O que acontece no seu corpo quando você bebe álcool grávida

Se você está pensando em engravidar ou está grávida, vai ter de declarar tolerância zero ao álcool. A substância é tóxica, possui efeitos psicoativos, gera dependência, e os prejuízos a ela relacionados atingem todos os sistemas do seu corpo.

Entre as gestantes, os riscos não se limitam ao organismo feminino e afetam também o bebê. Afinal, o álcool é capaz de atravessar a placenta, gerar maior concentração alcoólica no feto e ainda compromete o seu desenvolvimento em qualquer estágio da gestação.

Como até agora os cientistas não conseguiram provar que exista um consumo seguro de bebidas alcoólicas, sobretudo durante a gravidez, a ordem é adotar a regra —melhor prevenir do que remediar.

1 em cada 7 gestantes declaram ter bebido algum tipo de álcool nos últimos 30 dias

1 em cada 20 grávidas bebeu pesado no mesmo período

Mulheres com algum tipo de sofrimento emocional —ou as que não têm acesso a atendimento médico— tendem a consumir álcool na gravidez

Os efeitos no seu corpo

Os especialistas consultados são unânimes quanto ao fato de que os riscos de danos causados pelo álcool para a mãe e o bebê aumentam a depender da frequência, o número de doses e o período de tempo no qual elas foram ingeridas —o que inclui o beber pesado episódico.

Pouco importa se a bebida é do tipo destilado ou fermentado: quanto maior o volume de álcool consumido, maior a probabilidade de danos.

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A opção mais segura para quem deseja engravidar ou está grávida é não beber álcool.

Parar de beber ao saber da gestação ou em qualquer tempo dela reduz o risco de efeitos indesejados para o feto.

Veja, a seguir, as consequências associadas ao consumo de álcool ou à continuidade de seu uso ao longo da gravidez, todas elas evitáveis:

Problemas na gravidez

Beber álcool em qualquer fase da gestação pode levar a complicações como:

Parto prematuro

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Restrição do crescimento do feto

Baixo peso ao nascer

Aborto espontâneo

Morte fetal

Esses efeitos acontecem porque o álcool interfere na formação celular do bebê, especialmente no primeiro trimestre. Além disso, cerca de uma hora após o consumo de bebidas alcoólicas, o nível de álcool no sangue do feto pode ser 30% maior que o da mãe, já que o organismo do bebê não consegue metabolizá-lo de forma eficiente.

Transtorno do Espectro Alcoólico Fetal (TEAF)

O TEAF é uma das consequências mais graves do consumo de álcool na gestação. Ele é uma das principais causas de atraso no desenvolvimento neurológico no mundo.

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O TEAF inclui diferentes graus de comprometimento, como:

Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) e SAF parcial

Malformações congênitas associadas ao álcool

Alterações no neurodesenvolvimento

Quanto maior a exposição ao álcool, maior o risco de desenvolver essas condições.

Possíveis manifestações do TEAF

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Alterações faciais: fenda nas pálpebras, lábio superior fino, ausência do filtro labial (a depressão entre o nariz e o lábio superior).

Problemas de crescimento: baixa estatura e baixo peso.

Alterações no sistema nervoso central: tamanho da cabeça reduzido, anomalias cerebrais, convulsões sem relação com febre.

Déficits neurocomportamentais: dificuldades de aprendizado, memória, atenção, regulação do humor e controle de comportamento.

Outros problemas congênitos associados ao álcool

Além do TEAF, o consumo de álcool na gestação pode causar:

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Malformações no coração

Problemas renais

Alterações esqueléticas (como pé torto)

Problemas nos vasos sanguíneos (como hemangiomas)

Sistema imunológico enfraquecido

Bebês expostos ao álcool no útero podem ter um sistema de defesa mais frágil, ficando mais suscetíveis a infecções e doenças ao longo da vida.

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Sintomas de abstinência no recém-nascido

Se a mãe consumiu álcool próximo ao parto, o bebê pode apresentar sinais de abstinência após nascer, como:

Choro inconsolável

Tremores

Irritação e agitação

Tensão muscular aumentada (hipertonia)

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Efeitos tardios do TEAF

Algumas consequências do TEAF só aparecem ao longo da vida, afetando o desenvolvimento cognitivo e social da criança. Entre os impactos mais comuns estão:

Déficit de atenção e hiperatividade

Dificuldades na escola, principalmente em matemática e linguagem

Problemas de coordenação motora e interação social

Maior risco de transtornos psiquiátricos na vida adulta

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Maior probabilidade de envolvimento com drogas, álcool e problemas legais

Pesquisas também indicam que a exposição ao álcool no útero pode estar relacionada a um risco aumentado de TEA (transtorno do espectro autista).

O consumo de álcool na gravidez não tem uma quantidade segura. A única forma de proteger o bebê é evitar completamente o álcool durante toda a gestação. Se precisar de apoio, procure um profissional de saúde.

O caminho do álcool no seu corpo

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Imagem: iStock

Ao ser ingerido, ele é absorvido por meio do estômago, intestino e fígado, órgão no qual ele sofrerá a ação de enzimas [majoritariamente o álcool desidrogenase (ADH) e a aldeído desidrogenase (ALDH)] que ajudarão na quebra e excreção [metabolização] da substância.

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Os efeitos no organismo podem ser observados por meio dos limites de concentração de álcool no sangue.

Mulheres são mais sensíveis

Esse grupo é mais afetado pelo álcool quando comparado aos homens porque elas apresentam maior absorção do álcool do que eles e ainda precisam de mais tempo para metabolizar a substância.

Isso significa que, ao beberem a mesma quantidade de bebidas alcoólicas, a concentração de álcool na corrente sanguínea das mulheres será mais alta.

Mulheres estão mais propensas a terem problemas decorrentes do uso do álcool no longo prazo.

São exemplos: doenças do fígado (cirrose), perda da memória, redução do volume cerebral, doenças do coração, câncer de boca, garganta, esôfago, fígado, cólon e mama.

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Além disso, o beber pesado entre mulheres está relacionado à redução da fertilidade e maiores taxas de problemas menstruais.

Por que algumas gestantes continuam bebendo?

O uso global de álcool durante a gravidez já foi estimado em cerca de 10%. Dados publicados pelo The Lancet Global Health. No Brasil, a estimativa é de cerca de 15%.

Um recente estudo que revisou várias pesquisas científicas, identificou que esse comportamento pode estar relacionado a questões socioculturais, mitos, atendimento médico inadequado, além de situações como baixos salário e nível escolar, conflitos interpessoais, depressão, entre outros. Dados publicados pelo Jornal Brasileiro de Ciências Naturais.

A maioria das mulheres descobre que está grávida dentro do primeiro trimestre da gestação. Isso pode facilitar o consumo desavisado de bebidas alcoólicas.

A partir do momento que sabem que estão grávidas, a maioria das mulheres tende a cessar a ingestão de álcool.

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De 17% a 20% delas continuam bebendo. Nesse grupo, o motivo pode ser falta de informação adequada ou comportamento habitual associado à dependência do álcool. Nesse último quadro, parar de beber pode ser um desafio.

E após o parto, dá para tomar um drinque?

Assim como é capaz de atravessar a placenta e alcançar o feto, o álcool também é transferido para o bebê por meio do leite materno.

Caso haja o consumo de bebidas alcoólicas nesse período, poderão ser observados efeitos imediatos no recém-nascido.

Sonolência, sono profundo, suor excessivo, diminuição anormal de peso e redução do crescimento são exemplos.

Possíveis efeitos de longo prazo: alterações comportamentais e redução das habilidades cognitivas.

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Converse com o pediatra ou seu médico (clínico ou obstetra) para saber quais seriam as melhores estratégias no seu caso para tomar um drinque, sem prejudicar a saúde de seu bebê.

Fontes: Aurélio Costa, médico ginecologista do HC-UFPE (Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco), que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), tem mestrado em saúde materna e doutorado em ginecologia (Unicamp); Erikson Furtado, psiquiatra, professor aposentado de medicina do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da FMRP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto) da USP, tem mestrado e doutorado pela Universidade de Heidelberg (Alemanha); e Helenilce de Paula Fiod Costa, médica neonatologista, mestre em pediatria (Unifesp) e coordenadora do Grupo de Trabalho sobre TEAF (Transtorno do Espectro Alcoólico Fetal) da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) e do Núcleo de Estudos sobre o mesmo tema na SP-SP (Sociedade de Pediatria de São Paulo). Revisão técnica: Helenilce de Paula Fiod Costa.

Referências: com informações de UOL; Opas (Organização Pan-Americana de Saúde); CDC (Centers for Disease Control and Prevention).

Popova S. et al. Fetal alcohol spectrum disorders. Nat Rev Dis Primers. 2023. Disponível em https://doi.org/10.1038/s41572-023-00420-x

Popova, S. et al. Estimation of national, regional, and global prevalence of alcohol use during pregnancy and fetal alcohol syndrome: a systematic review and meta-analysis. The Lancet Global Health. 2017. Disponível em https://doi.org/10.1016/s2214-109x(17)30021-9

Barreto C.M., Naila et al. Razões associadas ao uso do álcool na gestação: Uma revisão sistemática. Brazilian Journal of Natural Sciences. 2024. Disponível em https://doi.org/10.31415/bjns.v6i1.211

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Dejong K, Olyaei A, Lo JO. Alcohol Use in Pregnancy. Clin Obstet Gynecol. 2019. Disponível em https://doi.org/10.1097/GRF.0000000000000414

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