Eles escolheram viver um amor após os 50 anos: 'Tenho meus contatinhos'
Frequentemente, as histórias de amor de filmes e novelas enaltecem a juventude e as paixões arrebatadoras. No entanto, um número crescente de pessoas na faixa dos 50 anos está embarcando em jornadas amorosas que quase nada têm a ver com esse amor romântico retratado nas telas. No Brasil, cerca de 6 milhões de pessoas com 50+ se encontram solteiras, viúvas ou divorciadas, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas). Essas pessoas, segundo versos da artista brasileira Elisa Lucinda, se dispõem ao "banquete de amar de novo".
"Não é como viver um relacionamento aos 20 anos porque há um histórico do que se viveu, que tanto vai contrastar com a relação atual como fundamentalmente vai servir de background", afirma o psicanalista Carlos Mendes Rosa, que é professor da UFT (Universidade Federal do Tocantins).
A perspectiva do tempo, segundo a psicoterapeuta sexual Carla Cecarello, proporciona um valioso aprendizado a respeito do que funcionou bem e do que não deu tão certo e geralmente isso proporciona relacionamentos mais tranquilos.
"Com essa idade, o autoconhecimento permite que tenhamos uma clareza maior sobre nossos desejos e sobre os limites que estamos dispostos a flexibilizar por alguém", explica Cecarello, que é mestre em ciências da saúde pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Em busca de um novo amor
Sem a ilusão de um relacionamento perfeito ou a prerrogativa de gerar descendentes, ter um date aos 50 anos não é apenas sobre encontrar um novo amor, mas também sobre desfrutar de uma companhia agradável.
A aposentada Lúcia Miranda, 58, conta que depois de ter ficado viúva aos 32 e de ter se relacionado com outro homem por 18 anos, não hesita em puxar papo com homens. "Às vezes, numa conversa despretensiosa, você conhece alguém interessante e pode rolar alguma coisa", comenta Lúcia, para quem a maturidade também a deixou mais seletiva.
"Não dá para aceitar qualquer pessoa na minha vida. Sei o que quero e não abro mão de quem sou", reflete. Apesar disso, Lúcia diz que tem conseguido conhecer pessoas interessantes. "Tenho meus contatinhos", revela.
Aos 57 anos, a advogada Adriana Ramos viveu uma cena inesperada quando, uma década após seu divórcio, foi pedida em casamento. O cenário ensolarado à beira do mar e a empolgação do seu então namorado, com quem estava há seis anos, dissiparam qualquer hesitação.
"Não dava para fingir que esse momento não tinha acontecido e eu resolvi deixar o medo de lado para apostar todas as fichas. Só vivendo para saber se algo vai dar certo", argumenta. O casamento aconteceu no ano passado e contou com vestido de noiva, juras de amor e a presença das netas como daminhas.
"Não fui feita para morar sozinha, gosto de ter alguém para compartilhar a vida e ter ele ao meu lado me faz muito feliz", declara.
Singularidades de viver um relacionamento com 50+
Na faixa etária dos 50 anos, situada entre a velhice, que geralmente começa por volta dos 60 anos, e a adultescência, quando se atinge a faixa dos 40 e se está no auge da produtividade, as pessoas ainda mantêm uma considerável vitalidade. No entanto, nessa idade já é comum aparecerem alguns desafios relacionados ao envelhecimento.
A menopausa nas mulheres, por exemplo, pode provocar sintomas como ressecamento vaginal, enquanto os homens podem enfrentar dificuldades na obtenção de ereção. No entanto, essa fase da vida também é marcada pela quebra de tabus e preconceitos, permitindo que as pessoas vivam sua sexualidade com mais liberdade.
Lúcia, por exemplo, relata que se sente mais segura e à vontade agora que está com 58 anos do que quando tinha 20. "Uma vez que você se ama, as coisas fluem, você exala isso para o outro", acrescenta.
Por outro lado, os profissionais ouvidos pelo VivaBem, argumentam que é preciso disposição para eventualmente lidar com traumas de relações passadas "ou corremos o risco de projetar expectativas não atendidas sobre a nova pessoa", pondera Rosa.
O empresário Luiz Farinelli, 58, planejava ficar sozinho e aproveitar a liberdade depois de terminar um casamento que durou 29 anos. Mas a reaproximação com uma colega de faculdade lhe fez rever os planos. "Ela também tinha acabado de se separar e passamos a conversar muito. Foi aí que fomos percebendo uma grande afinidade."
A conexão foi tanta que eles passaram a namorar e logo foram morar juntos. Problemas do antigo casamento, como a falta de diálogo, de cumplicidade e de vida sexual, foram superadas e hoje ele se diz satisfeito com a nova relação. "Somos muito companheiros e estamos abertos a entender as demandas um do outro", diz.
Dicas para quem deseja começar a se relacionar nessa fase da vida
Use a tecnologia a seu favor: aplicativos de namoro e sites especializados podem ser ótimas ferramentas para conhecer pessoas. Eles oferecem a conveniência de se conectar com outros solteiros e podem ser adaptados às suas preferências.
Seja honesto consigo mesmo e com os outros: seja claro sobre o que você deseja em um relacionamento e não hesite em compartilhar seus valores e expectativas com potenciais parceiros.
Aprenda com o passado: suas experiências anteriores podem fornecer lições valiosas. Reflita sobre o que funcionou e o que não funcionou em relacionamentos passados para tomar decisões mais informadas.
Conheça a si mesmo: antes de iniciar um novo relacionamento, é importante ter um bom entendimento de quem você é, quais são seus valores, interesses e objetivos de vida. Isso ajudará a encontrar alguém compatível. "Essa ideia de que os opostos se atraem não é verdade. Isso pode acontecer em raros casos, mas o ideal é buscar pessoas com afinidades porque isso contribui significativamente para que o relacionamento seja saudável, divertido e participativo para ambos", diz Cecarello.
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