Jornalista da Band descobriu câncer após hemorragia: 'Coágulos enormes'

Diagnosticada com câncer do colo do útero, a jornalista e apresentadora da Band Mirelle Moschella* diz que seu mundo desabou quando recebeu a notícia da doença, em 2020, durante a pandemia: "A tristeza tomou conta de mim, passei por um momento de luto comigo mesma, mas virei a página, criei uma força interior e não permiti que isso me abalasse mais".

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Em remissão há cinco anos, Mirelle, 39, usa sua experiência para conscientizar outras mulheres em relação à doença e faz um apelo para que elas tomem a vacina contra o HPV. A seguir, a meia-maratonista compartilha sua história:

"Tinha acabado de fazer bike em casa quando fui tomar banho e tive uma hemorragia muito forte, saíam coágulos enormes que cabiam na palma da minha mão.

O fluxo era muito intenso, diferente da menstruação. Na hora fiquei nervosa e apavorada, chamei o meu marido, mas não sabíamos o que estava acontecendo.

Liguei para o meu ginecologista, ele suspeitou que pudesse ser um aborto espontâneo, mas eu e meu marido nos cuidávamos, não queríamos ter filhos. O médico me receitou um remédio para parar o sangramento que durou 11 dias.

O médico me encaminhou para uma colega dele e iniciamos uma investigação. Costumava fazer os exames ginecológicos uma vez por ano, mas a última vez havia sido há dois anos, em 2018. Fiz o papanicolau, o ultrassom transvaginal, a colposcopia, e uma conização, em que retiraram um pedaço do colo do útero na forma de um cone, para biópsia.

Sou apresentadora de esportes na Band, lembro que estava gravando quando a médica me ligou e disse: "Mi, preciso falar com você pessoalmente". Meu coração ficou apertado e minha intuição dizia que era algo mais sério.

Eu e meu marido fomos ao consultório dela, ela disse que eu estava com um câncer do colo do útero e que precisava fazer a cirurgia o quanto antes. Tinha 34 anos na época. Fiquei em choque, meu mundo desabou.

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Imagem: Arquivo pessoal

Dar a notícia para os meus pais foi um dos momentos mais tristes e frustrantes para mim. Senti medo, fiquei sensível, passei por um luto de mim mesma e chorei tudo o que podia chorar. No dia seguinte, era uma outra pessoa, não caía uma lágrima, virei a página.

Conheci uma Mirelle fortaleza que até então não conhecia. Ergui minha cabeça e falei: 'Vamos embora. O que eu preciso fazer?'.

Em julho de 2020, fui submetida à primeira etapa do meu tratamento, fiz a retirada total do útero (histerectomia total), com a preservação dos ovários. Na segunda etapa, fiz sessões de radioterapia, braquiterapia e quimioterapia. Sofri com os efeitos colaterais, tive enjoo, náuseas, diarreia, dores no quadril e queda de cabelo.

"Tirei o útero e não tenho filhos"

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Imagem: Arquivo pessoal

Um dos impactos que tive com a retirada do útero é que não posso engravidar. Eu e meu marido não temos filhos, mas esse sempre foi um assunto tranquilo para nós. Ao receber o diagnóstico, pensamos em fazer os procedimentos para congelar os meus óvulos, mas não havia tempo hábil, a prioridade era a cirurgia.

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Meu marido disse uma frase que levo para a vida: 'Antes de pensar num filho, preciso pensar numa mãe'.
No momento em que sentirmos vontade de aumentar a família, temos duas opções, a barriga solidária da minha irmã, que foi generosa e se ofereceu para nos ajudar, ou a adoção. Por enquanto temos sobrinhos e cachorros. Quando chegar a hora, será maravilhoso e nosso filho será amado.

"Não vou morrer de câncer"

O tratamento oncológico é complexo e desafiador, a minha cura aconteceu de dentro para fora. Durante essa fase, adotei algumas estratégias que me fortaleceram mentalmente e me deixaram inabalável.

Uma delas era escrever no espelho do banheiro: 'tudo passa'. Era uma frase simples, mas impactante. Dizia para mim mesma: 'Calma, Mirelle, tenha força e fé, porque tudo vai passar' e passou.

Uma outra coisa que me ajudou foi continuar trabalhando, manter minha cabeça ocupada fazia eu me sentir útil. Também dizia que a doença não me pertencia mais e que não ia morrer de câncer.

Antes do diagnóstico, era uma pessoa ativa, fazia musculação, bike, corrida, ioga e meditação. Parei com algumas atividades por um tempo para focar no tratamento, mas continuei fazendo ioga, meditação e fazia terapia holística.

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Imagem: Arquivo pessoal

A religião, o apoio da família e de amigos próximos também foi extremamente importante.

Atualmente, estou curada, em remissão há cinco anos e faço exames de 1 a 2 vezes por ano. Voltei a praticar atividades físicas e em breve vou começar a faculdade de nutrição.

No futuro, meu objetivo é trabalhar com nutrição esportiva para pacientes oncológicos. A vida é curta demais, quero buscar conhecimento para explorar novos desafios.

"Prestem atenção aos sinais do corpo"

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Imagem: Arquivo pessoal

Só tomei a vacina de HPV em 2024. A imunização é uma das principais formas de prevenir o câncer do colo do útero. A minha mensagem é para que as mulheres se vacinem, façam exames regularmente e prestem atenção aos sinais que o corpo dá quando algo está errado. Não deixe para investigar e buscar ajuda médica depois achando que nunca acontecerá com você."

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Câncer do colo do útero: o que você precisa saber

O câncer do colo do útero é uma doença causada pelo HPV (papilomavírus humano), um vírus transmitido sexualmente entre homens e mulheres. A doença é mais comum em mulheres entre 25 e 49 anos.

Na maioria dos casos, o câncer do colo do útero é assintomático por anos, podendo evoluir silenciosamente por até 10 ou 15 anos. O diagnóstico precoce pode ser feito pelo exame de papanicolaou e pela bópsia.

Quando surgem sintomas, o quadro já costuma estar avançado, afetando o útero, a vagina, as vias urinárias e órgãos vizinhos. Os principais sinais incluem:

Corrimentos sanguinolentos;

Sangramento durante as relações sexuais;

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Hemorragias e odor fétido pela vagina.

A prevenção é possível e pode levar à erradicação da doença. Como o câncer é causado por um vírus conhecido (HPV), existem vacinas eficazes para combatê-lo.

Vacinação: A vacina contra o HPV é a principal ferramenta de prevenção. "A imunização de meninas e meninos entre 9 e 14 anos pelo SUS é fundamental para protegê-los antes do início da vida sexual", afirma o ginecologista Jesus Paula Carvalho, professor associado da Faculdade de Medicina da USP e membro da Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Oncológica da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. "Vacinar também os meninos é essencial para reduzir a transmissão do vírus." Caso você não tenha sido imunizado contra o HPV na infância, ainda pode tomar a vacina até os 45 anos e se beneficiar.

Exames preventivos: Mulheres a partir dos 25 anos devem realizar exames periódicos, como o papanicolaou ou o teste de HPV, para detectar lesões precoces.

Tratamento precoce: Quando identificadas lesões, o tratamento é simples no estágio inicial, mas se torna mais complexo nos casos avançados.

Estratégia Global da OMS: Em 2020, a Organização Mundial da Saúde lançou a "Estratégia Global para a Eliminação do Câncer do Colo do Útero como um Problema de Saúde Pública". O plano se baseia em três pilares: vacinação, exames preventivos e tratamento das lesões. Se essas medidas forem adotadas em larga escala, a previsão é que o câncer do colo do útero deixe de ser um problema de saúde pública até 2050.

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Apesar das medidas preventivas eficazes, o controle da doença enfrenta desafios:

Movimentos negacionistas que espalham desinformação sobre vacinas;

Baixa adesão da população à vacinação, apesar de estar disponível gratuitamente no SUS;

Falta de acesso a exames de rastreamento e tratamentos;

Falta de conhecimento sobre a doença, inclusive entre profissionais de saúde.

*Mirelle Moschella é umas das influenciadoras convidadas da campanha "Março Lilás: por um futuro sem câncer de colo do útero". O objetivo é conscientizar as mulheres sobre a importância da prevenção contra o HPV e o impacto da doença. Trata-se de uma iniciativa da farmacêutica MSD e tem como embaixadora a atriz e apresentadora Fernanda Lima.

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