'Descobri câncer após exame admissional e tive de amputar as duas pernas'
A estudante de pedagogia Bianca Andrade, de 25 anos, foi do sonho ao pesadelo em menos de um mês. Ao passar por um exame admissional, ela descobriu que estava com câncer. Durante o tratamento, teve uma infecção e precisou amputar as duas pernas.
'Achei que poderia ser um erro'
Bianca estava prestes a entrar no primeiro estágio, em uma escola particular de Vitória (ES). Faltavam apenas os exames admissionais. Ela conta que não tinha qualquer sintoma de doença.
"Depois de fazer o exame de sangue [para o processo admissional], o médico identificou uma alteração nos números de leucócitos [células de defesa do sangue]", diz a jovem. "Ele não liberou o atestado de saúde ocupacional e recomendou que eu procurasse um hematologista com urgência."
Ela repetiu o exame para ter certeza de que a contagem de leucócitos estava correta. "Achei que poderia ser um erro de laboratório. Com os dois resultados do exame, procurei o mais rápido que eu pude um hematologista e consegui uma consulta no Hospital das Clínicas", contou a estudante.
Bianca teve de desistir da oportunidade para começar um longo tratamento com quimioterapia, no Hospital das Clínicas. "Lá, fiz o exame específico na medula óssea, que constatou leucemia linfoide aguda. Essa leucemia é mais comum na infância. Fui internada para iniciar o tratamento quimioterápico e meu médico informou que eu teria de fazer oito sessões de quimioterapia venosa, durante cinco dias consecutivos cada sessão."
Foi desesperador receber a notícia. Minha mente não queria acreditar que era grave.
Bianca Andrade
'Acordei sem as minhas duas pernas'
Bianca recebeu alta em janeiro deste ano, mas o quadro clínico piorou duas semanas depois. Na quinta sessão de quimioterapia, ela teve uma infecção que começou no pulmão e logo se espalhou. Os médicos precisaram intervir e tiveram de amputar os dois membros inferiores de Bianca.
O médico passou antibióticos fortes para tomar em casa. Dois dias depois, fui parar na emergência com febre alta e falta de ar e precisei ser intubada com altas doses de noradrenalina para estabilizar a pressão. Os médicos já não acreditavam que eu voltaria, porque tive uma infecção generalizada, entrei em choque séptico.
Bianca Andrade
A estudante ficou seis dias em coma e, ao acordar, se deparou com as mãos e os pés amarrados e enfaixados. Por causa do quadro infeccioso e da medicação, ficou sem circulação sanguínea nos pés e nas mãos. Os dois pés necrosaram completamente e as pontas dos dedos das mãos também.
Eu acordei desesperada sem as minhas duas pernas. Fizeram a amputação bilateral dos membros inferiores, os dois pés e a metade das pernas. A ficha demorou a cair.
Bianca Andrade
Tratamento e ajuda para reformar casa
Bianca passou a fazer quimioterapia de manutenção e a tomar medicamentos em casa para a leucemia. Esse tratamento vai durar de um a dois anos. Todos os medicamentos são pagos por conta própria. Além disso, ela começou a fazer fisioterapia e aguarda duas próteses para reaprender a andar.
Por causa da deficiência, ela precisa agora de uma reforma na casa onde mora, em Cariacica (ES). "Preciso nivelar o chão e adaptar o banheiro", explica. A família faz campanha por ajuda.
'Quero ser professora da educação infantil'
O sonho de se tornar professora não foi deixado de lado. Bianca pretende voltar a estudar e ser um exemplo para outras pessoas que passam pela a mesma situação.
Agora, é recuperação total para voltar à ativa, trabalhar e estudar. Tranquei a faculdade para me recuperar, mas ainda pretendo voltar. Vou esperar a prótese e a reabilitação para retomar o curso. Ainda pretendo ser professora do ensino infantil.
Bianca Andrade
Infecção e amputação
Na infecção generalizada, o corpo tem de lidar com um quadro muito grave e prioriza mandar sangue para os órgãos como cérebro, coração, pulmões, fígado, rins. Com isso, as extremidades recebem menos sangue que o habitual.
No tratamento da sepse, são utilizadas medicações que podem ajudar nessa priorização do fluxo sanguíneo: isso significa que se aumenta a chance de sobrevida do paciente, mas o risco de complicações também crescem.
O que é a leucemia linfoide aguda
As leucemias são um tipo de câncer que produz células sanguíneas doentes e atrapalha a formação de células saudáveis. A descoberta da leucemia linfoide aguda pode não ser fácil, já que os sintomas costumam ser confundidos com outras doenças —nos adultos e nas crianças.
Os sintomas mais comuns são: fadiga, febre recorrente, infecções constantes, perda de peso sem motivo aparente, manchas roxas pelo corpo, sangramentos e palidez.
* Com informações de reportagens publicadas em 31/07/2023 e 01/09/2023
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