'Que deselegante': por que às vezes falamos o que não devemos?

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Quem nunca fez um trocadilho infeliz sem querer, soltou um palavrão na hora errada ou chamou alguém pelo nome errado? Políticos, jornalistas e outras figuras públicas viram meme por causa disso. Mas será que é só cansaço?
"Há evidências bem claras, de experimentos, de que o que você está pensando secretamente pode emergir por meio da fala de forma não intencional", conta o norte-americano Benjamin Bergen, professor de ciências cognitivas da Universidade da Califórnia (EUA).
Atos falhos renderam estudo
Num dos testes citados por Bergen, estudantes do sexo masculino tinham que ler pares de palavras complicadas bem rápido e sem errar. O pesquisador, então, era trocado por uma garota jovem com roupa provocante. Com a moça em cena, os rapazes cometeram muito mais erros, além de trocarem muitas palavras por similares com sentido apimentado ("coxa grossa" em vez de "colcha rosa", por exemplo).
"Quando cometemos erros de fala, é mais provável que eles sejam inócuos, pois nossos cérebros têm um monitor interno que percebe o que estamos prestes a dizer e pisa no freio se for algo que é tabu", explica o professor. É o nosso lobo frontal em ação, segundo ele, sem que a gente se dê conta.
Mas o nosso guardião se enfraquece em algumas situações: "Estudos em laboratório evidenciam que muitos fatores aumentam erros de fala, como fadiga, estresse, uso de álcool, pressa e emoções", avisa.
É possível evitar?
Difícil. Mas algumas dicas de quem estuda o assunto podem diminuir o risco de gafes:
Procure dormir melhor

O psiquiatra Luiz Sperry destaca que erros de fala podem ser causados por fatores como cansaço ou outras situações, e que dormir melhor pode ajudar a evitar que conteúdos reprimidos surjam devido ao enfraquecimento das defesas do ego. Isso evitaria, por exemplo, trocar o nome do seu atual namorado pelo do ex.
Treine técnicas de memorização

Confundir o nome de amigos, como chamar Roberto de Ricardo, pode ser causado por cansaço, lembranças anteriores ou um fenômeno psicológico chamado "controle de estímulos", onde algo na conversa faz você se lembrar de outra pessoa. Segundo o psicólogo Fábio Caló, esse erro pode ser desencadeado por estímulos contextuais, visuais ou auditivos. Além disso, nomes próprios são mais difíceis de lembrar por serem arbitrários e pouco repetidos. Técnicas de memorização, como associar o nome a uma imagem, podem ajudar a evitar esses esquecimentos.
Faça meditação, mindfulness e terapia

Às vezes, por nervosismo ou impulsividade, as pessoas acabam dizendo exatamente o que tentaram evitar, pois o pensamento estava presente em sua mente. Isso é explicado pela ideia do escritor russo Dostoiévski e confirmada por um experimento do professor de psicologia da Universidade de Harvard Daniel Wegner, onde ao tentar não pensar em um urso polar, as pessoas se lembravam dele o tempo todo. Wegner sugere que práticas como meditação mindfulness ou exposição controlada (falar sobre o que se quer evitar em um ambiente seguro, como uma terapia) podem ajudar a suprimir esses pensamentos indesejáveis.
*Com informações de reportagem publicada em 11/03/2019
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