Falta de prazer pela vida vai além da depressão e pode ter outras causas
Colaboração para VivaBem*
20/01/2025 15h40
A anedonia, ou incapacidade de sentir prazer em atividades que antes eram agradáveis, é um sintoma marcante da depressão, sendo inclusive um dos critérios principais para o diagnóstico da doença. Porém, não são apenas as pessoas depressivas que sofrem com esse sintoma.
A condição também pode estar relacionada a outros problemas psiquiátricos e neurológicos, como transtorno de ansiedade, esquizofrenia, hipotireoidismo, dependência química, Parkinson, estresse pós-traumático, distúrbios alimentares, demência, entre outros. Seja quais forem as circunstâncias, porém, a perda da satisfação em certos aspectos da vida —como os relacionamentos pessoais— merece atenção e exige cuidados, sob o risco de agravamento do quadro e risco de suicídio.
O principal sinal é a perda significativa ou incapacidade de sentir prazer em atividades das quais gostava anteriormente —sair com os amigos, ir ao cinema, passear na praia, ler um livro, fazer compras etc. A pessoa parece estar emocionalmente "vazia", sem sentir nada nem sofrer alterações de humor, independentemente do que aconteça ao seu redor. A sensação é de desconexão com o mundo. É válido ressaltar que a anedonia raramente surge como um sintoma isolado. Normalmente, ela é acompanhada de desânimo, cansaço, fadiga, apatia, diminuição de energia e dificuldade de concentração.
Por que acontece
Segundo psiquiatras e neurologistas, a anedonia é uma questão neurobiológica e que está associada ao chamado circuito de recompensa do cérebro, principalmente na região do núcleo accumbens. Seu surgimento também costuma estar ligado ao aumento da atividade na região frontal do córtex pré-frontal, que, entre outras funções, controla a inibição das respostas emocionais.
Também está ligada à diminuição dos níveis de dopamina, importante neurotransmissor responsável pelas sensações de bem-estar e prazer. Outros neurotransmissores envolvidos são a serotonina, a acetilcolina, a colecistoquinina e o glutamato.
O sistema neuronal de recompensa associa situações vivenciadas como positivas com a sensação de prazer e impulsiona o indivíduo a repeti-las. Na depressão, essa neurotransmissão encontra-se claramente alterada. Fatores externos como desemprego, problemas financeiros e enfrentamento de tragédias também podem suscitar a anedonia.
Como é feito diagnóstico
O diagnóstico clínico é feito a partir do relato e de observações das reações emocionais do paciente e/ou com a ajuda dos familiares. A anamnese envolve perguntas ao paciente sobre sentimentos em relação às atividades corriqueiras que costuma (ou costumava) gostar e sobre seus interesses.
No caso da anedonia, o sentimento ruim não passa e afeta vários aspectos da vida: saúde, trabalho, relacionamentos, família e vida social.
Em relação ao gênero, o feminino está mais relacionado ao sintoma, porque as mulheres, segundo comprovações científicas, são mais suscetíveis a sintomas depressivos. Porém, é fato que os homens procuram menos tratamento especializado para transtornos psicológicos e suicidam-se mais. Já os idosos tentem mais à anedonia pela perda de vitalidade que ocorre com o avanço da idade.
Como funciona o tratamento?
Por ser um sintoma, e não um transtorno propriamente dito, a anedonia obrigatoriamente necessita ser tratada juntamente com a doença. O tratamento consiste na prescrição de medicamentos depressivos e de psicoterapia, associado ao estímulo à atividade física. No caso dos idosos, a exposição ao sol atua como coadjuvante do processo, devido ao mecanismo hormonal de estímulo luminoso sobre a glândula pineal.
Um dado fundamental para ter em mente é que episódios ou transtornos depressivos mais leves respondem bem ao tratamento. Nos casos de maior gravidade, é necessário um tempo mais longo ou até para a vida inteira.
Técnicas de relaxamento e respiração e meditação, como a mindfulness (atenção plena), também são alternativas recomendadas por ajudarem a acalmar a mente, diminuindo os pensamentos negativos e proporcionando maior disposição.
A anedonia é um sintoma que pode ficar residual após a melhora de outros sintomas depressivos. Paradoxalmente, alguns antidepressivos podem levar ao embotamento emocional, piorando o problema —por isso o acompanhamento médico com rigor é essencial, a fim de o paciente receber a medicação adequada.
Procure ajuda
Caso você tenha pensamentos suicidas, procure ajuda especializada como o CVV (www.cvv.org.br) e os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.
*Com informações de reportagem publicada em 12/03/2020