Vacina da dengue: 2 doses podem custar R$ 1.000, mas quem quer não acha

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Desde o ano passado, quando teve dengue, a designer Andrea Lourenço, 52, está em busca da vacina contra a doença. Ela já foi a mais de 10 clínicas particulares em São Paulo, incluindo o interior do estado. "Já deixei meu nome na lista, mas não tem previsão de chegada. A falta dessa vacina me preocupa bastante", conta a VivaBem.
O imunizante está disponível no SUS apenas para a faixa etária de 10 a 14 anos, e quem procura na rede particular não consegue encontrá-lo. As duas vacinas aprovadas no Brasil são as seguintes:
QDenga (Takeda): aplicada no SUS apenas para 10 a 14 anos. Pela rede privada, podem tomar a vacina crianças a partir de 4 anos de idade, adolescentes e adultos até 60 anos. Quem já teve e quem não teve dengue pode tomar. O esquema é de duas doses, com intervalo de três meses.
Dengvaxia (Sanofi): apenas particular, não está no SUS. Na rede privada, é indicada apenas para crianças a partir de 6 anos de idade, adolescentes e adultos até 45 anos. O imunizante é recomendado somente para pessoas que já tiveram dengue (soropositivos). O esquema é de três doses, com intervalo de seis meses.
Andrea foi atrás apenas da QDenga, devido ao limite da idade do outro fabricante. "Encontrei pelo valor de R$ 500 a dose. A outra [Dengvaxia] estava mais em conta, cerca de R$ 300 a dose", diz. O preço da QDenga pode variar de acordo com o ICMS de cada estado. Duas doses podem chegar a custar R$ 1.000.
Cenário de desabastecimento
O caso de Andrea não é isolado. De acordo com Fabiana Funk, presidente do conselho da ABCVAC (Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas), a vacina da Takeda, especificamente, está em falta nos serviços privados.
"Há uma falta generalizada da vacina. São poucas as doses disponibilizadas para os serviços privados, que não dão conta da demanda", diz.
Funk explica que a incorporação da QDenga ao PNI (Programa Nacional de Imunizações) foi muita rápida e, com isso, a fabricante não conseguiu dar conta da demanda nacional.
Por isso, o que nós temos hoje é um cenário de desabastecimento. O laboratório fornece, para poucas clínicas de vacinação, cerca de 10, 20 doses por mês. Para a grande demanda de serviços particulares, não há vacina. Sou de Chapecó, em Santa Catarina, e aqui tem clínica com fila de espera de 2.500 pessoas.
Fabiana Funk, presidente do conselho da ABCVAC
A SBAC (Sociedade Brasileira de Análises Clínicas) também se diz preocupada com o desabastecimento nacional da vacina da dengue —para farmácias, clínicas e laboratórios.
Em nota a VivaBem, Karina Lorena Meira Fernandes Chiuratto, farmacêutica e consultora científica da SBAC, fala que situação atual exige "um esforço conjunto entre setor privado, público e população para garantir que todos tenham acesso à proteção mais eficaz disponível contra a doença".
A combinação da dificuldade no acesso às vacinas na rede privada e a baixa adesão vacinal na rede pública (pela falta de percepção de risco entre as populações mais jovens e de seus responsáveis) ampliam ainda mais os desafios no combate à dengue.
Karina Lorena Meira Fernandes Chiuratto, consultora da SBAC
O que dizem as farmacêuticas
A Takeda não usa o termo "desabastecimento" em nota enviada a VivaBem. No entanto, a farmacêutica diz que, de fato, o número de doses disponibilizadas ao setor privado é limitado. Além disso, a fabricante reforça que a prioridade, no momento, é o SUS e a segunda dose de quem iniciou o esquema de imunização na rede particular.
É importante esclarecer que a gestão das doses disponíveis no sistema privado é de responsabilidade das clínicas e farmácias, enquanto a Takeda está empenhada em viabilizar o fornecimento necessário para completar o esquema vacinal daqueles que já receberam a primeira dose.
Takeda, em nota
Já a Sanofi diz que a produção da vacina "está alinhada com a demanda do mercado". O imunizante, de acordo com a farmacêutica, está sendo comercializado normalmente e encontra-se à disposição dos estabelecimentos privados de vacinação e também dos distribuidores especializados do segmento.
Tire suas dúvidas sobre a vacina
A vacinação na rede pública é para crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, seguindo recomendação do Ministério da Saúde. Segundo a pasta, o grupo concentra o maior número de hospitalizações por dengue, atrás apenas dos idosos. Para a faixa etária dos idosos, porém, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) ainda não liberou o imunizante, por falta de estudos.
Nem todas as cidades têm vacinas disponíveis. Anvisa, Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) e Conasems (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde) definiram critérios para a distribuição das doses, priorizando regiões com alta transmissão nos últimos dez anos, cidades de grande porte e alta incidência recente. É possível ver a lista neste link. A vacina na rede pública é aplicada em duas doses.
O Ministério da Saúde afirma que segue avaliando a ampliação dos municípios contemplados. Segundo a pasta, todo o estoque disponível foi adquirido: 6,5 milhões de doses em 2024 e 9,5 milhões para 2025. Até o momento, foram distribuídas mais de 6,5 milhões de doses, com 3.294.344 aplicações —2.349.369 de primeira dose (D1) e 944.975 de segunda dose (D2).
Para receber o imunizante na rede pública, basta ir à UBS do bairro. O paciente precisa estar acompanhado de um responsável, levando documento de identidade, cartão de vacina (pode ser emitido na hora) e comprovante de residência ou escolar.
A vacina da Takeda (QDenga), disponível no SUS, tem duas doses, com intervalo de três meses. A primeira dose da vacina já oferece uma proteção "bem elevada", explica a presidente da Sbim (Sociedade Brasileira de Imunizações), Mônica Levi. No entanto, é fundamental tomar a segunda dose, que vai manter a proteção de longa duração.
Até o momento, não há orientação de dose de reforço para quem já completou o esquema. De acordo com Levi, os estudos em "vida real" estão sendo acompanhados e, por isso, ainda não é possível saber por quanto tempo a vacina da dengue protege as pessoas —se será necessária uma dose de reforço ou se o imunizante vale por 10, 15 anos ou mais.
A vacina pode causar dor no local da aplicação. É possível ter febre, dor de cabeça, além de coceira e edema (inchaço) na região. Efeitos do imunizante costumam aparecer na segunda semana após a aplicação. "As reações alérgicas que vimos causaram inchaço, principalmente nos olhos, e urticária. Mas todos os pacientes foram tratados e estão bem, sem óbitos registrados", explica Levi.
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