O que oncologistas fazem para prevenir câncer? Nós perguntamos a eles

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Prevenir o câncer é uma preocupação crescente, mas nem sempre sabemos por onde começar. Para mostrar que mudanças simples no dia a dia podem fazer a diferença, conversamos com oncologistas, que compartilharam suas rotinas e hábitos pessoais para manter a saúde e minimizar os riscos da doença.
São medidas acessíveis e fáceis de adotar, baseadas tanto em evidências científicas quanto na experiência prática desses especialistas. "A prevenção através de mudanças no estilo de vida pode reduzir em até 40% o risco de desenvolver a doença", diz Isabella Drumond Figueiredo, médica oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein.
Veja o que eles relataram a seguir.
1. Não fumar
Dados do Inca (Instituto Nacional de Câncer) apontam que fumantes têm até 20 vezes mais riscos de desenvolver câncer de pulmão em comparação com não fumantes. O cigarro também é responsável por cerca de 30% das mortes relacionadas ao câncer no mundo. "Não fumar protege não apenas contra o câncer de pulmão, mas também contra tumores da boca, esôfago, pâncreas, entre outros", afirma Roger Akira Shiomi, médico pela UFPR (Universidade Federal do Paraná).
Vale lembrar que os cigarros eletrônicos, amplamente difundidos entre jovens, têm as mesmas substâncias cancerígenas do cigarro convencional, além dos aromatizantes que também têm potencial cancerígeno. "Não existe recomendação de dose tolerável para o tabaco", alerta Daniel Buttros, médico mastologista, pesquisador da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e membro da SBEM (Sociedade Brasileira de Mastologia).
2. Praticar atividade física regularmente
Movimentar o corpo é uma das maneiras mais eficazes de reduzir o risco de câncer, além de melhorar o bem-estar geral. A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda que os adultos dediquem pelo menos 150 minutos por semana a atividades físicas de intensidade moderada ou 75 minutos se for de alta intensidade.
"Três vezes por semana estou na academia, combinando musculação com exercícios aeróbicos. Uma vez na semana jogo futebol com amigos e familiares, em um misto de esporte com socialização. Nos finais de semana, adoro caminhar ou correr com minha namorada e nosso pet. A atividade física também é uma grande aliada da saúde mental", conta Roger Shiomi.

3. Ter uma alimentação equilibrada
Segundo Carlos Henrique dos Anjos, médico oncologista do hospital Sírio-Libanês, uma dieta rica em frutas, verduras, legumes e grãos integrais e pobre em gorduras saturadas está associada a uma menor incidência de cânceres, como colorretal, mama e próstata.
"Estudos indicam que o consumo elevado de fibras pode reduzir o risco de câncer colorretal em até 25%, enquanto alimentos ultraprocessados estão ligados a um aumento significativo no risco de diversos cânceres. Além disso, órgãos como a Asco (Sociedade Americana de Oncologia Clínica) destacam os efeitos protetores de compostos bioativos encontrados em vegetais crucíferos, como brócolis e couve-flor", explica.
4. Evitar o consumo de carnes processadas
As carnes processadas, como salsicha, bacon, presunto e embutidos, são classificadas pela OMS como um carcinógeno do Grupo 1, o que significa que há evidências suficientes de que podem causar câncer. "A sugestão é limitar o consumo e optar por outras formas de proteína, como peixes, aves, leguminosas e fontes vegetais", recomenda Daniel Buttros.
5. Usar protetor solar
A radiação ultravioleta é o principal fator de risco para cânceres de pele, incluindo o melanoma, que é o tipo mais agressivo. Segundo os NIH (Institutos Nacionais de Saúde dos EUA), uma em cada cinco pessoas desenvolverá câncer de pele ao longo da vida.
Medidas preventivas incluem o uso de protetor solar com FPS 30 ou superior, reaplicação a cada duas horas, uso de roupas protetoras, chapéus e óculos de sol, além de evitar a exposição direta entre 10h e 16h. "Importante aplicar no rosto, orelhas, pescoço, braços, mãos e todas as áreas expostas, mesmo em dias nublados", lembra Isabella Figueiredo.
6. Evitar álcool
O consumo excessivo de álcool está associado ao aumento do risco de alguns tipos de câncer, entre eles os tumores de cabeça e pescoço, mama, fígado, intestino e reto. Recentemente, o álcool foi considerado uma substância carcinógena tipo 1, ao lado de substâncias popularmente conhecidas como o tabaco e o amianto.
Segundo Daniel Buttros, a relação do risco de câncer está diretamente relacionada com a quantidade de álcool consumida. "O ideal é álcool zero, porém até duas taças de vinho (150 ml cada) ou duas cervejas (350 ml cada) por semana são toleráveis. Acima disso o risco para câncer é cumulativo", diz.

7. Evitar bebidas adoçadas artificialmente
O consumo de bebidas açucaradas, como refrigerantes, sucos industrializados e energéticos, tem sido associado a vários problemas de saúde, incluindo um aumento potencial no risco de câncer. "Embora não se possa apontar uma relação causal direta, a suspeita científica se baseia na formação de um quadro de inflamação crônica desencadeada pela obesidade e a resistência insulínica. Optar por água, chás não adoçados ou sucos naturais em porções moderadas pode ser uma alternativa mais saudável", sugere Daniel Buttros.
8. Ter um sono regular
De acordo com Débora Dornellas, oncologista clínica no Hospital Israelita Albert Einstein, dormir bem fortalece o sistema imunológico, tornando o corpo mais resistente a infecções e doenças crônicas. "Um sono com qualidade e horas suficientes é muito importante para reparar o corpo e a mente. A privação de sono pode provocar fadiga crônica, irritabilidade, redução do bem-estar geral, ganho de peso e doenças neurodegenerativas", afirma.
9. Manejar o estresse
Altos níveis de estresse podem afetar negativamente o sistema imunológico e levar a hábitos prejudiciais, como má alimentação e sedentarismo. "Técnicas como meditação, exercícios de respiração e momentos de lazer são formas de gerenciar o estresse de forma saudável", sugere Virginia Moreira, médica pela Universidade Federal de Alagoas.
10. Manter o cartão de vacinação atualizado
As vacinas ajudam a prevenir doenças e isso inclui o câncer também. A vacinação contra HPV previne contra câncer de colo de útero, ânus, garganta, boca, orofaringe, pênis e vulva.
"Mesmo que a recomendação mais recente do Ministério da Saúde seja para meninos e meninas dos 9 a 14 anos, pois é mais eficaz antes do início da vida sexual e antes de ter contato com alguns subtipos virais que causam câncer, adultos também podem se beneficiar em alguns casos específicos. A vacinação contra hepatite B, por exemplo, protege contra o câncer de fígado. Essa vacina faz parte do calendário infantil, mas adultos não vacinados devem ser imunizados", ressalta Isabella Figueiredo.
11. Realizar exames de rotina
Carlos Gil Ferreira, presidente do Instituto Oncoclínicas, lembra da importância de estar sempre atualizado com os testes de rastreamento para alguns tipos de câncer, como o de mama, o colorretal, o de colo uterino e o câncer de pulmão, para pacientes que fumam ou fumaram. Para Débora Dornellas, é preciso também se atentar aos sinais do corpo. "Se algo me incomoda de forma persistente, busco um colega médico para que realize um exame físico e direcione o melhor exame. Quanto mais precoces os diagnósticos, maiores as chances de cura", enfatiza.
Todos esses hábitos não apenas diminuem os riscos de câncer, mas também contribuem para uma vida mais longa e saudável. Cultivá-los é um investimento no bem-estar presente e futuro. No entanto, Virginia Moreira lembra que a saúde é um equilíbrio. "Nem sempre será possível cumprir todos esses pontos à risca, e isso é normal. O essencial é buscar consistência e fazer escolhas que, no conjunto, promovam o bem-estar físico e emocional", diz.
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