Cientistas anunciam ter descoberto o elo entre carne vermelha e câncer
Colaboração para VivaBem*
11/11/2024 13h25
Apesar de a carne vermelha ser uma fonte significativa de proteínas, vitaminas e minerais, diversos estudos já apontaram que seu consumo em grandes quantidades pode elevar os riscos de desenvolver câncer.
O processo biológico responsável por essa relação permanecia desconhecido. Mas cientistas de Singapura parecem ter descoberto a possível "chave" do vínculo.
Foi preciso investigar o intestino
O estudo foi publicado no dia 4 de outubro na revista científica Cancer Discovery e, com base em pesquisas anteriores que indicavam o ferro presente na carne vermelha como um possível fator de risco para o câncer colorretal, os cientistas analisaram amostras desse tipo de tumor para investigar a relação.
Para isso, então utilizaram diversas técnicas, como análise genética, purificação de proteínas, espectrometria e experimentos em camundongos, e constataram que o ferro presente na carne ativa a enzima telomerase por meio de uma proteína chamada pirina. Isso aceleraria o desenvolvimento do câncer.
A telomerase tem seu nome em referência aos telômeros, sequências de DNA que ficam nas pontas dos cromossomos e protegem o material genético. Como a cada divisão celular os telômeros perdem algumas sequências repetidas de DNA, a enzima tem o poder de "remendá-los", restabelecendo o comprimento dos telômeros e evitando seu desgaste.
Quando as células são saudáveis, a atividade da telomerase é rigorosamente controlada. Porém, nas células cancerígenas, a reativação da telomerase permite que a célula se divida de forma ilimitada, favorecendo o crescimento do tumor maligno.
"Mostramos como o ferro-(Fe3+) em conluio com fatores genéticos reativa a telomerase, fornecendo um mecanismo molecular para a associação entre sobrecarga de ferro e aumento da incidência de cânceres colorretais", escreveram os autores do estudo.
O que acontece ao reduzir a carne?
Um artigo de 2022 publicado na revista BMC Medicine mostrou que comer menos carne vermelha ou de frango foi associado a menos riscos de desenvolver um câncer. No entanto, os pesquisadores alertaram que a natureza observacional do estudo não permite conclusões sobre uma relação causal entre dieta e risco de câncer.
Na pesquisa, os autores notaram que pessoas que aderiram a uma dieta com pouca quantidade de carne (comer porções de carne vermelha ou de frango cinco vezes ou menos por semana) tiveram um risco 9% menor de ter câncer de cólon, por exemplo, em comparação com as pessoas que comiam carne com mais frequência. Outros cânceres também foram avaliados.
O risco geral de câncer era 2% menor entre aqueles que comiam carne cinco vezes ou menos por semana e 10% menor entre aqueles que comiam peixe, e 14% menor entre vegetarianos e veganos, em comparação com aqueles que comiam carne mais de cinco vezes por semana.
Eles também descobriram que o risco de câncer de próstata era 20% menor entre os homens que comiam peixe, e 31% menor entre os homens que seguiam uma dieta vegetariana, em comparação com aqueles que comiam carne mais de cinco vezes por semana.
Mulheres na pós-menopausa que seguiram uma dieta vegetariana tiveram um risco 18% menor de câncer de mama do que aquelas que comiam carne mais de cinco vezes por semana.
*Com informações de reportagem publicada em 26/02/2022