Por que 'barriga de chope' é perigosa para a saúde até de quem 'é magro'

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"Você não está gordo, tem só uma barriguinha de chope." Quando o assunto é gordura corporal e saúde, muitas pessoas costumam olhar só para os quilos na balança e ignoram algo muito importante: o tamanho da barriga.
A gordura em excesso na região do abdome, popularmente chamada de barriga de chope, oferece grandes riscos para o organismo, até mesmo de quem é considerado "magro": ou seja, está com o peso/IMC considerado normal. Isso porque essa gordura, conhecida como visceral, acumula-se entre órgãos vitais e prejudica o funcionamento deles.
Nosso corpo estoca dois tipos principais de gordura, com diferentes impactos no organismo:
Gordura subcutânea É encontrada logo abaixo da pele, sendo visível e palpável em áreas como coxas, glúteos, braços e abdome. Na região da barriga, é aquela gordura mais "mole", que fica nos flancos e acima do quadril, o famoso "pneuzinho". Ela serve como uma reserva de energia e proteção térmica, e seu impacto na saúde é menos preocupante —mas é claro que, em casos de sobrepeso e obesidade, também é prejudicial.
Gordura visceral Acumula-se na região abdominal, entre os órgãos internos e vísceras como fígado, intestinos, pâncreas e até o coração, liberando substâncias inflamatórias que prejudicam a função do organismo e aumentam o risco de doenças graves. Esse tipo de gordura é caracterizado pela popular barriguinha de chope, dura e volumosa, que parece estar permanentemente inchada.
Atenção: a associação do formato da barriga ao tipo de gordura acumulado é um exemplo generalista. Você deve buscar orientação de um profissional da saúde para o diagnóstico correto.
A maioria das pessoas com obesidade tem gordura visceral em excesso. Mas, como falamos, até mesmo quem está dentro de IMC considerado normal pode apresentar o problema, pois o acúmulo do tipo de gordura tem como origem fatores genéticos.
"Há pessoas que acumulam gordura de forma mais distribuída pelo corpo (a subcutânea) e pessoas que acumulam mais gordura na região abdominal, especialmente homens", explica Alex Meller, médico urologista e professor da Escola Paulista de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Por que é tão perigosa?
O tecido adiposo (gordura) libera substâncias inflamatórias, como citocinas e adipocinas, que podem provocar uma inflamação crônica.
No caso da gordura visceral, essa inflamação vai atingir órgãos vitais que estão na cavidade abdominal, prejudicando seu funcionamento adequado. Conforme explicou Giovanna Carpentieri, endocrinologista pela Unifesp, o quadro vai gerar alterações metabólicas no organismo, como a resistência à insulina e aumento da pressão arterial, que estão relacionadas a diferentes problemas de saúde:
- Diabetes tipo 2
- Doenças cardiovasculares (infarto, AVC)
- Esteatose hepática (gordura no fígado)
- Síndrome metabólica
- Inflamação crônica
- Desequilíbrios hormonais
- Maior risco de câncer
- Complicações respiratórias
- Declínio cognitivo
- Risco aumentado de morte prematura
O acúmulo de gordura no fígado, por exemplo, uma das situações mais comuns, pode causar inflamações, que, com o tempo, tornam-se lesões e cicatrizes. "Os casos mais graves podem chegar a um quadro de cirrose hepática e até de câncer", destaca a endocrinologista Débora Mello.
Sempre tem relação com o consumo de álcool?

Apesar de ser chamada popularmente de "barriga de chope", a gordura visceral não está necessariamente ligada à ingestão de álcool. Uma pessoa que não bebe e tem uma alimentação ruim, repleta de alimentos ultraprocessados, açúcares, carboidratos refinados e fast-food, também tende a desenvolver a gordura visceral, especialmente se tiver uma genética favorável para isso.
Mas é claro existe relação entre beber (cerveja ou outros drinques) com o problema, pois o álcool fornece muitas calorias vazias (que não são acompanhadas nutrientes) e favorecem o acúmulo de gordura no corpo —visceral e subcutânea.
"A bebida ainda interfere no metabolismo, fazendo com que o corpo queime menos gordura enquanto prioriza a metabolização do álcool", explica Renato Zilli, endocrinologista do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
Como diminuir a gordura visceral?

Não existe uma tática para queimar gordura especificamente de uma parte do corpo. Então, seja para quem está com obesidade, seja para quem está no peso normal e tem excesso de gordura visceral, a principal conduta é adotar mudanças no estilo de vida:
- Manter uma dieta rica em alimentos naturais: carnes, ovos, verduras, legumes, frutas e grãos integrais;
- Evitar o consumo de alimentos ultraprocessados e açúcar;
- Não ingerir álcool;
- Praticar exercícios físicos regularmente;
- Dormir bem;
- Controlar o estresse;
- Buscar ajuda psicológica e psiquiátrica para tratar possíveis casos de compulsão alimentar.
Fontes: Alex Meller, urologista, professor da Escola Paulista de Medicina da Unifesp e membro do corpo clínico do Hospital Vila Nova Star; Débora Mello, formada em medicina pela Faculdade de Medicina de Petrópolis/RJ, especializada em clínica médica pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e com título de especialista e membro titular da Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia); Giovanna Carpentieri, médica endocrinologista e doutora em obesidade/endocrinologia pela Unifesp; Renato Zilli, endocrinologista e membro do corpo clínico do Hospital Sirio Libanês, em São Paulo.
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