Preguicinha ganha nome chique: 'hurkle-durkle' virou tendência, mas é bom?

Você tem o costume de enrolar na cama ao acordar, seja no dia a dia, aos finais de semana ou durante as férias?

Na Escócia, o termo "hurkle-durkle", que nasceu no século 19 e viralizou recentemente nas redes sociais, indica um ritual de preguiça e aconchego realizado pelas manhãs, especialmente em dias nos quais não há compromissos na agenda.

Se por um lado a prática pode auxiliar no bem-estar, o "hurkle-durkle" também pode ultrapassar os limites e causar uma inércia prolongada ou impactar negativamente o seu sono.

Os possíveis impactos do 'hurkle-durkle' no sono

Embora tenha viralizado com uma conotação positiva, a prática deve ser realizada com alguns cuidados. Em seu conceito original, o "hurkle-durkle" tem uma definição que relaciona a prática a episódios de preguiça que, em alguns casos, pode ser indevida. Segundo o dicionário escocês, o Dictionars o the Scots Leid, o termo surgiu em 1825 e significa "deitar na cama ou descansar quando deveria estar acordado". Neste caso, a pessoa estaria postergando suas atividades enquanto permanece deitada.

Em determinado momento, o "hurkle-durkle" pode se confundir com uma preguiça prejudicial. No primeiro cenário, a pessoa está aproveitando o tempo para fazer algo para seu bem-estar, curtindo o momento. No segundo, a sensação pode ser negativa, em que a pessoa passa a se repreender e se culpar por permanecer deitada, mesmo quando sabe que chegou a hora de levantar, se vestir e começar o dia.

Além de poder provocar uma possível preguiça exagerada, o "hurkle-durkle" sem moderação também pode impactar a qualidade do sono. Segundo especialistas, a cama não deve ser utilizada para trabalhar, comer ou estudar; o ideal é que o uso seja restrito ao sono e ao sexo. Segundo o BJC HealthCare, organização sem fins lucrativos responsável por hospitais acadêmicos nos Estados Unidos, passar mais tempo acordado na cama pode prejudicar o ritmo biológico natural e o próprio ciclo do sono, já que o cérebro pode relacionar o local com atividades para as quais precisa funcionar, atrapalhando a desaceleração necessária para o organismo.

Descansar [acordado] na cama pode dificultar o adormecimento e a permanência no sono e pode causar sono polifásico [dormir vários períodos ao longo do dia] [...] O sono polifásico perturba o ciclo natural de sono-vigília dos adultos.
BJC HealthCare

"O hurkle-durkle" não consegue resolver um débito de sono". O alerta é do BJC, que destaca que o tempo de sono adequado para a maioria dos adultos é de sete a nove horas por noite. Eventuais alterações na quantidade de horas e especialmente na qualidade do sono podem ser riscos à saúde. "Os dados são contundentes sobre os impactos negativos para a saúde decorrentes da falta de sono e descanso", relata a organização. Demência, perda de memória e AVC, por exemplo, podem ter sua incidência aumentada naqueles que não dormem o suficiente, diz o BJC.

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Para evitar os riscos do "hurkle-durkle", é preciso ter em mente algumas dicas: entre elas, cuidado com o celular. Para algumas pessoas, é difícil imaginar passar horas descansando sem usar o celular. "A hiperconectividade que vem do uso constante da internet, como plataformas de streaming e mídias sociais, pode agravar problemas com o sono", diz o BJC.

O uso da tela logo ao acordar faz com que o cérebro "pule" estágios importantes entre o repouso total do sono e o estado ativo necessário para o dia. Passar horas consumindo conteúdo na internet, checando emails de trabalho ou rolando o feed das redes sociais pode não oferecer o descanso prometido pelo "hurkle-durkle".

Caso pretenda fazer o "hurkle-durkle", é importante ter contato com a luz natural do dia, abrindo as cortinas e, se possível, as janelas. Nosso organismo segue ritmos biológicos: os "relógios internos" funcionam em um período equivalente (ou próximo) a 24 horas. Além de reger os sistemas de regulação do sono/vigília, esses ritmos são responsáveis também pela regulação dos hormônios. Ter uma rotina nos horários de dormir e de acordar é fundamental para um sono de boa qualidade.

E existe tempo limite? Uma reportagem do The New York Times sobre a tendência ouviu Marjorie Soltis, especialista em medicina do sono e professora assistente de neurologia na Faculdade de Medicina da Universidade Duke. Segundo ela, não há uma regra rígida sobre quanto tempo se deve ficar debaixo das cobertas depois de acordar, mas, se isso acontecer diariamente, 15 a 30 minutos devem ser suficientes para a maioria das pessoas. "Acho que 30 minutos é um bom limite", disse ao jornal.

O 'hurkle-durkle' virou tendência

Risco da prática é atrapalhar a rotina de sono
Risco da prática é atrapalhar a rotina de sono Imagem: Kinga Cichewicz/Unsplash
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Caso você permaneça de pijamas e deitado na cama por algumas horas a mais, você é um adepto da prática. Os objetos presentes e as atividades realizadas durante este momento são pessoais e dependem do tipo de relaxamento favorito. Para algumas pessoas, pode ser uma xícara de café fresco. Para outras, um livro ou simplesmente observar uma paisagem. O "hurkle-durkle", que pode ser feito também no sofá ou à beira de uma lareira, é mais frequente nos finais de semana ou durante as férias, quando o despertador está desativado e a agenda, livre.

@calm Daydreaming about hurkle-durkling. Anyone else? #hurkledurkle #calm #fyp #donothing ? original sound - Calm

Nas redes sociais, o termo se espalhou e conta com milhares de postagens. Nas publicações, os usuários mostram seus respectivos momentos de "hurkle-durkling", ou seja, o cenário e a hora em que estão na cama relaxando. No TikTok, por exemplo, "hurkle-durkle" virou também a tendência de viagem para 2025, em que os usuários compartilham momentos em que estão descansando durante as férias ao redor do mundo. Segundo uma das descrições disponibilizadas no TikTok, o "hurkle-durkle" é "perfeito para manhãs preguiçosas e momentos aconchegantes" captando "a essência do relaxamento".

O conceito é que você fique na cama um pouco mais do que deveria e não sinta qualquer pressão para ir a qualquer lugar ou fazer qualquer coisa. Você está apenas aproveitando o luxo de não ir a lugar nenhum e ficar confortável e aconchegante sob as cobertas. Michael McCuish, vice-presidente da agência de viagens Away From the Ordinary, ao The Washington Post

A prática ganhou notoriedade na imprensa internacional. Segundo o The Washington Post, o costume de estender as horas passadas na cama ao amanhecer aparece também no relatório de tendências de 2025 da Hilton, gigante no setor de hospitalidade. Segundo a empresa, o "hurkle-durkle" tem ganhado um interesse crescente entre os hóspedes em geral, que demoram mais para se levantar e iniciar o dia.

Para o The Washington Post, a tendência descrita no "hurkle-durkle" se enquadra na categoria de turismo de bem-estar. Em expansão, esse segmento deve movimentar mais de um bilhão de dólares este ano, segundo o Global Wellness Institute. Nesta categoria, os viajantes buscam cada vez mais momentos, práticas e técnicas de relaxamento durante seus momentos de pausa na rotina.

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Pacotes especiais para hóspedes que buscam uma experiência "hurkle-durkle" estão se espalhando pelo mundo. Conforme o The Washington Post,o Deer Path Inn, em Chicago (EUA), conta com um pacote especial que inclui curadoria de livros, chás e bebidas temáticas a serem apreciados nos momentos em que os hóspedes acordam e permanecem deitados.

*Com informações de matérias publicadas em 24/06/2023 e 14/04/2024.

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