Por que algumas pessoas ficam mais desagradáveis quando envelhecem?
Colaboração para VivaBem*
06/02/2025 14h34
Quem não conhece um idoso mal-humorado, que reclama e implica com tudo? Pode ser sua avó, seu pai, um tio ou até mesmo um vizinho parecido com o senhor Wilson, do filme "Dennis, O Pimentinha".
"Quando se fala em comportamento, a gente precisa diferenciar aquilo que pertence à pessoa, que é uma característica natural dela, de uma mudança de comportamento. Há idosos que já eram um pouco ranzinzas e, agora, nessa fase avançada da vida, tendem a ficar mais", diz o geriatra Natan Chehter.
Segundo ele, se for uma mudança repentina de personalidade, pode ser sinal de alguma doença e "deve ser investigado para não prejudicar o estilo de vida da pessoa, o que inclui sua funcionalidade e suas relações".
Traço da personalidade se acentua
São vários os fatores não relacionados a enfermidades que levam alguém a ficar ranzinza com o passar dos anos. Na maioria das vezes, tem a ver com o fato de não se enxergar mais a necessidade de agradar aos outros como antigamente, principalmente se para a pessoa isso já era difícil, representava certa obrigação e lhe causava desconfortos e limitações.
"Alguns traços da personalidade adulta tendem a se acentuar quando se fica mais de idade, principalmente se a pessoa já era do tipo crítica, controladora e reclamona, e aí ela não tolera mais facilmente certas situações, ambientes, aprendizados e métodos", afirma a psiquiatra Denise Gobo.
Um idoso com tais características também pode agir com rispidez para esconder suas vulnerabilidades, como dificuldade em aceitar que não tem mais a autonomia de antes, que depende do cuidado de terceiros, que não compreende e não sabe interagir direito com as novas gerações. Então é normal que ele respire fundo, vire os olhos e murmure vez ou outra.
Outros fatores para se atentar
Quando o comportamento do idoso muda completamente do que era em curto espaço de tempo, ou se ele reclama o tempo todo e é incapaz de se divertir, é sinal de que há algo errado. Num quadro anormal, os sintomas são persistentes (duram mais que semanas) e geralmente interferem nas funções fisiológicas.
O idoso pode apresentar falta de apetite, insônia, cansaço e prejuízo funcional, ou seja, deixar de lado atividades e situações sociais. Na mudança repentina e intensa de comportamento, que pode vir acompanhada ainda de irritabilidade, resistência e perda de memória e de concentração, não é raro estarem por trás processos demenciais (Alzheimer), estados depressivos e transtornos ansiosos.
Já em se tratando de um mau humor constante, de anos e anos, a causa provável pode ser um transtorno psicológico chamado distimia. Ela atinge uma série de neurotransmissores que comandam o humor e age como um tipo leve e prolongado de depressão, causando pessimismo, senso de autocrítica excessivo, irritabilidade, desejo de isolamento social, baixa autoestima, falta de energia, de concentração e de prazer.
Lidando com um idoso "nada fácil"
Inicialmente, é com conversa que o familiar ou o cuidador pode entender o motivo do mau humor. Caso o idoso não saiba explicar, é preciso então observar o seu entorno (checar medicações, alimentação, ambiente doméstico). Se parecer alterado, inclusive agressivo, o que não pode ser atribuído como sendo natural da idade, levá-lo ao médico o quanto antes.
Sendo o mau humor uma característica da personalidade, dá para tentar atenuá-lo com o estímulo de alguma atividade física, preferencialmente em grupos de terceira idade, e também psicoterapia, para que ele entenda os motivos de suas sensações e saiba lidar melhor com elas.
Com os que são dependentes, mas não aceitam ajuda ou gostam de fazer tudo do próprio jeito, negociar pode dar certo. O responsável oferece algo que seja do interesse do idoso, para, em troca, fazê-lo cumprir com sua parte. Não vale a pena discutir, mesmo que ele esteja errado, nem o pressionar ou colocar peso de obrigação em cima do que se espera dele, isso só dificulta a relação. "É preciso muita paciência e conversa", diz Cheter.
Agora, se o idoso é autônomo, capaz de tomar decisões e se cuidar sozinho e tem suas faculdades mentais todas intactas, não há muito o que se fazer, a escolha de agir assim é dele. "O jeito é tentar convencê-lo dos riscos e dos prejuízos", complementa o geriatra.
*Com informações de reportagem publicada em 11/12/2020