Lipedema: como detectar a doença e as opções de tratamento

Apesar de ser uma doença desconhecida pela maioria das pessoas, o lipedema é uma enfermidade que acomete entre 9% e 10% das mulheres adultas do país. Conhecido também como síndrome da gordura dolorosa, é uma doença crônica caracterizada por depósitos de gordura desproporcionais pelo corpo.

O lipedema acomete os membros, em especial as pernas, e causa inchaço e "furinhos", por isso muitas vezes é confundido com obesidade e celulite.

A gordura do paciente com lipedema é diferente daquela que temos no nosso organismo. "Ela causa dor, peso, muita sensibilidade ao toque e o surgimento de hematomas espontâneos e, em casos mais avançados, pode evoluir para limitação da mobilidade física e danos no sistema linfático", explica o cirurgião vascular Sergio Belczak.

Quais as causas do lipedema?

Ainda não há uma explicação exata para o que causa o problema, mas já se sabe que há influência genética em 2/3 dos casos, e que os hormônios femininos, como o estrogênio e a progesterona, são gatilhos para o seu desenvolvimento.

Por essa razão, 90% dos casos acontecem em mulheres e surgem normalmente quando elas passam por alterações hormonais, como o uso de anticoncepcionais, gestação, tratamento de infertilidade e menopausa.

Além do prejuízo físico, o lipedema pode desencadear problemas emocionais e psiquiátricos. Isso porque a paciente normalmente não consegue ter resultados com atividade física e/ou dietas, o que costuma deixar muitas pessoas frustradas ao não ver mudanças mesmo com bons hábitos de saúde.

Dificuldade no diagnóstico

Imagem
Imagem: Gesellschaft e.V/Deutsche Welle
Continua após a publicidade

Infelizmente, ainda não há um protocolo padrão para o diagnóstico da doença e nem exames específicos para a sua detecção. Por isso, é muito importante que seja feita uma avaliação por um médico especialista no assunto que vai analisar o histórico familiar da paciente, como o mal se desenvolveu e fazer um exame físico para averiguar se existem nódulos, hipersensibilidade e perda de elasticidade do tecido adiposo, fatores que indicam que o quadro não está ligado à obesidade.

Exames complementares incluem ultrassom com doppler e densitometria corporal, que avaliam vasos sanguíneos e proporção de gordura.

Os especialistas dizem que a falta de protocolo e o desconhecimento do assunto por parte de muitos médicos atrapalham o fechamento do diagnóstico e o início do tratamento, o que é arriscado, pois o quadro não para de evoluir.

Algumas especialidades que podem diagnosticar o lipedema, desde que o conheçam, são: cirurgiões vasculares ou ortopédicos, endocrinologistas, reumatologistas e fisioterapeutas. São profissionais com habilitação para diferenciar se o inchaço é do lipedema ou de outras condições.

Tratamento

Imagem
Imagem: FatCamera/Getty Images
Continua após a publicidade

Assim que a paciente consegue o diagnóstico, ela é acompanhada por uma equipe multidisciplinar com endocrinologista, ginecologista, nutricionista, cirurgião vascular, cirurgião plástico, psicólogo e psiquiatra, entre outros.

O indicado é que a paciente evite ganhar peso e faça exercícios de baixo impacto, de preferência com o auxílio de um profissional de educação física. As atividades realizadas na água são muito bem-vindas, pois, além de não causarem impacto, dão uma força para a circulação.

O trabalho de um fisioterapeuta também ajuda bastante. Ele pode utilizar técnicas como drenagem linfática, enfaixamento compressivo e uso de meias de compressão e botas pneumáticas para melhorar a circulação linfática e o retorno do sangue ao coração. As terapias de ondas de choque também podem auxiliar, pois favorecem a circulação e ainda quebram as fibroses formadas pela gordura.

Quando a enfermidade chega a um estágio mais avançado, o tratamento também pode incluir cirurgias. "A cirurgia reduz o volume dos membros em até 40%. Algumas pesquisas demonstram muitos ganhos de qualidade de vida com menos desconforto. O acompanhamento de pacientes até oito anos após o procedimento mostra que esses benefícios se mantêm", diz o cirurgião plástico Fabio Kamamoto.

"O procedimento é um tipo de lipoaspiração específico feito por especialistas no tratamento da enfermidade. Ele é feito com cânulas que aspiram a gordura associadas a fontes de calor, como o laser, que estimulam a aderência da pele ao corpo, pois com a retirada do tecido adiposo pode sobrar bastante excesso de tecido", explica Belczak.

Bariátrica não trata lipedema. O procedimento é indicado para pessoas com IMC acima de 35 que tenham alguma doença metabólica associada, como diabetes. Sem essas condições, a pessoa com lipedema não teria o perfil para fazer a cirurgia.

Continua após a publicidade

Alimentação anti-inflamatória

Imagem
Imagem: iStock

A alimentação é um capítulo à parte para quem sofre com lipedema. Não basta reduzir as calorias, é preciso investir em uma dieta que ajude a contornar todos os aspectos do problema.

"É indicado que ela seja anti-inflamatória, com baixo índice glicêmico, pois muitas vezes pode haver resistência à insulina. A alimentação deve ajudar a melhorar a retenção hídrica e recuperar o tecido conjuntivo", explica a nutricionista Adriana Kachani, especialista em imagem corporal e transtornos alimentares.

A nutricionista costuma recomendar a dieta mediterrânea, que é baseada no consumo de alimentos frescos e naturais, como azeite, frutas, legumes e cereais, ou seja, conta com gorduras saudáveis, carnes magras e itens antioxidantes e anti-inflamatórios.

Alguns chás que aumentam a circulação e são anti-inflamatórios, como cavalinha, hibisco e gengibre, entre outros, também ajudam bastante, assim como a ingestão de colágeno, vitaminas, como C e A, e prebióticos e probióticos para melhorar a flora intestinal. "Restringir bebida alcoólica e produtos industrializados também é muito importante", destaca Kachani.

Continua após a publicidade

*Com informações de reportagens publicadas em 11/10/2023 e 06/01/2025

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.