'Como 1 kg por refeição': ele levanta 370 kg e começou com sacos de cimento

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As mãos de Willian Brito Piovezan, 24, ficaram calejadas de carregar pesados sacos de cimento dos 12 aos 23 anos. O jovem era capaz de erguer 200 kg do material em uma única levada, sem imaginar que aquele trabalho moldaria o seu futuro.
O que era apenas parte de sua rotina como servente de pedreiro, ajudando o pai e os tios na obra em Nova Granada (SP), revelou um talento incomum: a força descomunal de Piovezan, conhecido como "Bitelo natural".
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Hoje, ele é um dos grandes nomes do powerlifting brasileiro (levantamento de peso), registrando um recorde mundial na categoria júnior (até 23 anos) ao cravar 340,5 kg no levantamento terra, conhecido também como deadlift, exercício que consiste em mover a barra do solo e segurar.
No último final de semana, Bitelo foi campeão do Arnold Sports Festival South America, levantando 370 kg e marcando um recorde pessoal na categoria open (acima de 140 kg).
Dos sacos de cimento para as medalhas
Com apenas 12 anos, Bitelo já trabalhava ao lado da família na construção civil e, aos 15, começou a treinar musculação.
"Com três, quatro meses de treino, percebi que tinha a mesma força da obra na academia", lembra. O jovem rapidamente se destacou ao levantar cargas que exigiam grande experiência e tempo de treino.
Seu pai, Devanir Piovezan, 54, lembra que o filho já apresentava uma força muito fora do comum no trabalho como servente de pedreiro.
Quando eu estava em cima do andaime trabalhando, pedia para ele colocar a massa na carriola. Ele não só colocava como também levantava a carriola com a massa e a colocava em cima do andaime. Isso não era normal, porque outros serventes nunca faziam isso, ninguém fazia, já que é muito pesado. Só levantar a massa já era difícil, imagina colocar tudo de uma vez.
Devanir Piovezan, pai de Willian
A virada de chave veio no fim de 2023, quando um amigo incentivou Bitelo a enviar um vídeo para a Growth, empresa de suplementação esportiva. Mas, para chamar atenção, ele decidiu exagerar um pouco no "currículo".
"Eu falava que tinha 2,15 m, 150 kg e 22 anos. Mas eu nem tinha isso tudo", admite. A farsa foi logo descoberta, mas não diminuiu o impacto que ele causou.
John Sousa, coordenador da Growth, se lembra do momento: "Pensei: esse cara é um absurdo de gigante! Quando pedi um vídeo dele se pesando e medindo, vi que não era tão alto, tinha 2,02 m e 127 kg, mas a força dele era real".
Depois de um teste, a Growth decidiu apostar nele. No início de 2024, ele começou sua preparação profissional e, rapidamente, conquistou títulos.
No campeonato brasileiro, quebrou o recorde mundial de levantamento terra, mas o feito não foi validado por falta de arbitragem oficial. A consagração veio na Colômbia, no Sul-Americano, quando levantou 340,5 kg e garantiu o recorde mundial. No mundial, fez o exercício com 350 kg, foi campeão de sua categoria, mas sem bater recorde.
Salvando a antiga academia
O sucesso no esporte e nas redes sociais mudou a vida de Bitelo e de sua família. Hoje, ele tem uma renda vinda do patrocínio da Growth e de seu canal no YouTube. No Instagram, o atleta tem 2,5 milhões de seguidores.
"O esporte em si não dá tanto retorno financeiro, mas é o que a gente gosta. O patrocínio ajudou a focar 100% nisso", conta Bitelo.
Com esse suporte, ele conseguiu realizar sonhos: comprou uma casa para os pais e "resgatou" a academia onde começou a treinar na cidade natal, adquirindo o negócio para montar o seu próprio espaço.
Com esse esporte, ele pôde mudar nossa vida. Fiquei muito feliz com essa casa que ele comprou para a gente. Nunca imaginei que um dia ele conseguiria comprar, embora sempre acreditasse que essa casa poderia ser nossa, que Deus iria preparar. Mas não esperava que fosse acontecer tão rápido.
Rosangela Piovezan, 52, mãe de Bitelo
"O meu mestre, dono da academia, iria fechar depois de 46 anos de funcionamento. Eu não podia deixar isso acontecer", explica. Assim, nasceu a Bitelo Gym, que ele descreve como "um CT de treinamento, com muito peso e um DNA bruto".
Bitelo hoje mora na região da Mooca, zona leste de São Paulo, mas sua irmã e seus pais administram a academia, recém-inaugurada, juntamente com uma loja de artigos esportivos.
"Sinto muito orgulho do meu irmão por tudo o que vem conquistado, ele sempre foi um menino de um coração muito bom, pensando no outro primeiro. Ele merece tudo isso. Nós nunca imaginamos tudo isso, tanto que a gente ainda não tem noção da proporção de onde ele chegou", diz Lauriane Brito Piovezan, 26, empreendedora.

Recentemente, Bitelo também se tornou uma espécie de garoto-propaganda da Votorantim Cimentos, fechando uma publicidade com a marca, que ainda não entrou em divulgação —os sacos de cimento que ele carregava na infância agora são parte de sua identidade como atleta de força.
35 mil calorias semanais, 1 kg por refeição
A preparação de Bitelo para os campeonatos é intensa. Diferentemente do fisiculturismo, que exige um corpo esculpido, o powerlifting demanda máxima força no dia da competição. Sua dieta inclui cerca de 35 mil calorias semanais, com refeições de aproximadamente 1 kg.
"Antes, comia até 2 kg por vez. Hoje é mais fracionado, mas ainda brutal: 1 kg por refeição. Precisamos estar fortes no dia do campeonato", explica.
Um ponto que Bitelo faz questão de destacar é que é um atleta natural, ou seja, não usa anabolizantes, pratica adotada por alguns atletas tanto no fisiculturismo, quanto em sua categoria.
Seu treino inclui agachamentos de 315 kg, supino com 190 kg e levantamento terra de 350 kg. Mas, apesar da potência, a ansiedade é um desafio.
Fico louco para acontecer logo. Você nunca pega a carga máxima no treino, então bate aquela dúvida: será que consigo? Se falhar, pode morrer esmagado.
Bitelo
Agora, Bitelo planeja alcançar ainda outra marca: chegar aos 400 kg no levantamento terra no powerlifting. Já na categoria strongman, que visa a força bruta máxima, o recorde sul-americano é de Lucas Veronezi, que já conseguiu erguer a carga.
Mundialmente, o recorde do Met-Rx World's Strongest Man, emblemático evento do "homem mais forte do mundo", é do islandês Hafthór Júlíus Björnsson, famoso por interpretar o Montanha, em Game of Thrones. Em 2020, ele levantou 501 quilos.
Nunca imaginei que chegaria até aqui. Quando estava na obra e já treinava, até pensava que poderia acontecer, mas nunca com muita expectativa para não me decepcionar. Acho que o principal é agradecer pelo pouco, que Deus vai te dar muito, respeitar e honrar meus pais.
Bitelo
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