Técnica de enfermagem, ela perdeu um olho: 'Como vou atender com tampão?'

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Técnica de enfermagem, Maria Luiza Soares, 73, estava acostumada a trabalhar em hospitais, principalmente em centros cirúrgicos. Em 2007, começou a sentir os olhos ardendo demais.
Pensou que o incômodo era causado pelos produtos que usava no trabalho, mas depois de passar um ano indo a diversas consultas médicas, descobriu que era um câncer no olho direito —que faz parte do grupo de cânceres de cabeça e pescoço (leia mais abaixo).
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'Pessoas ficam te olhando'
O tumor na órbita era agressivo e, com isso, o olho inteiro precisou ser removido em uma cirurgia. Além disso, ela teve de passar por 25 sessões de radioterapia.
"Como é que uma enfermeira, que está sempre cuidando do paciente, vai atender com um tampão no olho?". Essa era a maior questão de Maria Luiza, moradora de Volta Redonda, no Rio de Janeiro.

Um ano depois conseguiu uma prótese gratuita, do Inca (Instituto Nacional de Câncer), que vinha acoplada com óculos. Ou seja, ao retirar os óculos, ela ficava sem o olho. "Só tinha o olho quando usava óculos. Era dura e funcionava na mesma lógica de uma dentadura", conta.
Assim que perdi meu olho, me senti diferente. Triste. As pessoas te olham e logo focam naquilo, no olho.
Maria Luiza Soares
Em 2009, a técnica de enfermagem queria uma prótese melhor. Retirou o dinheiro do FGTS e foi em busca de uma opção mais confortável. No entanto, com o valor que tinha, não conseguiria pagar.
Maria Luiza conta que, na época, a cirurgia com a prótese custava, em média, R$ 25 mil.
Deixou a ideia de lado e, assim que começou a frequentar o Hospital São Paulo, na capital paulista, descobriu que poderia participar de um projeto que fazia próteses de silicone gratuitamente, para reabilitar pessoas que tiveram deformações faciais após câncer, doenças congênitas, acidentes, entre outros. Há dois anos, conseguiu uma nova já que a antiga estava desgastada.
Estou muito feliz. A prótese nova é muito boa e acessível. Estou me sentindo mais bonita. Parece que voltei a me sentir mais 'normal'. Maria Luiza Soares
Mensalmente, a idosa vai a São Paulo para fazer a manutenção da prótese que, agora, é feita pelo Instituto Mais Identidade, ONG incubada na Unip, que atua com a reabilitação facial de pacientes mutilados, principalmente com deformidades faciais e maxilares.
Outros cânceres e problemas de saúde
Em 2011, Maria Luiza descobriu outro câncer, mas, desta vez, no colo do útero, e precisou removê-lo em uma cirurgia —sem necessitar de radioterapia ou quimioterapia.
É aquela coisa: câncer é uma coisa que assusta e machuca. Fiquei arrasada, mas pelo menos consegui voltar a trabalhar.
Maria Luiza Soares

Há sete anos, a técnica de enfermagem precisou fazer uma biópsia na região do pescoço após suspeita de metástase nos linfonodos. Após confirmação do caso, ela, mais uma vez, passou por uma cirurgia de retirada total da área afetada pelo câncer (a linfadenectomia) e mais sessões de radioterapia.
Além dos cânceres, a idosa também trata uma fibrose cística no pulmão. Com um filho morando em São Caetano do Sul, no ABC paulista, Maria Luiza divide o tempo entre os dois estados (São Paulo e Rio) para os acompanhamentos médicos.
Apesar de tudo, a idosa se diz feliz e grata pelo cuidado recebido da equipe médica de São Paulo.
Às vezes até esqueço que tenho câncer. Vou feliz ao hospital porque as pessoas são muito boas.
Maria Luiza Soares
Câncer de cabeça e pescoço
Tumor no olho faz parte do grupo de cânceres de cabeça e pescoço. São doenças que ficam localizadas do pescoço para cima (exceto os do sistema nervoso central), como cavidade oral, faringe, laringe, cavidade nasal e glândula tireoide. Maria Luiza foi diagnosticada com o adenocarcinoma de órbita.
Principais sintomas do câncer da paciente são alterações visuais. Alguns exemplos são visão dupla, vista embaçada, dificuldade para mexer os olhos ou perda do campo visual, segundo o oncologista Thiago Bueno, líder clínico do Centro de Referência em Tumores de Cabeça e Pescoço do A.C.Camargo Cancer Center (SP).
Tumores nas regiões dos seios paranasais, de órbita, de vias áreas no geral, têm muita relação com hábitos envolvendo cigarro. Mas o câncer no olho não tem uma causa específica.
Thiago Bueno, oncologista
Nem sempre a remoção do olho é indicada, em casos como o da paciente. Existem casos em que é possível fazer quimioterapia ou radioterapia
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