Dois brasileiros já sobreviveram à raiva: 'Nasci de novo', diz um deles

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O Brasil registrou hoje a uma morte por raiva humana no Recife. No país, apenas duas pessoas infectadas sobreviveram desde que os casos começaram a ser mapeados.
O que aconteceu
Mulher de 56 anos morreu no sábado (11) no Recife após não cumprir o tratamento. Ela foi orientada a tomar soro e quatro injeções após ser mordida por um sagui, mas não voltou à unidade de saúde. Ela morreu 44 dias após o incidente.
Apenas cinco pessoas sobreviveram à raiva humana no mundo. Duas delas são brasileiras, segundo o Ministério da Saúde. Entre 2010 e 2024, o país registrou 48 casos. A maioria foi causada por mordidas de morcegos e cães.
Primeiro brasileiro a sobreviver à raiva humana ficou com sequelas após demora no tratamento. Em 2008, Marciano Menezes da Silva foi mordido por um morcego enquanto dormia em Floresta (PE). A família levou o rapaz a uma unidade de saúde no dia seguinte, mas o médico decidiu não aplicar a vacina antirrábica porque ele "não apresentava sintomas" da doença.
Marciano começou a sentir dormência nos braços e febre alta um mês depois e foi levado para Recife. Na capital, especialistas informaram à família que ele teria, no máximo, 10 dias de vida. Mesmo assim, uma equipe do Hospital Universitário Oswaldo Cruz iniciou o protocolo de Milwaukee, usado para tratar a primeira pessoa do mundo que sobreviveu à doença.
Entre as ações do protocolo, estão a indução do coma no paciente e a aplicação de antivirais. A notícia de cura de Marciano foi confirmada pelos médicos pernambucanos em 13 de novembro de 2008. Ele passou um ano no hospital e voltou para casa em 2009.
Marciano usa cadeira de rodas para se locomover e tem dificuldades na fala e na mobilidade das mãos. Ele é a quarta pessoa do mundo a sobreviver à raiva. Em entrevista ao UOL em 2023, Marciano, 32, se diz feliz por estar vivo, sente que "nasceu de novo", mas precisa conviver com sequelas que mudaram a rotina dele para sempre.
A principal [sequela] é que antes eu corria. Agora, não. Marciano Menezes da Silva em entrevista ao UOL em 2023
Outro caso
Em 2018, o amazonense Mateus Castro, 14, foi atacado por um morcego na zona rural de Barcelos, a mais de 400 km da cidade de Manaus. Foi o segundo caso de cura clínica da raiva humana no Brasil.
O adolescente perdeu dois irmãos, também atacados por morcegos, para a doença, mas sobreviveu após ser submetido ao mesmo tratamento de Marciano. Em 2021, ele continuava internado na UTI de um hospital de Manaus com dificuldades motoras e de fala.
Nº de casos no Brasil, segundo o Ministério da Saúde
2015: Dois casos, um na Paraíba transmitido por um felino e outro em Mato Grosso do Sul, transmitido por um cão.
2016: Dois casos, um em Roraima por um felino e outro no Ceará, transmitido por um morcego.
2017: Seis casos, com cinco ocorrências diretas de ataques de morcegos e uma por um gato de rua infectado.
2018: Onze casos, dez deles em um surto em Melgaço, Pará, causado por morcegos, e um no Paraná, relacionado a um ataque de morcego em São Paulo.
2019: Um caso em Santa Catarina, transmitido por um felino.
2020: Dois casos, um no Rio de Janeiro, por morcego, e outro na Paraíba, por raposa.
2021: Um caso no Maranhão, por uma raposa.
2022: Cinco casos, quatro em uma aldeia indígena em Minas Gerais e um no Distrito Federal.
2023: Dois casos, um em Minas Gerais por um bovino e outro no Ceará por um primata não-humano.
2024: Um caso registrado no Piauí, causado por um primata não-humano.
O que é a raiva humana
A raiva é uma encefalite aguda (inflamação do cérebro) causada por vírus transmitido por mamíferos infectados, principalmente cães, gatos, morcegos e saguis. Ao ser mordida por um animal, a pessoa deve procurar imediatamente uma unidade de saúde para receber o tratamento adequado, que inclui soro e vacina, para prevenir a doença.
Os sintomas da raiva começam a aparecer, em geral, entre duas semanas e três meses após o ataque e incluem mal-estar, febre, dor de cabeça, náusea, dor de garganta, fraqueza, dormência e mudanças de comportamento. A doença causa morte na grande maioria dos casos depois do surgimento dos sintomas.
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