'Como vela derretendo': Ozempic aumenta busca por procedimentos estéticos

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O rápido emagrecimento causado pelo Ozempic (ou medicamentos semelhantes) têm chamado a atenção de dermatologistas. O motivo é que, ao perder peso de forma abrupta, a pele do corpo também é afetada —o que inclui não só o rosto, mas também o bumbum.
O assunto foi tema do durante o Imcas 2025, o Congresso Internacional de Dermatologia, Cirurgia Estética e Plástica, no final de janeiro, em Paris, na França. Os impactos causados por esses medicamentos foram citados como uma das preocupações dos médicos que atendem os pacientes após o emagrecimento.
Com a popularização das medicações, é uma demanda que realmente vem crescendo nos últimos dois anos. Os pacientes estão criando uma consciência dos efeitos do emagrecimento rápido no rosto e no corpo. Bruna Vallcorba, dermatologista e palestrante no congresso
De acordo com um novo estudo da empresa Galderma, cerca de 62% dos pacientes que utilizam medicamentos à base de análogos do hormônio GLP-1 para perda de peso, como Ozempic e Wegovy, buscam tratamento estético por recomendação médica.

Principais resultados do estudo
O estudo da Galderma incluiu mais de 1.000 homens e mulheres, com idade entre 25 e 65 anos, que utilizam medicamentos para perda de peso, nos Estados Unidos, Brasil, Europa e Oriente Médio. A proposta era compreender o impacto estético da perda de peso por uso de medicamentos na pele.
O que a pesquisa revelou:
48% relataram mudanças faciais significativas devido ao tratamento para perda de peso;
Mulheres na menopausa, em particular, apresentaram maior flacidez, rosto mais fino e pele menos radiante;
45% disseram que a flacidez da pele no rosto e pescoço é frequentemente observada após a perda de peso, com mudanças faciais tipicamente aparecendo entre três e seis meses após o início do tratamento; às vezes, entre um e dois meses (28%);
Um terço dos que consideraram os tratamentos teria tomado medidas preventivas se soubesse dos efeitos na pele antes de iniciar o processo de emagrecimento;
60% dos que já fazem tratamentos estéticos buscaram intervenções para lidar com esses efeitos após emagrecimento;
Mais de 60% dos pacientes que passam por perda de peso por uso de medicamentos demonstram forte interesse em um serviço que integre a expertise de profissionais médicos e estéticos para apoiá-los durante sua jornada.

Por que essas mudanças acontecem?
Qualquer perda de peso rápida pode ter este efeito na pele. Medicações ou cirurgia bariátrica podem causar mudanças na estrutura e no equilíbrio do rosto —as mesmas que costumam ocorrer durante o envelhecimento, segundo Camila Alvarenga, dermatologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Processo de emagrecimento rápido provoca perda de colágeno e elasticidade. Conforme envelhecemos, perdemos o colágeno e a elasticidade, há toda uma mudança na dinâmica do rosto. Com os medicamentos ou com uma bariátrica, esse processo de emagrecimento rápido causa a mesma coisa. O rosto fica com mais linhas de expressão e com o formato mais "encovado".
Dermatologista reforça a importância do tratamento multidisciplinar. "Se a pessoa faz um uso de medicação, ela deveria ter um atendimento com endocrinologista, nutricionista, dermatologista, além de fazer atividade física. Não existe milagre", diz Alvarenga.
Bumbum murcho e caído é um dos efeitos do rápido emagrecimento. A dermatologista Bruna Vallcorba, que apresentou uma palestra sobre tratamento nos glúteos durante o congresso, explica que isso ocorre principalmente pela perda de massa magra, e não só da gordura.

Isso tudo influencia em todas as camadas da pele, até nas mais profundas, causando flacidez muscular. O bumbum fica sem volume, caído e murcho, como se fosse uma vela derretendo. Bruna Vallcorba, dermatologista
Importância do tratamento "completo". O endocrinologista André Camara, diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo, explica que, na maioria dos casos, os pacientes não fazem o tratamento completo, que não se limita ao uso apenas da medicação.
Os efeitos na bunda têm relação com essa perda da gordura e da massa muscular. A pessoa não treina, não faz dieta, deixa de comer proteína e, com isso, não consegue manter a massa muscular. André Camara, endocrinologista
Para evitar que isso ocorra, o ideal é manter rotina saudável. Isso inclui a dieta, com quantidade adequada de proteína, exercício físico (para não perder a massa magra), além de uma boa rotina de sono.
Os pacientes acham que a medicação é mágica. Claro que ajuda, principalmente para quem tem diabetes ou obesidade, mas ela é parte de um processo que envolve educação alimentar, exercício físico e dormir bem. É preciso lidar com isso de uma forma mais integral. André Camara, endocrinologista
Também é importante fazer um acompanhamento preventivo. Se a ideia for usar o remédio com acompanhamento médico, não esqueça dos impactos na pele, reforça Ana Paula Pierro, dermatologista da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo. "Não deixe de ouvir as orientações do médico, endocrinologista ou nutrólogo, para que determine a dose correta das medicações, da dieta nutricional. Sabendo que o emagrecimento vai acontecer, é possível fazer alguns tratamentos dermatológicos para prevenir, dando mais sustentação do colágeno, por exemplo", explica.

Quais as opções?
Se mesmo assim, os efeitos do emagrecimento incomodarem, existem opções. No entanto, nem sempre acessíveis devido ao preço e resultado "limitante". Em geral, a recomendação é refazer os procedimentos a cada ano. As dermatologistas explicam o que funciona:
Preenchimento com ácido hialurônico: efeito rápido, com duração de nove meses a um ano. "Antes, consideramos o perfil e a genética do paciente, e aí pensamos em repor gordura que foi perdida. Então, fazemos esse preenchimento para repor as áreas que mais perderam gordura. Preenchedores não são permanentes, então precisam ser refeitos durante o ano", diz Alvarenga.
Estimuladores de colágeno (bioestimulador, ultrassom microfocado, entre outras tecnologias): efeito progressivo, mais lento, com "pico" aos três meses, em média. "Focamos em tratamentos que vão estimular a síntese de colágeno. Eles tratam e diminuem a flacidez, como o bioestimulador de colágeno, que pode ser feito tanto no rosto quanto no corpo, além de aparelhos que melhoram e estimulam essa produção de colágeno, como os ultrassons microfocado", diz Pierro.
Ainda é possível que o especialista sugira tratamentos "sanduíches", combinando tecnologias com medicações injetáveis. "É importante entender o momento de cada indicação, se serão combinadas ou não", diz Vallcorba.
*A jornalista viajou a convite da Merz Aesthetics.
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