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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Quanto mais opções, pior: como escolher e tomar decisões sem sofrimento

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Imagem: iStock

Isabella Abreu

Colaboração para o VivaBem

12/12/2022 04h00

Você costuma se sentir dividido entre duas ou mais opções que parecem igualmente atraentes? Se sim, saiba que não está sozinho. Todos os dias, precisamos tomar inúmeras decisões, grandes e pequenas. Desde escolher qual roupa vai vestir, qual caminho vai fazer até o escritório, o que vai jantar, até qual oferta de emprego deve aceitar e em qual cidade deseja morar.

O crescimento do universo de escolhas tornou-se, entretanto, um problema, e não uma solução. Isso porque o grande número de decisões que requerem atenção pode ser desgastante.

"A variedade de escolhas em nossa cultura de consumo é positiva. No entanto, na medida em que a quantidade de escolhas cresce, seus aspectos negativos aumentam gradativamente até nos sufocar. Quando extrapola os limites da normalidade, deixa de ser fonte de libertação e autonomia e passa a ser fonte de fraqueza", observa o economista e psicólogo americano Barry Schwartz, autor do livro "O Paradoxo da Escolha - Por Que Mais É Menos".

Mas como escolher sem sofrimento?

Álvaro Machado Dias, neurocientista e professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), explica que é preciso, em primeiro lugar, considerar o quanto cada decisão é importante. É um erro pensar que devemos investir toda nossa energia mental nas mais singelas decisões. Mais vale assumir o risco de errar na escolha de um prato em um restaurante novo, por exemplo, do que perder meia hora tentando otimizar isso.

"Em contraste, a ideia de que devemos tomar as mais importantes decisões da vida de maneira puramente intuitiva, sem fazer um levantamento detalhado das informações disponíveis, é só uma desculpa para ser preguiçoso. Uma desculpa que pode custar caríssimo. Levar o que escolher a sério é uma forma profunda de sabedoria", enfatiza.

Ele avalia que há dois principais fatores que dificultam as tomadas de decisão: informação insuficiente e incerteza, isto é, risco desconhecido. Em situações em que faltam informações (como numa mudança de emprego para uma empresa cujo clima organizacional você desconhece), nós complementamos a narrativa mental sobre a qual se estrutura a decisão de maneira puramente imaginária. "Isso, frequentemente, leva a cenários distorcidos, que mais refletem nossos medos e aspirações do que a realidade", diz.

Do mesmo modo, quando não conseguimos determinar a probabilidade de que algo aconteça (como numa viagem que terá seu curso fortemente determinado pela chuva e que está a meses de distância), tendemos a fazer atribuições que destoam do que uma abordagem racional sugeriria (no caso, de uma análise do regime pluviométrico na região no período da estadia). "Em suma, as situações em que a objetividade é esquecida exigem estratégia e equilíbrio emocional; é aí que muitos falham", avalia.

Mulher deitada em sofá com app da Netflix aberto em tablet - Getty Images - Getty Images
Até escolher algo no streaming pode ser difícil
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O que levar em conta na hora da escolha

Ainda que não haja fórmula pronta para aprender a tomar decisões mais inteligentes, algumas estratégias podem ajudar. Confira:

  • Concentre-se no que você realmente quer

Segundo Ralph Keeney, autor de Give Yourself a Nudge: Helping Smart People Make Smarter Personal and Business Decisions (ou dê a si mesmo uma cutucada: ajudando pessoas inteligentes a tomar decisões pessoais e de negócios mais inteligentes, em tradução livre), sem objetivos claros para o que desejamos alcançar com uma decisão, podemos nos concentrar nas coisas erradas.

Ele aconselha a se perguntar: "O que espero alcançar com essa escolha?" e focar em aspectos que não são facilmente quantificáveis.

Isso pode até ser aplicado a decisões menores, como onde jantar com os amigos. Se seu objetivo é ter uma conversa significativa, você deve escolher um ambiente mais silencioso. Se um de seus amigos precisar voltar cedo, você deve optar por um local próximo à casa dele que aceite reservas.

Quando se trata de coisas maiores, essa abordagem ainda funciona. Por exemplo, ao avaliar várias ofertas de emprego, pense em quais aspectos tornariam sua vida melhor, além do salário: equilíbrio entre vida pessoal e profissional, tempo de deslocamento, benefícios.

  • Sempre que possível, decida com antecedência

Em alguns casos, tomar uma decisão antes de estar realmente em um cenário específico pode ajudar a evitar ser influenciado por forças externas ou acabar sobrecarregado com o número de opções disponíveis.

Ir ao supermercado munido de uma lista e escolher quanto dinheiro você deseja gastar antes de sair à noite são exemplos de decisões que valem a pena tomar com antecedência. O pré-compromisso com um plano pode impedir que você ceda a impulsos ruins e tome decisões das quais se arrependa mais tarde.

  • Faça uma lista de prós e contras

Determinar o que você pode ganhar ou perder em cada caso, especialmente para decisões importantes, pode ajudá-lo a restringir as opções ou escolher aquela com mais vantagens.

Quando você se força a definir o que é bom e o que é ruim em cada escolha, precisa pensar sobre suas prioridades e valores. Isso também permite que você se visualize em cada cenário para que possa determinar com qual opção você se sente mais confortável.

  • Desacelere o processo de decisão

Saulo Velasco, psicólogo e professor da The School of Life, destaca a importância de desacelerar e refletir com calma, observando o que está acontecendo e como estão as nossas emoções. Até dormir pode ser útil.

"É comum encontrarmos soluções para dilemas importantes da vida quando não estamos diretamente pensando sobre aquilo. Quando fazemos essa pausa, nosso cérebro continua pensando e estabelece novas relações, especialmente sem o crivo do nosso julgamento consciente", afirma.

Além disso, mudar de espaço físico também pode ajudar a avaliar mais claramente sobre as nossas escolhas. Saia do ambiente, dê uma caminhada, encontre um novo lugar para pensar.

  • Reduza suas opções

Na dúvida sobre o que fazer, tente limitar o número de possibilidades. "Quanto mais opções de escolha nós temos, mais perdemos ao escolher uma única delas", diz Velasco. Ou seja, também é preciso aceitar que, como diz o ditado, cada escolha é uma (ou várias) renúncia(s).