Você vive perdendo e ganhando peso? Entenda os perigos do efeito sanfona

A jornada de quem precisa perder peso é única, mas o que todas as pessoas que emagrecem têm em comum é a grande possibilidade de sofrer com um efeito típico do processo de perda de peso: os dígitos da balança voltarem a subir após um tempo.

Conhecido popularmente como efeito sanfona ou efeito ioiô, repetidos ciclos de perda e reganho de peso são desafiadores porque levam à sensação de estar diante de uma missão impossível, especialmente entre as pessoas que mais precisam de cuidados.

Como se não bastasse, cientistas já observaram que sobe e desce da balança traz prejuízos para a saúde.

Por que o efeito sanfona ocorre

Antes de entender o efeito sanfona é preciso lembrar que a obesidade é uma doença crônica (não tem cura), progressiva e recorrente. Apesar de muita gente ainda acreditar que o ganho de peso é provocado apenas pelo sedentarismo e pela má alimentação, a condição tem muitas outras causas, como a biologia, a saúde mental, a genética e o ambiente.

Como ainda não há uma cura para essa enfermidade, o seu controle requer constância. A dificuldade em controlar o peso após emagrecer começa pela pressão biológica que ocorre no corpo ao longo do tratamento. Isso porque a perda de peso desperta um sistema de defesa que trabalha contra e de forma persistente para restabelecer as reservas de energia (gordura) perdidas.

Pressão biológica

Períodos de restrição calórica são encarados pelo organismo como uma ameaça. Para recuperar o peso perdido, o corpo contra-ataca por meio do aumento da fome e da redução da taxa metabólica basal (as calorias que nosso corpo gasta para realizar funções básicas). A explicação é do endocrinologista Thiago Fraga Napoli, da Sbem-SP.

Quando a pessoa emagrece e reduz os cuidados com os hábitos que adotou para controlar o peso, como o corpo está nesse "modo" de poupar energia para engordar, a tendência é que os dígitos na balança comecem a subir —e isso pode acontecer até mesmo quando o paciente mantém a mesma dieta que o fez emagrecer, pois o organismo está gastando menos calorias.

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Outra questão que precisa ser esclarecida é a crença de que, uma vez alcançado o peso que se desejava, o problema está resolvido e podemos voltar a ter velhos hábitos ruins. No entanto, o resultado na balança só será mantido se o estilo de vida saudável for algo estabelecido para o resto da vida.

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Imagem: Getty Images

Prejuízos do vai e vem

Os problemas para a saúde decorrentes da perda e reganho de peso ainda não foram totalmente esclarecidos pelos pesquisadores. Mas na opinião da endocrinologista Ana Flávia Torquato, do HUWC-UFC/Ebserh, os maiores e mais importantes deles são a falta de controle da obesidade e suas complicações, além do sempre presente sofrimento psicológico (por não conseguir ter sucesso no emagrecimento ou manter os resultados, por exemplo).

Os prejuízos do efeito sanfona já descritos em alguns estudos científicos:

  • Perda de massa muscular (sarcopenia)
  • Aumento da gordura corporal
  • Maior probabilidade de ter pressão alta (hipertensão)
  • Doenças cardiovasculares (infarto e AVC)
  • Resistência aumentada à insulina (fator de risco para o diabetes)
  • Inflamação generalizada crônica que piora doenças de base e facilita o aparecimento de outras
  • Síndromes metabólicas, psicológicas e osteoarticulares
  • Maior taxa de mortalidade por todas as causas
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Persistência tem poder

Apesar de reconhecerem o desânimo que o reganho de peso provoca, os especialistas ressaltam que é preciso seguir tentando porque não existe dieta milagrosa nem soluções de curto prazo.

"A proteção da saúde de pessoas com obesidade vai além do conhecimento de como o corpo reage à perda de peso, e inclui também a aceitação dessa realidade, além do apoio de um médico qualificado, capaz de lidar de forma eficaz com as necessidades de cada pessoa", fala Patrícia Moreira Gomes, endocrinologista assistente da Divisão de Endocrinologia do HCFMRP-USP.

A médica lembra que peso é uma questão de saúde e não de estética, mas muitos querem alcançar metas irreais. Emagrecer de 10% a 15% já leva à melhora da saúde e redução do risco de doenças, também evita a mortalidade precoce. "Ter essa perspectiva ajuda a reduzir dígitos na balança, mantendo-os estáveis de forma mais saudável e sustentável", acrescenta Gomes.

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Imagem: Getty Images

Como evitar o efeito sanfona?

Educar-se mais sobre a obesidade e conhecer todos os fatores envolvidos no processo de emagrecimento ajuda a manter-se positivo e disponível para seguir firme no tratamento. Confira as dicas dos especialistas:

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Certifique-se de que seu médico está habilitado para o tratamento da obesidade.

Discuta com ele a possibilidade de descobrir o que tem maior influência no processo de reganho de peso para você e peça orientações sobre os melhores meios de controle desse fator.

Mudar hábitos de vida para manter-se saudável é uma sugestão que vale para todas as pessoas em geral. Para as que precisam perder peso, essa estratégia tem de ser para sempre.

Fique de olho nas suas escolhas alimentares e aumente o consumo de comidas naturais: legumes, verduras, frutas, carnes magras, ovos, grãos integrais.

Reduza —ao mínimo possível— o consumo de itens ultraprocessados, ricos em açúcares, farinhas refinadas, sódio e gorduras não saudáveis.

Faça atividade física regularmente. Existem pesquisas científicas que já observaram que o efeito sanfona está mais presente entre pessoas que fogem dos exercícios, já que o treino regular funciona como um remédio contra a inflamação do tecido adiposo e promove a saúde dos músculos.

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Fontes: Ana Flávia Torquato, endocrinologista do HUWC-UFC/Ebserh (Hospital Universitário Walter Cantídio, da Universidade Federal do Ceará, que integra a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares); Patrícia Moreira Gomes, médica endocrinologista assistente da Divisão de Endocrinologia do HCFMRP-USP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo); Thiago Fraga Napoli, endocrinologista com doutorado (Santa Casa de São Paulo), coordenador do Ambulatório de Obesidade do Hospital do Servidor Estadual de São Paulo, e membro da SBEM-SP (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo).

  • Referências: National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases.
  • Wang H, He W, Yang G, Zhu L, Liu X. The Impact of Weight Cycling on Health and Obesity. Metabolites. 2024. Disponível em https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38921478/
  • Puong-Nguyen, K.; et al. Yoyo Dieting, Post-Obesity Weight Loss, and Their Relationship with Gut Health. Nutrients 2024. Disponível em https://doi.org/10.3390/nu16183170
  • Bays HE, Golden A, Tondt J. Thirty Obesity Myths, Misunderstandings, and/or Oversimplifications: An Obesity Medicine Association (OMA) Clinical Practice Statement (CPS) 2022. Obes Pillars. 2022. Disponível em https://doi.org/10.1016/j.obpill.2022.100034

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