, as alças intestinais ficam todas agrupadas", disse. Grande parte das aderências não causa nenhum problema, mas há casos em que elas levam ao que ele chama de suboclusão intestinal, como ocorreu com o ex-presidente.
A cirurgia de 12 horas foi a mais longa feita pelo ex-presidente desde o atentado. O procedimento de ontem teve três etapas, explicou o médico. Foram duas horas para acessar a cavidade abdominal e cinco para liberar as aderências que provocaram a obstrução intestinal, disse Birolini. Por fim, o trabalho de reconstrução levou mais cinco horas, por causa dos cuidados em evitar lesar o intestino.
Bolsonaro está em quarto de UTI e não tem previsão de alta. Segundo os médicos, o ex-presidente precisará de "cuidados muito específicos" no pós-operatório devido à duração do procedimento de ontem. Ele recebe medidas de suporte clínico, nutricional e prevenção de infecções.
Fontes: Joaquim Prado P. Moraes Filho, médico formado pela PUC, professor livre-docente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo com pós-doutorado na Universidade de Londres; Sandra Beatriz Marion, médica e professora adjunta de gastroenterologia PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná); e Fábio Porto, neurologista e especialista em Neurologia Cognitiva e do Comportamento, com doutorado conjunto por Harvard e pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
*Com informações de matérias publicadas em 05/08/2016, 19/11/2019, 30/03/2021, 14/10/2021, 12/09/2023, 03/12/2024, 13/04/2025 e 14/04/2025.
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