Aos 71, ele faz flexão com 60 kg e superou assassinato da esposa com treino

São 120 kg nas costas para fazer prancha, 60 kg para fazer flexão e tudo isso aos 71 anos.

Esse é mais um dia comum para o aposentado Jorge Shimabukuro, o guerreiro samurai, que abriu seu treino para ser acompanhado pela reportagem de VivaBem.

Adepto da corrida por praticamente toda a sua vida, ele começou a musculação somente aos 60 anos, e isso foi o estopim para o início de outros exercícios de força, resistidos e Krav Maga.

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Forte, ágil e com o corpo extremamente definido (ele tem só 9% de gordura corporal), o guerreiro samurai usou o esporte para o ajudar a sair de uma década depressiva após a morte de sua esposa, assassinada a tiros em um assalto há 23 anos.

Morte, corrida e redenção

Em 2002, a então esposa de Jorge saía da casa de sua mãe quando foi vítima de um latrocínio. Desde então, ele passou a viver um grande luto e uma fase depressiva.

Jorge faz três horas de atividades físicas diárias
Jorge faz três horas de atividades físicas diárias Imagem: Giacomo Vicenzo/UOL
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Na época, nossos filhos tinham 11 e 7 anos. Eles choravam muito no meu ombro, não podia chorar junto e nem demonstrar fraqueza. Meu momento de chorar era no banheiro tomando banho e correndo. Corria até passar mal, sentir vontade de vomitar e ficar tonto.
Jorge Shimabukuro

Ele transformou a corrida em uma maneira de se autoflagelar para aliviar a dor da perda. Em 2010, em um dos treinos, correu por horas seguidas, seu corpo deu sinais, mas ele continuou até desmaiar e cair sobre o asfalto quente.

Foi participando de provas de corrida de rua que Jorge conheceu a sua atual esposa
Foi participando de provas de corrida de rua que Jorge conheceu a sua atual esposa Imagem: Arquivo pessoal

"Quando abri os olhos, vi o céu límpido e uma paisagem bonita. Entendi como um sinal de que vale a pena viver. Decidi que tinha de parar com isso e me cuidar de verdade", conta.

Desde então, passou a dosar a intensidade dos treinos e se inscreveu em corridas de rua de percursos curtos. A nova atividade o fez interagir com mais pessoas e foi quando ele conheceu a cabeleireira Alyne Oushima, 54, sua atual esposa, que à época também corria e o estimulava a treinar.

'Queria deixar de ser franguinho'

Em 2012, Jorge se aposentou do cargo de técnico de telecomunicações, e passou a frequentar mais corridas de rua com Alyne.

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Com o físico menos musculoso, algumas lesões eram recorrentes e amigos recomendaram que ele fizesse musculação. Por cerca de três anos ele relutou, mas foi o incentivo da parceira que o fez buscar as anilhas na academia.

Em 2015, aos 60 anos, Jorge pisou em uma academia pela primeira vez. "Eu odiei, não gostava, achava um pouco parado", conta.

Um dia, chamei ele de franguinho por ele ser muito magrinho, me criticam por isso, mas foi o que fez ele ir para a academia.
Alyne Oushima, 54, esposa de Jorge

Jorge e sua esposa Alyne costumam treinar juntos de duas a três vezes na semana
Jorge e sua esposa Alyne costumam treinar juntos de duas a três vezes na semana Imagem: Giacomo Vicenzo/UOL

O aposentado pegou gostou —hoje, após 10 anos de treino, tem em sua rotina diária cerca de três horas de exercícios, que incluem musculação, crossfit e arte marcial. "Tomo suplementos proteicos, evito frituras, açúcares e não tomo refrigerante."

Mesmo aos 60, quando a conquista dos músculos pode ser mais difícil, Jorge saiu dos 50 kg para 62 kg em 10 anos de treino.

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Você olha para o Jorge hoje e vê que ele tem um ar muito mais feliz. Antes ele estava abatido e depressivo com tudo o que viveu.
Alyne Oushima

Antes e depois de Jorge. Na esquerda com 58 anos e à direita com 71. Ele começou musculação aos 60 e ganhou mais de 10 kg
Antes e depois de Jorge. Na esquerda com 58 anos e à direita com 71. Ele começou musculação aos 60 e ganhou mais de 10 kg Imagem: Arquivo pessoal/Giacomo Vicenzo/UOL

Sucesso nas redes

Alyne criou redes sociais para Jorge, que não era muito ligado à internet, para documentar sua evolução física. E chamou a atenção: conquistou mais de 100 mil seguidores no Instagram.

"Ele tem recebido até mesmo cantadas de homens e mulheres, que dizem que querem encontrá-lo, treinar com ele", diz Alyne aos risos. É ela quem gerencia as redes sociais do marido e garante que não tem ciúmes.

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Bruno Sthefan, médico cardiologista e do esporte que o acompanha há um ano, diz que o caso de Jorge impressiona, pois ele começou a treinar musculação aos 60 anos e mesmo assim alcançou um nível de performance superior ao de muitos jovens.

Isso mostra que nunca é tarde para começar. Ele seguiu o caminho certo: começou com acompanhamento, teve paciência, foi consistente e colheu resultados extraordinários. A atividade física é um dos pilares do envelhecimento saudável. Ela previne doenças crônicas, melhora a mobilidade, a autonomia, o metabolismo e a saúde cardiovascular.
Bruno Sthefan, médico cardiologista e do esporte

O personal trainer Tiago Nascimento, 36, da Academia Horizon, acompanha a rotina de Jorge há seis anos e afirma que ele leva o treino muito a sério.

Jorge e o personal Tiago Nascimento
Jorge e o personal Tiago Nascimento Imagem: Giacomo Vicenzo/UOL

"Ele é muito ativo e, mesmo com algumas limitações de amplitude e de movimento, não deixa de praticar todos os exercícios. A academia passou a ficar até mais cheia, os alunos vêm treinar aqui para vê-lo", afirma o personal.

Dá para acompanhar o guerreiro samurai?

Tenho menos da metade da idade dele (33), sou assíduo na musculação e tentei acompanhar Jorge, o guerreiro samurai, em um treino.

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Começamos com a barra fixa: fiz cerca de 16, enquanto Jorge cravou 30 repetições.

Jorge à esquerda e Giacomo à direita
Jorge à esquerda e Giacomo à direita Imagem: Giacomo Vicenzo/UOL

Em exercícios como a barra de ponta cabeça, Jorge passava de 10 repetições. Eu não consegui me sustentar, pois, além de força, é preciso uma grande potência de resistência, abdominal, lombar e equilíbrio.

No para-brisa, exercício em que se pendura na barra e vira as pernas, como uma paleta de para-brisas, Jorge consegue ultrapassar 10 repetições. Fiz cerca de seis com um pouco de dificuldade.

Na flexão de braço, Jorge encarou com 60 kg nas costas. Já eu aguentei fazer com 40 kg.

Jorge à esquerda com 120 kg nas costas e Giacomo à direita com 60 kg
Jorge à esquerda com 120 kg nas costas e Giacomo à direita com 60 kg Imagem: Giacomo Vicenzo/UOL
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Na prancha, Jorge suportou 120 kg nas costas. Eu resisti com 60 kg, senti que aguentaria um pouco mais. No entanto, é preciso equilíbrio para não derrubar as anilhas.

O resultado, sem dúvidas: Jorge é campeão. Espero ter ao menos metade da disposição quando chegar à idade dele.

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