'Foi um choque': como pessoas podem ter dois tipos de diabetes?

O carioca Thiago Elias Silva tinha 17 anos quando descobriu ter diabetes tipo 1. "Na época, cheguei a perder 15 quilos em uma semana. Lembro que sentia uma sede infindável. Bebia cerca de cinco a seis litros de água por dia."

Após o diagnóstico, começou o tratamento, tomando medicação e recebendo insulina. "Mas com um tempo não fui levando muito a sério o tratamento. Passei a engordar e cheguei à marca dos 156 quilos na balança", conta.

Foi o estopim para que ele desenvolvesse mais um tipo de diabetes, o tipo 2. "Na hora foi um choque, mas percebi que precisava mudar", diz. Thiago então mudou seu estilo de vida e resolveu fazer uma cirurgia bariátrica. "Hoje, levo uma vida normal. Faço acompanhamento médico, atividades físicas e tomo minha medicação corretamente", comemora o carioca de 40 anos.

Por que dois tipos ao mesmo tempo

Quando o paciente tem deficiência de insulina (sintoma típico do diabetes tipo 1) combinado à resistência ao hormônio (sintoma típico do diabetes tipo 2), ele desenvolve o chamado "diabetes duplo", ou seja, os dois tipos de diabetes ao mesmo tempo.

No tipo 1, o sistema imunológico do paciente ataca e destrói as células do pâncreas, responsável pela produção de insulina. Com isso, a pessoa passa a necessitar de várias doses de insulina por dia. "Normalmente, a pessoa diagnosticada com o diabetes tipo 1 costuma perder peso, urina muito e fica constantemente cansada", explica o médico endocrinologista Fernando Valente, diretor da SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes).

O arquiteto Marcelo Gino, 50, tem diabetes duplo
O arquiteto Marcelo Gino, 50, tem diabetes duplo Imagem: Arquivo pessoal

Mas se esse paciente tem pressão alta, colesterol e triglicérides elevados, sobrepeso e obesidade, predisposição genética, pode desenvolver o tipo 2 da doença. Nele, o corpo não produz insulina suficiente ou as células do corpo não reagem ao hormônio. "Existe uma dificuldade de a insulina ter efeito, pois existe uma resistência a esse hormônio", aponta Odair Alves, professor do Instituto de Ciências Biológicas e de Saúde da UFAL (Universidade Federal de Alagoas).

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A combinação dos tipos é perigosa e complexa. "Ao mesmo tempo que é indispensável fornecer insulina para compensar a baixa reserva natural causada pelo tipo 1, é necessário evitar altas dosagens para não piorar o quadro de excesso de peso desses pacientes", diz Valente.

Formigas no vaso

O arquiteto Marcelo Gino, 50, também tem diabetes duplo. Ele descobriu a doença aos 34 anos. "Na época, fazia muitas viagens de avião entre São Paulo e Rio de Janeiro. Nesse trajeto, de cerca de meia hora, chegava a ir três vezes ao banheiro da aeronave. Mas até então fui levando."

Com o tempo, Gino passou a ter mais sintomas. Formigas apareciam no vaso sanitário após ele urinar e sua garganta ficava extremamente seca, mesmo tendo acabado de beber água. "Em um almoço cheguei a tomar dois litros de refrigerante sozinho. Naquele dia, minha esposa falou: 'Não dá mais, você tem que ir ao médico'", conta o arquiteto.

Foi então que ele procurou ajuda especializada e descobriu o diabetes. "Para minha surpresa, não foi apenas um, mas sim dois diabetes", conta.

Gino tem deficiência de insulina, com seu pâncreas, inclusive, tendo parado de funcionar. Além disso, devido ao ganho de peso ao longo da vida, ele desenvolveu resistência ao hormônio. "Quando descobri ter diabetes, eu fumava e consumia com frequência bebida alcoólica. Hoje, mudei totalmente meu modo de vida. Parei de fumar, diminui o consumo de álcool e faço atividades físicas regularmente", comemora o arquiteto.

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O arquiteto Marcelo Gino "mudou totalmente seu modo de vida" após o diagnóstico
O arquiteto Marcelo Gino "mudou totalmente seu modo de vida" após o diagnóstico Imagem: Arquivo pessoal

Muitos pacientes com diabetes tipo 2 e excesso de peso deixam de ter os sintomas da doença após serem submetidos à cirurgia bariátrica ou de redução do estômago. Caprichando no estilo de vida saudável, é possível até reduzir o número de medicamentos tomados e viver sem medo de sequelas. Quanto ao tipo 1, a doença é crônica e exige acompanhamento multidisciplinar pela vida inteira, mesmo que a glicemia esteja controlada.

É possível se prevenir?

Joana Dantas, diretora do Departamento de Dislipidemia e Aterosclerose da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), diz que a melhor forma de prevenir o diabetes tipo 2 é ter bons hábitos de vida. "Já quanto ao diabete tipo 1, infelizmente ainda não temos uma forma de prevenção", diz.

Valente lista algumas atitudes que podem ajudar na prevenção do diabete tipo 2 (que acomete 90% dos pacientes):

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Estilo de vida: é recomendado adotar um estilo de vida saudável, evitando o sobrepeso e a obesidade, principais fatores de risco para ter diabetes;

Alimentação: evite gordura saturada e outros tipos, que podem causar inflamação no corpo. O ideal é consumir fibras, frutas sólidas, evitando também refrigerantes adoçados;

Sono: ter um sono adequado, tanto em qualidade, quanto em quantidade também ajuda na prevenção;

Exames de rotina: todo mundo que tem 35 anos ou mais tem que fazer um exame de glicose. Isso porque o próprio envelhecimento já é um fator de risco para desenvolver diabetes;

Histórico familiar: se a pessoa já tem um familiar com diabetes, deve redobrar os cuidados, pois os riscos de desenvolver a doença são maiores.

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