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Inspiração pra fazer da atividade física um hábito


Fraturas, dor no pé, infarto: 10 problemas de correr em excesso sem preparo

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Marcelo Testoni

Colaboração para VivaBem

08/05/2023 04h00

Muitos sedentários dispostos a rever seus hábitos de saúde se empolgam com vídeos e relatos que encontram na internet sobre pessoas que queimaram gordura e se tonificaram apenas fazendo horas de corrida todos os dias. Mas não é tão simples assim.

Sem condicionamento físico adequado, aquecimento e avaliação médica prévia, as chances de se dar mal são grandes.

Quem exagera na frequência e intensidade dos treinos de corrida, sem levar em consideração cuidados, limitações naturais e movido apenas por empolgação, dias ensolarados e desejo de emagrecer a todo custo, está sujeito a se prejudicar, às vezes seriamente.

Lesão labral

Querer correr feito atleta sem flexibilidade e amplitude no quadril, que ainda pode apresentar musculaturas tensionadas e encurtadas e anormalidades estruturais, pode predispor lesão no labrum (estrutura na cabeça do fêmur).

Ou seja, uma fissura na cartilagem da articulação do quadril e que se encaixa ao osso fêmur e amortece impactos. A condição gera dor na virilha, estalos e pode levar a osteoartrite.

Síndrome do piriforme

Osso pélvico, bacia, quadril - iStock - iStock
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Piriforme é um músculo importante para a mobilidade do quadril e estabilização do assoalho pélvico. Na síndrome, ocorre uma contração e disfunção nele e em outros músculos, como os glúteos, por tensão, falta de alongamento e fortalecimento e atenção à própria postura em movimento, causando disfunções, tendinites, dor crônica, espasmos e compressão de nervos.

Impacto femorocetabular

Fator envolvido na já citada lesão labral, o impacto femoroacetabular nada mais é que o excesso de contato, ou impacto, entre o fêmur e o acetábulo (superfície articular do quadril) em virtude de algum tipo de crescimento ósseo nessas regiões. Estima-se que a mecânica errada de movimento seja uma das culpadas e correr em excesso só agrava essa condição.

Esporão de calcâneo

Esporão é uma proeminência óssea que pode aparecer na sola do pé, como também atrás do tendão de Aquiles, no osso calcâneo, que dá o formato pontudo do calcanhar. Em corredores que passam dos limites, surge com excesso de impacto nos pés e microtraumas de repetição. Quando dói, em decorrência da inflamação que gera, não se consegue ficar em pé e caminhar.

Fascite plantar

Fascite plantar, dor na sola do pé, massagem no pé - iStock - iStock
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A fáscia plantar é um ligamento responsável por conectar o calcanhar com os ossos dos dedos do pé, recobrindo sua sola como um amortecedor. Falta de alongamento dos músculos das coxas e pernas e decorrente sobrecarga nos pés, que também estão sujeitos a impactos em série, gera inflamação e dor nela, que se não for tratada, pode afetar joelhos, quadril e coluna.

Pubalgia

Também muito comum em jogadores de futebol, é um desequilíbrio que afeta a articulação da sínfise púbica (na frente do quadril), assim como os tendões do músculo reto abdominal e adutores (na parte interna da coxa). Gera inflamação e dor, sentida no inferior do abdome e que irradia para dentro das coxas, região genital, testículos e períneo, podendo virar crônica.

Fraturas por estresse

Geradas por movimentos sequenciais somados à falta de equilíbrio, excesso de peso, calçado inadequado, tipo de pisada, envelhecimento, deficiências nutricionais e problemas hormonais, elas afetam regiões distintas, como pés, tornozelos, joelhos e quadris. Por exigirem cirurgia e imobilização, representam um perigo sobretudo para idosos, afetando sua qualidade de vida.

Overtraining (sobretreinamento)

O treino acima dos limites físicos, ou ainda síndrome do sobretreinamento, é caracterizado pela perda da performance e recuperação física inadequada acompanhadas de insônia, falta de apetite, insegurança, distensões, tendinites, fraturas, cansaço permanente, que não cessa com descanso habitual e, nas provas de longa distância, queda de pressão, desmaios e taquicardia.

Acidentes vasculares

cérebro, derrame, AVC - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

Infarto e AVC (acidente vascular cerebral) não são incomuns durante corridas. Durante o frio, por exemplo, a mortalidade por doenças cardiovasculares prévias pode aumentar até 30%, pois o coração trabalha em um ritmo mais acelerado. Quanto às artérias cerebrais, cerca de 5% da população tem aneurisma e se ele romper por pico de pressão, pode matar ou deixar sequelas.

Complicações na coluna

Quem apresenta desvios de coluna (hiperescoliose, hiperlordose e hipercifose), desgastes, hérnia de disco, dor ciática, entre outros sintomas, deve tomar muito cuidado ao correr. Em caso de incômodos, fisgadas, dormência, fraqueza em membros, o treino deve ser suspenso imediatamente, para não agravar os problemas e desencadear outros ainda mais perigosos.

Como correr com segurança

A corrida, como qualquer atividade física, faz muito bem à saúde física e psicológica. Porém, deve ser introduzida com equilíbrio, visando bom desempenho e continuidade, um processo que deve ocorrer gradualmente e, de preferência, com acompanhamento de instrutores, nunca com aumentos repentinos de treinamento, seja com volume, velocidade e quilometragem.

Corrida, pernas de homem correndo, exercício - iStock - iStock
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Quem pratica esportes de alto impacto, o que inclui ainda futebol, tênis, vôlei, basquete, também precisa deixar seu corpo, articulações, ossos e músculos se regenerarem, respeitando descanso, sono, hidratação e alimentação. Para se proteger ainda mais, vale incluir atividades, como musculação e pilates, que ajudam a amenizar os efeitos e a fortalecer a musculatura.

O acompanhamento médico, como já explicado, também é fundamental na prevenção de problemas, para que todos os fatores possam ser rastreados e corrigidos a tempo. Indicação particularmente válida quando há antecedentes familiares, pois há maior risco de incidências.

Além disso, é necessário dar atenção ao calçado. Ele precisa estar adequado para seu esporte, ajudar a absorver impactos e estabilizar adequadamente pé e tornozelo. Para uma escolha certeira, realize antes um exame de baropodometria, que avalia seu tipo de pisada e postura.

Fontes: Fabiano Nunes, ortopedista da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo; Fabrício Buzatto, médico do esporte e fisiatra do Hospital das Clínicas da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo); João Vicente da Silveira, cardiologista do Hospital Sírio-Libanês (SP); Júlio Barbosa, médico pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e neurocirurgião; e Márcio de Castro Ferreira, ortopedista do HCor (Hospital do Coração), em SP.