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Em intervalo de 2 anos, irmãs descobrem câncer de intestino; entenda sinais

Tatiana Prates (à esq.) e Priscila têm 4 anos de diferença de idade; mais nova descobriu câncer primeiro - Arquivo pessoal
Tatiana Prates (à esq.) e Priscila têm 4 anos de diferença de idade; mais nova descobriu câncer primeiro Imagem: Arquivo pessoal

De VivaBem, em São Paulo

02/08/2023 04h00

Em pouco mais de dois anos, a rotina da família de Priscila e Tatiana Prates passou por grandes mudanças. No curto período entre o final de 2021 e o começo de 2023, as duas irmãs descobriram um câncer colorretal, também conhecido por câncer de intestino ou de cólon.

Primeiro foi a psicóloga Priscila, 43, e depois a empresária Tatiana, 47. A irmã mais velha só descobriu o tumor porque o médico de Priscila orientou que ela também fizesse o exame, a colonoscopia, para verificar se havia alguma alteração no intestino —já que ela não tinha nenhum sintoma.

Dor ao ir no banheiro e sangue nas fezes

Era dezembro de 2021 quando Priscila teve os primeiros sintomas do câncer. Como tinha acabado de retirar uma pedra na vesícula, marcou uma consulta com o mesmo médico.

Tive sangramento nas fezes, bem pouco, e um leve desconforto abdominal. Tive uma vez e, na segunda, fiquei mais atenta. Priscila Prates

O gastroenterologista pediu uma colonoscopia, um exame fundamental para rastrear o câncer colorretal. A ideia, segundo Priscila, que mora em Vitória (ES), era ver se havia alguma inflamação no intestino ou outro problema.

priscila e tatiana - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Priscila (à esquerda), 43, descobriu câncer em 2021
Imagem: Arquivo pessoal

Mas logo depois do procedimento, os médicos já suspeitavam do câncer e enviaram o material para biópsia, que foi quando ocorreu a confirmação do tumor maligno. "Corremos com todos os exames e papeladas no convênio para eu operar o quanto antes", lembra.

Em janeiro de 2022, ainda na fase de picos de covid-19, Priscila passou pela cirurgia de retirada. Depois, foram quatro dias internada e mais 8 ciclos de quimioterapia —entre março e agosto do ano passado.

A psicóloga segue com acompanhamento médico, além de exames de rotina.

Emagreci mais de 20 kg durante a quimioterapia, que é mais 'suave' do que outras, pois não faz com que o cabelo caia. Não tinha fome e ficava muito nauseada. Na época, estava pesando uns 80 kg e, agora, estou com 60 kg. Foi algo bem brusco. Priscila Prates

Sem histórico de câncer, a família ficou surpresa com o caso de Priscila. A única informação que eles tinham era de um primo do pai, que teria morrido devido ao câncer —mas ninguém sabia ao certo qual era.

O médico, então, sugeriu que os pais e a irmã de Priscila fizessem colonoscopia. Foi aí que a empresária também descobriu o câncer de intestino. Os pais não tiveram o diagnóstico.

Tatiana fez colonoscopia e descobriu tumor em fase avançada

A empresária, diferente da irmã, não teve sintomas tão específicos. Ela sentiu, um dia, uma prisão de ventre e estranhou já que os hábitos intestinais são bem "regrados". Além disso, na época em que Priscila descobriu o câncer, ela já sabia que deveria fazer a colonoscopia.

priscila e tatiana - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Tatiana (direita) descobriu câncer depois de fazer colonoscopia já em 2023
Imagem: Arquivo pessoal

No entanto, com a doença da irmã, acabou esquecendo disso para ajudar Priscila com o tratamento. Na época, as duas estavam morando na casa da mãe. Quando foi passar pela consulta anual com a ginecologista, no começo deste ano, comentou sobre o histórico todo e, com isso, a médica solicitou o exame.

"O médico que fez o exame comentou que tinha um tumor e queria pedir biópsia. Ele logo avisou que seria um caso cirúrgico", conta a empresária que mora em Vila Velha (ES). Todos os exames foram feitos para ter certeza de que era um câncer e, logo em seguida, Tati passou no mesmo médico que a irmã.

O tumor já estava obstruindo 90% da passagem no intestino. O médico até perguntou como eu não tinha nenhum sintoma. Era para eu estar passando mal, com febre, e eu fazia tudo normalmente. Tatiana Prates

Segundo Tatiana, foi uma cirurgia complicada, pois o tumor era maior do que os médicos imaginaram. "Como o tumor estava perto do reto, eles quase não conseguiram refazer a ligação entre as duas partes [intestino e reto]. Tive um pouco de necrose na bexiga, fiquei três dias internada e 15 dias usando sonda. Até hoje sinto dor."

Em julho, a empresária também deu início ao tratamento com quimioterapia —serão 4 ciclos, tanto da medicação diretamente na veia quanto o remédio de via oral.

"A quimioterapia do câncer de intestino é menos agressiva. Meu cabelo, por exemplo, não caiu. Vou poder trabalhar e ir à academia quando for liberada", conta.

Priscila (esquerda) e Tatiana - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Priscila (esquerda) e Tatiana se ajudaram muito durante os dois tratamentos
Imagem: Arquivo pessoal

As irmãs fizeram laparoscopia, um procedimento minimamente invasivo, para tratar o tumor —é possível fazer a cirurgia aberta também, mais invasiva. Apenas alguns tumores em estágio inicial podem ser retirados por colonoscopia.

Atualmente, elas seguem com apoio da família e se ajudam sempre que possível. "Comigo foi um baque para a família toda porque era a primeira vez. Com a Tatiana, teve um susto por ser de novo, logo as duas. Mas todos estão mais preparados agora. A Tati sabe exatamente tudo que vivi e o que ela já pode esperar", explica Priscila.

Entenda o câncer de intestino

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Imagem: iStock

De acordo com o Inca (Instituto Nacional do Câncer), 44 mil novos casos de câncer de intestino devem surgir ao ano, no Brasil —70% concentrados nas regiões Sudeste e Sul.

Nas fases iniciais, o câncer não costuma dar sinais. Em fases mais avançadas, podem aparecer sintomas como sangue nas fezes, alteração no hábito intestinal, perda de peso, cólicas, dor ao evacuar, entre outros.

Em 5% a 10% dos casos, o câncer colorretal tem como protagonista uma alteração genética hereditária, na qual o surgimento do câncer antes dos 50 é mais comum.

Doença ainda está associada com outras síndromes, como o câncer colorretal hereditário não poliposo (HNPCC, ou síndrome de Lynch) e a polipose adenomatosa familial (FAP).

Pessoas com colite ulcerativa ou doença de Crohn têm propensão maior ao câncer colorretal.

Geralmente, não há sintomas em fases iniciais, daí a importância da colonoscopia. O exame vai servir tanto para diagnosticar lesões do câncer, como para tratar pólipos. Vandré Cabral Gomes Carneiro, cirurgião oncológico da SBCO (Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica) e diretor do programa de Câncer Hereditário do Hospital Barão de Lucena (PE)

Predisposição hereditária: família precisa ter mais cuidado

Caso a família tenha histórico de câncer colorretal ou pólipos pré-cancerosos, o rastreamento neste paciente, com exame de colonoscopia, começa antes dos 40 anos e deve ser repetido novamente em cinco anos, mesmo que nenhum pólipo tenha sido encontrado na avaliação anterior.

Ao ser identificada a alteração genética associada com câncer colorretal hereditário é importante que o resultado do teste genético e as informações recebidas em consultas de aconselhamento sejam compartilhados com os pacientes. Este cuidado pode beneficiar as futuras gerações, além de pode proporcionar tratamentos mais direcionados.

"Todo mundo que tem câncer de intestino precisa investigar e entender essa questão da predisposição hereditária. Assim, podemos investigar a história natural e evitar o câncer. Além disso, o médico oncologista, sabendo disso, pode mudar o tratamento baseado na assinatura molecular do paciente", explica o cirurgião oncológico.

Mortes por câncer colorretal crescem 41% em uma década

De acordo com dados do Observatório de Atenção Primária à Saúde da Umane com base em estatísticas do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, a doença tem sido cada vez mais comum entre jovens

Em 2021, 21.262 pessoas morreram a devido a diversos tipos de câncer colorretal, como neoplasias malignas do cólon, junção retossigmóide, reto e ânus/canal anal.

Em 2011, foram 14.017 mortes, uma taxa de 7,4 óbitos por 100 mil habitantes. Já em 2001, 8.089 pessoas morreram da doença, o que corresponde a uma taxa de 4,7 mortes por 100 mil habitantes.

De 2011 para 2021, a taxa de mortes pela doença a cada 100.000 habitantes aumentou 42% e de 2001 para 2021, nos últimos 20 anos, mais que dobrou (um aumento de 123%).

Os gastos médios do SUS por internação também aumentaram 40% em uma década: de 1.884 reais em 2012 para 2.647 reais em 2022.

O número de colonoscopias aumentou 96% na última década (de 154.438 em 2011 a 303.272 em 2021).

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