Oxicodona é analgésico potente que traz alívio para dores como a oncológica

No mercado desde os anos 1950, a oxicodona é um analgésico semissintético classificado como opioide, e é utilizado para o tratamento de dores moderadas a intensas. O medicamento está no centro da "epidemia de opioides" nos EUA —segundo o CDC, é um dos três mais envolvidos em mortes por overdose de opioides no país, ao lado de metadona e hidrocodona.

O que é oxicodona?

Trata-se de um analgésico potente que possui em sua formulação um componente, a tebaína, presente no ópio. É por isso que o medicamento é classificado como um opioide.

Dadas as características desse medicamento ele só deve ser utilizado sob prescrição médica, e só pode ser vendido com retenção da receita.

Em quais situações a oxicodona deve ser usada?

O fármaco é utilizado na prática clínica há mais de 70 anos e seus efeitos são bastante conhecidos. Contudo, é importante que você faça o uso racional desse remédio, ou seja, utilize-o de forma apropriada, na dose certa e pelo tempo adequado.

Semelhante à morfina, ele pode ser indicado no tratamento de todo tipo de dor moderada a intensa e também naquelas cuja extensão requer o uso contínuo de analgésicos por tempo prolongado, principalmente quando não há resposta a analgésicos menos potentes.

Conheça a diferença entre oxicodona e morfina

A morfina é uma substância natural extraída do caule de um tipo de papoula. A oxicodona é também obtida da mesma planta, mas sofre modificação parcial. Por isso, ela é chamada de medicamento semissintético.

A oxicodona é considerada mais potente do que a morfina, causa menos sedação, delírio, vômito e coceira —no entanto, provoca mais prisão de ventre. As explicações são da farmacêutica Amouni Mourad, assessora técnica do CRF-SP.

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Entenda como ela funciona

Quando tomada, a oxicodona é rapidamente absorvida e distribuída por vários tecidos não relacionados ao seu efeito analgésico, como por exemplo, o centro respiratório do cérebro, músculos, pupilas, sistemas gastrointestinal e cardiovascular, e até o imunológico, entre outros. Ela então é metabolizada pelo fígado, e será eliminada, principalmente, pela urina.

O fármaco atua no SNC (Sistema Nervoso Central) e no cérebro para bloquear as mensagens de dor para o resto do corpo. Espera-se que esses efeitos já sejam observados após cerca de 1 hora da administração, e devem durar por 12 horas.

O medicamento pode causar dependência?

Sim, principalmente quando são necessárias doses de 40 mg a 80 mg ao dia. E esta é a razão pela qual a medicação deve ser utilizada apenas pelo tempo necessário. Quando usada por períodos prolongados, o paciente deve ser constantemente monitorado.

Como todos os medicamentos da sua classe, a oxicodona age no SNC e, quando usado de forma crônica, pode levar ao que os médicos chamam de tolerância farmacológica, fala a anestesiologista Josenília Gomes, coordenadora do Serviço de Dor do CH-UFC/Ebserh.

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"Essa tolerância faz que a dose inicial não produza o mesmo efeito, o que requer o aumento progressivo da dosagem para manutenção do efeito analgésico desejado", acrescenta a médica.

Além disso, o fármaco pode provocar dependência física, provocando sintomas de sua retirada quando o tratamento é interrompido sem a devida orientação do profissional da saúde. Caso o tratamento não seja descontinuado de forma gradual, podem aparecer as seguintes manifestações:

  • Inquietação
  • Lacrimejamento
  • Coriza
  • Bocejamento
  • Transpiração
  • Calafrio
  • Dores musculares ou articulares
  • Dilatação da pupila
  • Irritabilidade
  • Ansiedade
  • Dor nas costas
  • Cólicas abdominais
  • Insônia
  • Náusea ou vômitos
  • Perda do apetite
  • Aumento da pressão arterial
  • Elevação da frequência respiratória ou cardíaca

Há ainda o potencial do desenvolvimento de dependência psicológica, especialmente entre pessoas com tendências a vícios ou histórico de abuso de substâncias como álcool e drogas.

Conheça as apresentações disponíveis

Oxycontin® é a marca de referência do oxicodona, mas você pode encontrar as versões genéricas. Confira as apresentações e doses disponíveis:

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  • Comprimidos revestidos de liberação prolongada - 10 mg, 20 mg, 40 mg

Quais são as vantagens e desvantagens desse medicamento?

De acordo com a farmacêutica Danyelle Cristine Marini, diretora do CRF-SP, a maior vantagem da oxicodona é que ela é efetiva no alívio de um tipo de dor que não responde ao tratamento com analgésicos menos potentes.

Apesar disso, a especialista destaca que seus efeitos colaterais exigem monitoramento cuidadoso, principalmente nos primeiros dias da terapia ou quando é preciso alterar a dosagem.

"Encontrar a dose certa para cada paciente pode ser uma tarefa difícil para os médicos. Doses inadequadas têm o potencial de provocar reações indesejadas, como a supressão da respiração (depressão respiratória), que pode ser fatal, sem falar das suas características que a tornam viciante — o que aumenta o risco de abuso", completa Marini.

Saiba quais são as contraindicações

De modo geral, o grupo de medicamentos ao qual a oxicodona pertence é considerado eficaz e seguro, mas existem algumas contraindicações e cuidados relacionados ao perfil de seus efeitos colaterais.

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Assim, o fármaco não deve ser usado por pessoas que sejam hipersensíveis (ou tenham conhecimento de que alguém da família tenha tido reação semelhante) ao seu princípio ativo ou a qualquer outro componente de sua fórmula.

Fique também atento na presença das seguintes condições:

  • Gravidez e lactação
  • Idade inferior a 18 anos
  • Depressão respiratória (como hipóxia ou hipercapnia)
  • Problemas respiratórios (DPOC e asma grave)
  • Paralisia intestinal (íleo paralítico)
  • Problemas de esvaziamento gástrico
  • Idade avançada
  • Doenças da tireoide
  • Insuficiência adrenal
  • Aumento da próstata
  • Histórico de adição com opioides, álcool, medicamentos ou drogas ilegais
  • Doenças inflamatórias do intestino e pâncreas
  • Doenças que causem pressão cerebral
  • Tendência a convulsões ou epilepsia
  • Uso de antidepressivos do tipo IMAO (inibidores da monoaminoxidase)
  • Uso no pré e pós-operatório (cirurgias do intestino)
  • Problemas nos rins ou fígado

Crianças e idosos podem usar oxicodona?

O fabricante adverte o usuário que o medicamento não foi testado em pessoas com idade inferior a 18 anos. Portanto, o uso dele em menores de 18 anos é desaconselhado. Apesar disso, a literatura internacional e agências reguladoras dos Estados Unidos e da Europa autorizam o uso a partir dos 12 anos e até em bebês, ressaltada a maior propensão a efeitos colaterais.

Assim, a indicação do medicamento fica a critério do médico, a quem cabe avaliar riscos e benefícios para cada paciente.

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Quanto aos idosos, não há contraindicação, mas o médico deve ficar atento às suas condições gerais de saúde e à presença de efeitos colaterais como quadros de hipotensão, por exemplo, além do uso de outros medicamentos que poderiam alterar a ação do fármaco. Outra medida a ser adotada nesse grupo é o eventual acerto da dose que, por vezes, deve ser menor.

Estou grávida e pretendo amamentar. Posso usar oxicodona?

A medicação é capaz de atravessar a barreira da placenta. A exposição prolongada a ela poderia ter como consequência a depressão do sistema respiratório do bebê, sintomas de abstinência, parto prematuro, redução do crescimento fetal e malformações congênitas.

Já entre as lactantes, a preocupação é que a oxicodona pode passar pelo leite materno em variadas quantidades.

Isso significa que cabe ao médico advertir a paciente sobre tais eventos, bem como avaliar os riscos e benefícios do uso desse medicamento durante a gravidez e a amamentação, considerando os eventuais prejuízos para a saúde da mãe e do bebê.

Qual é a melhor forma de consumi-lo?

O medicamento deve ser administrado nos mesmos horários todos os dias e de acordo com o esquema de doses indicado pelo médico. Caso tenha dúvidas, fale novamente com seu médico ou peça orientações a um farmacêutico.

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Evite aumentar ou reduzir ou aumentar as doses prescritas, assim como o tempo de tratamento.

Os comprimidos devem ser engolidos inteiros, com bastante água, e não mastigado, quebrado ou esmagado — e pode ser junto ou não a alimentos.

Existe uma melhor hora do dia para usar esse medicamento?

Não. O importante é que a oxicodona seja utilizada na forma indicada pelo médico.

O que faço quando esquecer de tomar o remédio?

Tome-o assim que lembrar e reinicie o esquema de uso do medicamento. É desaconselhado tomar doses em dobro de uma vez para compensar a dose que foi esquecida. Se você sempre se esquece de tomar seus remédios, use algum tipo de alarme para lembrar-se.

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Quais são os possíveis efeitos colaterais?

Este medicamento é considerado bem tolerado, seguro e eficaz quando usado em doses adequadas e pelo menor tempo possível. Apesar disso, os efeitos colaterais mais comuns são fadiga, prisão de ventre, tontura, boca seca, dor de cabeça, náusea, coceira, sonolência, sudorese e vômito.

Veja outras manifestações menos comuns:

  • Alterações no ritmo cardíaco
  • Pressão baixa (hipotensão)
  • Palpitações
  • Sensibilidade à luz
  • Rubor na pele
  • Perda do apetite
  • Diarreia
  • Confusão
  • Irritabilidade
  • Tosse

Interações medicamentosas

Algumas medicações não combinam com a oxicodona. E quando isso acontece, elas podem alterar ou reduzir seu efeito. Avise o médico, farmacêutico ou dentista caso esteja fazendo uso (ou tenha feito uso recentemente) das substâncias abaixo descritas, que são apenas alguns exemplos dessas possíveis interações. Confira:

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Embora não existam muitos dados na literatura médica sobre interação com suplementos, é indicado evitar tomar a oxicodona ao mesmo tempo em que se usa o hipérico (Hypericum perforatum). Antes de iniciar o tratamento com o medicamento, informe ao médico ou ao farmacêutico sobre eventual uso desses produtos.

Interação com álcool

O medicamento é considerado um depressor do SNC. Quando utilizado junto ao álcool, pode ter esse efeito potencializado, o que poderia resultar em sonolência, ou aumento do risco para efeitos colaterais sérios como depressão respiratória — o que poderia suspender a respiração e levaria à perda da consciência.

Enquanto estiver sob tratamento com esta medicação, evite o uso de bebidas alcoólicas.

Interação com exames laboratoriais

O próprio fabricante adverte que o uso desse medicamento pode levar a um resultado positivo em testes anti-doping, informação importante para quem é atleta.

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Saiba como reconhecer a adicção

Os sintomas descritos a seguir podem sinalizar que você se tornou adicto do medicamento. Caso observe alguma dessas manifestações, fale com seu médico o mais rápido possível. Confira:

  • Você sente que precisa tomar o medicamento para além do tempo prescrito pelo médico;
  • Você sente que precisa de uma dose maior do que a recomendada;
  • Você tem usado o remédio por razões diferentes da prescrição médica;
  • Ao parar com a medicação, você sente mal-estar e só se sente bem quando retoma o seu uso

Em casa, coloque em prática as seguintes dicas:

  • Observe a validade do medicamento indicado no cartucho. Lembre-se: após a abertura, alguns fármacos têm tempo de validade menor, o que também é influenciado pela forma como você o armazena;
  • Leia atentamente a bula ou as instruções de consumo do medicamento;
  • Ingira os comprimidos inteiros. Evite esmagá-los ou cortá-los ao meio -- eles podem ferir sua boca ou garganta;
  • Em caso de cápsulas, não as abra para colocar o conteúdo em água, alimentos ou mesmo para descartar. Sempre use a cápsula íntegra;
  • No caso de suspensões orais, agite bem o frasco antes de usar. E sempre limpe o copo dosador antes e após o uso. E armazene junto ao frasco do medicamento, para evitar misturar com outros medicamentos;
  • Prefira comprar remédios nas doses justas para o uso indicado para evitar sobras;
  • Respeite o limite da dosagem diária indicada na bula;
  • Escolha um local protegido da luz e da umidade para armazenamento. Cozinhas e banheiros não são a melhor opção. A temperatura ambiente deve estar entre 15°C e 30°C;
  • Guarde seus remédios em compartimentos altos. A ideia é dificultar o acesso às crianças;
  • Procure saber quais locais próximos da sua casa aceitam o descarte de remédios. Algumas farmácias e indústrias farmacêuticas já têm projetos de coleta;
  • Evite descarte no lixo caseiro ou no vaso sanitário. Frascos vazios de vidro e plástico, bem como caixas e cartelas vazias podem ir para a reciclagem comum.

O Ministério da Saúde mantém uma cartilha (em pdf) para o Uso Racional de Medicamentos, mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos - Fiocruz) (em pdf) ou do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (também em pdf). Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.

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Fontes: Amouni Mourad, farmacêutica, professora do curso de farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP) e assessora técnica do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia de São Paulo); Danyelle Cristine Marini, farmacêutica e diretora do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia de São Paulo), professora do curso de medicina na Unifae (Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino/São João da Boa Vista) e nas Faculdades Integradas Maria Imaculada (Mogi Guaçu/SP); Josenília Gomes, médica anestesiologista, coordenadora do Serviço de Dor do CH-UFC (Hospital Universitário Walter Cantídio, do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará), vinculado à Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares). Revisão técnica: Amouni Mourad.

Referências: Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária); Sadiq NM, Dice TJ, Mead T. Oxycodone. [Atualizado em 2022 Mar 21]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan-. Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK482226/.

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