Seu relógio inteligente pode salvar sua vida? O que dizem os especialistas

Os dispositivos vestíveis, ou wearables, têm revolucionado a forma como monitoramos nossa saúde. De relógios inteligentes a patches adesivos, esses aparelhos transformaram-se em verdadeiros laboratórios portáteis, capazes de coletar uma quantidade impressionante de dados.

Em meio à popularização dessas tecnologias, surge uma questão crucial: qual é o real nível de confiabilidade das informações fornecidas por esses dispositivos?

Armando Lobato, presidente da SBACV (Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular), afirma que os wearables têm se mostrado ferramentas valiosas na prática clínica e em estudos, especialmente no acompanhamento de condições cardiovasculares. Os dados coletados permitem:

Monitoramento contínuo: eles registram informações de forma ininterrupta, como frequência cardíaca, ritmo cardíaco, variação da frequência cardíaca (VFC) e atividade física, oferecendo uma visão ampla e detalhada da saúde do paciente ao longo do tempo.

Detecção de alterações iniciais: wearables equipados com sensores de eletrocardiograma (ECG) ou fotopletismografia (PPG) auxiliam na identificação precoce de arritmias, como fibrilação atrial, reduzindo o risco de complicações futuras, como um AVC (acidente vascular cerebral).

Estudos clínicos: os dispositivos são amplamente utilizados para coletar dados em larga escala, possibilitando análises populacionais. Eles ajudam a entender melhor os fatores de risco e a eficácia de intervenções em reabilitação cardíaca ou na prevenção de eventos.

Engajamento do paciente: ao fornecer dados em tempo real, os wearables aumentam a conscientização do paciente sobre sua saúde, incentivando mudanças positivas no estilo de vida.

Quais são as limitações?

Segundo Audes Feitosa, membro do Departamento de Hipertensão da SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia), apesar dos avanços, os wearables apresentam limitações importantes.

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A precisão dos dados pode variar dependendo do dispositivo, do sensor utilizado e da posição no corpo. Movimentos excessivos, contato inadequado com a pele e fatores individuais, como sudorese ou tipos de pele, podem gerar leituras imprecisas. Além disso, a interpretação dos dados muitas vezes requer correlação com o quadro clínico do paciente, o que exige acompanhamento médico. Audes Feitosa, membro do Departamento de Hipertensão da SBC

Leandro Costa, cardiologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP), também destaca que estudos recentes indicam que dispositivos com sensores de fotopletismografia (PPG), como smartwatches, podem detectar padrões de pulso irregulares que sugerem fibrilação atrial. "No entanto, a precisão desses dispositivos pode ser limitada por falsos positivos, especialmente em pacientes assintomáticos", diz.

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Imagem: Getty Images

Outro ponto é que nem todos os dispositivos são validados clinicamente, o que pode comprometer a confiabilidade para uso diagnóstico. Dessa forma, é necessário que médicos e pacientes busquem dispositivos de marcas confiáveis e que sejam aprovados por órgãos regulatórios e validados em estudos clínicos.

Vale lembrar que o Complete, aparelho desenvolvido pela multinacional japonesa Omron Healthcare, é o único dispositivo de eletrocardiograma de uso doméstico validado clinicamente que está disponível no Brasil.

O equipamento é capaz de realizar o eletrocardiograma e a medida da pressão ao mesmo tempo e conta com recursos de conectividade (resultado sai em cerca de 30 segundos e pode ser compartilhado instantaneamente com os médicos pela internet).

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É fundamental ressaltar que dispositivos são ferramentas de rastreamento, não substituindo um diagnóstico médico definitivo, que deve incluir exames complementares como o eletrocardiograma e o Holter. Audes Feitosa, membro do Departamento de Hipertensão da SBC

Interpretação de dados

Segundo os especialistas, pacientes devem ter cautela ao analisar as informações fornecidas por wearables, considerando os seguintes pontos:

Não substituir orientação profissional: dispositivos não substituem o médico. Qualquer alerta ou alteração detectada deve ser avaliada por um especialista.

Compreender as limitações: os dados apresentados pelos wearables são indicativos e podem conter erros. Resultados fora do esperado nem sempre indicam problemas graves.

Evitar automedicação ou autodiagnóstico: interpretação inadequada dos dados pode levar a decisões precipitadas. É essencial buscar avaliação médica antes de tomar qualquer medida.

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Manter a consistência no uso: para garantir dados mais precisos, o dispositivo deve ser usado corretamente e regularmente, evitando interferências.

Combinar dados com histórico clínico: wearables fornecem apenas parte da informação. O médico precisa correlacionar esses dados com o histórico médico, exames complementares e sintomas relatados.

"Ao compreender os dados como ferramentas de apoio, e não como diagnósticos definitivos, o paciente poderá utilizá-los de forma mais segura e eficaz", conclui Lobato, da SBACV.

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