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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Ela diz que mesmo com HIV indetectável não pode amamentar filha; entenda

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Marcela Schiavon

Colaboração para o VivaBem, de Santo André (SP)

30/12/2022 04h00

A dona de casa e influenciadora Jéssica Rodrigues Mattar, 31, está grávida de sua terceira filha, Maria Eduarda. A jovem, de Além Paraíba, Minas Gerais, descobriu que tinha HIV em maio de 2021, após uma hemorragia. Desde então, Jéssica decidiu falar abertamente sobre o assunto no TikTok, para as pessoas se informarem mais sobre o vírus. "Ajudar enriquece a alma", diz.

Jéssica tem mais de 51 mil seguidores e acumula 736 mil curtidas em seus conteúdos no aplicativo. Em um de seus vídeos, publicado em 9 de dezembro, ela explicou que, por ter o vírus, mesmo que não detectável, não poderia amamentar sua filha. "O governo disponibiliza fórmula de leite até os seis meses do bebê. E fornece medicamento para mãe tomar e secar o leite", escreveu na legenda do vídeo.

Até o momento, esse, que é um de seus vídeos mais populares, conta com 2,1 milhões de visualizações e mais de mil comentários. Entre eles, muitas dúvidas. "Por favor, me explique. Como assim indetectável?", escreveu uma usuária. "Pelos comentários, fico feliz que as pessoas estão se informando, mas ainda tem muita ignorância sobre esse assunto", relatou outra pessoa.

O VivaBem conversou com especialistas e listou abaixo o que você precisa saber sobre gravidez e pessoas que têm HIV:

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1. HIV indetectável x detectável

De acordo com Marcelo Otsuka, infectologista pediátrico, o HIV indetectável é um sinal de que a infecção pelo vírus está controlada. Isso acontece porque é possível ter a infecção sem manifestações clínicas e sem circulação viral em nosso organismo.

A ginecologista e obstetra Etiene Galvão acrescenta que o HIV indetectável é um bom sinal para futuras gravidezes, porque significa que a carga viral está abaixo de 40 cópias por mililitro de sangue ou menos.

2. É possível não passar o vírus ao bebê?

Sim. Mas Otsuka explica que mesmo quando indetectável, como no caso de Jéssica, cuidados são necessários para que a criança não desenvolva a doença. Entre eles, medicamentos durante a gravidez, o parto e até para o recém-nascido.

"Hoje, a profilaxia da transmissão vertical está bem estabelecida, então existem protocolos a serem seguidos. O ideal é que o parto seja cesárea com bolsa sem rompimento. O bebê logo toma banho e evitam-se procedimentos invasivos", diz Sophia Gairim, pediatra e neonatologista.

O Brasil possui um programa de erradicação de HIV e sífilis neonatais com premiação para as cidades que cumprirem metas visando esse objetivo, diz o infectologista pediátrico. Para que isso se concretize, é preciso que haja acompanhamento tanto da gravidez quanto do recém-nascido. Além do cuidado com as medicações da mãe e do bebê.

Como em qualquer gestação, também é necessário que haja amparo e cuidado familiar. "Infelizmente, o HIV ainda é uma doença com estigma grande, que afasta as pessoas. Então, é claro que é preciso ter um ambiente familiar propício para que essa criança chegue", diz o infectologista.

@jess.mattar A recomendação para se minimizar ao máximo o risco de transmissão do HIV ao bebê inclui não amamentar, mesmo com carga viral indetectável. #fyp? #hiv #soropositivo #gestante #viral ? Pagodão do Birimbola (Tchubirabirom) - Os Quebradeiras & Machadez & Mousik

3. Dá para o parceiro não pegar?

Se a pessoa com HIV positivo tiver um tratamento adequado, um controle regular com exames e se a carga for indetectável, seu parceiro pode não adquirir o vírus.

O atual parceiro de Jéssica ficou receoso assim que recebeu a notícia de que ela tinha HIV. Ele fez o teste e não tem o vírus, então o casal é sorodiferente, já que um vive com HIV e outro não. Hoje, aceita a situação e está empolgado para o nascimento de sua filha.

4. Gravidez é arriscada?

A gravidez em pessoas com HIV é considerada de risco, já que precisa ser acompanhada de perto a fim de checar a saúde da gestante e do bebê, evitando efeitos colaterais dos medicamentos na mãe, por exemplo. Isso é o que pontua a pediatra e neonatologista Sophia Gairim.

Ela ressalta que tanto gestantes quanto não gestantes com HIV possuem tratamento coberto pelo SUS (Sistema Único de Saúde). E reafirma que o SUS fornece fórmulas para bebês até os seis meses.

5. Amamentação x HIV

Para a mãe que tem HIV, Garim informa que amamentar é uma das poucas contraindicações. E, segundo a ginecologista e obstetra Etiene Galvão, não é indicado amamentar mesmo se houver o diagnóstico com vírus indetectável. Isso porque, mesmo que não detectável, ainda pode ser transmitido para o recém-nascido através da amamentação.

A gravidez continua sendo considerada de risco pela chance de transmissão da mãe para o bebê de forma vertical, em três situações: gestação, parto e amamentação. A taxa de transmissão vertical, inclusive, está baixando no Brasil, destaca a especialista.

Jéssica grávida da terceira filha - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

6. HIV e Aids

Pessoas, principalmente adolescentes, entram em contato com Jéssica para pedir ajuda e conselhos sobre o vírus, já que seus conteúdos buscam um viés informativo. É preciso esclarecer sobre a doença e como preveni-la, além de instruir menores de idade que convivem com a infecção pelo HIV e evitar doenças causadas pelo vírus, como a Aids.

O HIV não mata, mas a Aids, sim. Perdi uma pessoa muito querida para a Aids, logo depois do meu diagnóstico, e prometi para mim mesma que eu iria tentar ajudar as pessoas para que elas não morressem. Quero criar uma ONG para acolher pessoas com o vírus que sofrem preconceito e precisam de ajuda. Jéssica Mattar, dona de casa e influenciadora

O Brasil registrou queda de infecções por HIV, mas os casos aumentaram entre jovens. Em relação à taxa de detecção de Aids, ou seja, quando já há a manifestação da doença, a maior concentração também se dá entre pessoas de menos idade.

Por isso, para melhorar a qualidade de vida e para a prevenção do HIV, recomenda-se o uso de preservativos durante as relações sexuais. O cuidado vale para não haver transmissão do vírus e evitar, também, outras IST (Infecções Sexualmente Transmissíveis).

Fontes: Etiene Galvão, médica graduada pela UFPB (Universidade Federal da Paraíba) com residência em ginecologia e obstetrícia pela e título de especialista em ginecologia e obstetrícia; atualmente, é professora aposentada de ginecologia do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da UFPB; professora coordenadora do módulo Saúde da Mulher do Unipê (Centro Universitário de João Pessoa) e professora coordenadora da Atenção à Mulher da FCM Unicamp (Faculdade de Ciências Médicas); Sophia Blanco Gairim, pediatra e neonatologia, graduada em medicina pela Faculdade de Medicina da UNISA (Universidade da Santo Amaro), com residência médica em pediatria pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e neonatologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP; também é pós-graduada em pediatria integrativa; Marcelo Otsuka, infectologista pediátrico e diretor técnico de saúde II do HIDV (Hospital Infantil Darcy Vargas), mestre em pediatria pela FCMSCSP (Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo), vice-presidente do Departamento de Infectologia SPSP (Sociedade de Pediatria de São Paulo), membro dos Departamentos de Imunizações e Pediatria Legal da SPSP, coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), ICHS (The International Immunocompromised Host Society) e SLIPE (Sociedade Latino Americana de Infectologia Pediátrica).