Tipo mais agressivo de mpox é confirmado em SP: qual a diferença das cepas?

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O primeiro caso de uma nova cepa do vírus mpox em São Paulo foi confirmado pela secretaria estadual de saúde na sexta-feira. Uma mulher de 29 anos teve contato com uma pessoa vinda da RDC (República Democrática do Congo), onde a crise da nova variante ocorre desde 2023.
A cepa é chamada de clado 1b, que foi relatado pela primeira vez no país africano naquele ano. Ela tem um comportamento mais agressivo do que o clado 2b, que causou um surto global em 2022. A OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou a mpox uma emergência de saúde pública de interesse internacional em maio daquele ano e em agosto de 2024.
Qual a diferença entre as cepas?
O clado 1 tende a ser mais grave. A infecção por essa cepa é geralmente mais severa e pode levar à morte, principalmente em pessoas com sistema imunológico enfraquecido. As lesões na pele se espalham por todo o corpo, incluindo o rosto. A taxa de mortalidade pode chegar a 10%.
O clado 2 causa infecção menos intensa. As erupções cutâneas podem aparecer primeiro como poucas feridas ao redor da boca e na região genital. A taxa de mortalidade varia de 1% a 4%.
Cepas aparecem em diferentes regiões. O clado 2 foi encontrado na África Ocidental. Um surto global começou em 2022 e continua até hoje, com mais de 100 mil casos em 122 países. Já o clado 1 causou surtos na África Central e Oriental e tem crescido na RDC (República Democrática do Congo). Mas pela transmissão entre humanos e viagens, tem se espalhado para outros continentes.
Adultos e crianças são afetados de formas diferentes. Na RDC, metade dos casos de mpox são em crianças, infectadas pelo contato com animais e/ou pessoas que moram na mesma casa. Nelas, a doença é mais grave do que em adultos. O clado 2 não é geralmente visto em crianças.
Transmissão também pode variar. O clado 1 é transmitido pela exposição a animais infectados, contato com pessoas infectadas, contato íntimo ou sexual e por objetos contaminados. O clado 2 é principalmente transmitido pelo contato sexual entre pessoas no mesmo sexo. Segundo a OMS, pessoas com múltiplos parceiros sexuais correm maior risco de contrair mpox.
Por que há novas cepas?
Os clados de mpox são subdivididos em 1a, 1b, 2a e 2b. O DNA desse vírus é grande e suas extremidades são regiões que tendem a sofrer muitas mutações.
Não se sabe exatamente por que isso acontece, mas sabe-se que é um vírus disponível amplamente na natureza, entre vários animais, e quando isso acontece, o vírus vai tentar se adaptar a vários hospedeiros.
Celso Granato, infectologista e diretor clínico do Grupo Fleury
Como o DNA já tende a fazer mutações, a adaptação é mais fácil. Assim, o vírus pode passar de animais, como roedores e macacos, para os seres humanos e entre humanos.
O vírus tem sofrido muitas mutações desde 2022. Quando isso acontece, muda também a forma como ele age. Pode se tornar mais transmissível, mais resistente a tratamento e eventualmente escapar da proteção da vacina.
"Como tem um surto acontecendo na República do Congo, especialmente por esse vírus que já sofreu a mutação, muitas pessoas passam a se infectar e isso aumenta a chance de ter mutações", explica o médico. "Isso é uma coisa bem estatística."
Sintomas da mpox
Os mais comuns são:
- Irritação na pele;
- Febre;
- Dor de garganta;
- Dor de cabeça;
- Dores musculares;
- Dor nas costas;
- Baixa energia;
- Gânglios linfáticos inchados.
Segundo Granato, os sintomas são mais severos quando a infecção é pelo clado 1. Esse subtipo pode causar doença mais grave especialmente em pessoas com algum grau de imunodeficiência.
Os sintomas são comuns a outras doenças, por isso o diagnóstico deve ser preciso. A identificação é feita por um teste de laboratório específico, o PCR (RT-PCR e o qPCR), que detecta o vírus nas lesões de pele. É possível fazer o teste nas redes pública e privada — sendo que pelo SUS (Sistema Único de Saúde) pode levar mais tempo, de 72 horas até 7 dias.
O tratamento de pessoas infectadas inclui: hidratação, repouso e cuidados com as lesões na pele, mantendo-as limpas e sem as estourar. "Essas bolhas são cheias de soro, material que pode contaminar outros. A pessoa pode ter infecção de pele por bactérias e fungos, o que pode agravar muito", diz o médico.
Cuidados e prevenção
Para diminuir o risco de infecção ou evitar a transmissão:
- Fique atento aos sintomas e busque atendimento médico;
- Evite contato próximo com pessoas infectadas ou com suspeita de infecção: nada de toque, beijo ou sexo;
- Limite o número de parceiros sexuais;
- Faça uma pausa na atividade sexual com novos parceiros durante períodos de transmissão aumentada;
- Evite compartilhamento de objetos, incluindo roupas de cama e toalhas;
- Não estigmatize a doença: qualquer pessoa pode contrair o vírus;
- Use máscaras;
- Cubra braços e pernas em aglomerações;
- Higienize as mãos.
Granato diz que o período de incubação do vírus é de duas semanas, tempo em que a pessoa pode transmiti-lo sem perceber que está infectada.
Vacina é forma de proteção
A vacina da varíola humana protege contra a mpox. Estudos apontam que a vacinação prévia contra varíola pode ser eficaz contra a mpox em até 85% —isso ocorre porque ambos os vírus pertencem à mesma família e, portanto, existe um grau de proteção cruzada devido à homologia genética entre eles. Mas como a varíola humana foi erradicada há mais de 40 anos, atualmente não há vacinas disponíveis para o público em geral.
Vacina contra mpox foi aprovada no Brasil. A Anvisa aprovou o uso do imunizante conhecido como Imvanex, Imvamune ou Jynneos, produzido pela farmacêutica dinamarquesa Bavarian Nordic. A estratégia de vacinação do Ministério da Saúde prioriza pessoas com maior risco de evolução para as formas graves da doença, como aquelas vivendo com HIV/aids, profissionais de laboratório que trabalham diretamente com o vírus da varíola, pessoas que tiveram contato direto com fluidos e secreções de pessoas suspeitas, prováveis ou confirmadas para mpox.
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