Proteínas de montão: Europa libera alimentação com pó de 'verme da farinha'

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A União Europeia reconheceu insetos como fonte alternativa de proteína, aprovando para a alimentação humana o uso de pó de larvas de tenébrio (Tenebrio molitor), conhecido como o "verme da farinha" — por ter como uma de suas fontes de alimentação o trigo.
O que é aconteceu?
Após avaliação científica, a EFSA (Autoridade Europeia para Segurança Alimentar) assegurou que o alimento é seguro para consumo humano. A partir disso, a União Europeia decidiu autorizar a comercialização e inclusão da farinha de tenébrio em produtos alimentícios.
Farinha de tenébrio poderá ser adicionada em pequenas quantidades a pães, bolos, macarrão e produtos processados de batata ou queijo. Prática de acrescentar insetos na alimentação já é muito forte nos Estados Unidos, Ásia e também na Europa.
Uso de pequenos insetos não é novidade. No Brasil é comum encontrar em alimentos o corante carmim, que é um pigmento alimentar extraído de insetos.
Existem benefícios?
Benefícios variam de acordo com a fase de vida do inseto. De acordo Roberta Thys, professora do Laboratório de Tecnologia de Cereais do Instituto de Ciência e Tecnologia de Alimentos da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), o teor de proteínas e outras substâncias são mais predominantes ainda na fase de larva.
Farinha feita da larva do bicho-da-farinha possui mais proteína que carnes. Cada 100 g de pó de tenébrio tem 66,5 g de proteína. Na carne bovina são 40,5 g. As carnes suínas e avícolas concentram 27,7 g e 54,7 g, respectivamente.
Tenébrio possui muito menos gordura que a carne de animais. Segundo Thys, o teor lipídico da larva é bem mais baixo, diferentemente das outras fontes de proteína antes citadas, que possuem em sua composição gordura saturada — que pode aumentar o colesterol.
Pó de larvas também possui maior concentração de minerais. Cálcio, potássio, magnésio, fósforo e ferro são mais presentes na matéria das larvas que em carnes. Veja na tabela abaixo:
Impacto ambiental do consumo do pó de larva é bem menor. Thys conta que a quantidade de água para a produção de um quilo da farinha de tenébrio é muito menor que de um quilo de carne. Além disso, é uma opção para reduzir a emissão de gás metano das criações de gado bovino e suíno.
Estima-se que vamos ter aí em torno de 10 bilhões de pessoas [na Terra] até 2050, então nós vamos ter que aumentar essa oferta de alimentos, e muito fortemente. O tenébrio e outros insetos seriam uma opção
Roberta Thys, professora da UFRS
Por que é proibido no Brasil?
Não é proibido comer insetos no Brasil. Porém, a Anvisa só não permite a venda de alimentos à base de inseto sem autorização. São liberados pela agência reguladora apenas para a alimentação de animais como pássaros e pequenos répteis.
Maior obstáculo pode ser sanitário. Thys, que é coordenadora do laboratório e faz experiências com farinhas do tenébrio e de outros insetos, diz que é preciso muita atenção no cultivo e preparação dos alimentos à base deles.
Preço também pode influenciar consumidores na hora da escolha. Para a especialista, escalar a produção dos insetos seria a melhor saída para evitar preços altos como os praticados em diversos lugares do mundo. Em alguns sites nacionais, a farinha de larva de tenébrio para ração animal pode chegar a quase R$ 140 o quilo.
Senso comum ocidental sobre o consumo de insetos ainda é contrário à prática. Thys conta que em uma pesquisa feita pela UFRS já constatou que insetos e suas larvas in natura ou preparações com eles ainda inteiros não são bem aceitos para consumo do brasileiro. Já insetos transformados em farinha possuem melhor aceitação.
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