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Como fica a dieta depois da cirurgia bariátrica? Há risco de desnutrição?

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Samantha Cerquetani

Colaboração para o VivaBem

12/08/2022 04h00

A obesidade é considerada uma doença crônica e que aumenta a cada ano. Segundo dados do Atlas Mundial da Obesidade, em 2030, ela afetará 33% das mulheres e 26% dos homens.

Por ser um problema de saúde complexo e multifatorial, a obesidade precisa de tratamento específico e de longo prazo. Em alguns casos, indica-se a cirurgia bariátrica, um procedimento cirúrgico que pode ser feito tanto no estômago quanto no intestino (ou em ambos os órgãos), para ajudar na perda de peso.

Geralmente o objetivo é reduzir a capacidade de receber alimentos e contribuir também com a saciedade. Mas essa mudança no sistema digestivo também exige alterações na alimentação, além do estilo de vida.

"Após a cirurgia, a dieta deverá ser líquida e depois são introduzidos alimentos pastosos. De forma gradativa, a pessoa vai consumindo todos os alimentos. É fundamental realizar o acompanhamento com uma equipe multidisciplinar e seguir as orientações dos especialistas", afirma Sandra Lucia Fernandes, nutróloga e professora de nutrologia da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia).

O que comer ou evitar após a bariátrica

Logo após a cirurgia bariátrica, a quantidade de alimentos ingerida será menor. Portanto, é fundamental priorizar alimentos nutritivos e naturais. É importante evitar itens industrializados, carboidratos refinados como açúcar branco, farinha de trigo e arroz branco, além de gorduras em excesso. Sempre que possível, o ideal é dar preferência aos alimentos integrais.

De acordo com Carlos Schiavon, cirurgião bariátrico e cofundador da ONG Obesidade Brasil, após a bariátrica, a alimentação deve ser a mais saudável possível.

"No início, a quantidade de alimentos precisa ser calculada. Mas, aos poucos, o paciente aprende seus limites e como equilibrar as suas refeições. É uma fase de adaptação, ou seja, é preciso entender a necessidade de uma introdução progressiva de alimentação sólida, de acordo com a sua aceitação", diz ele.

mulher bebendo chá - iStock - iStock
Logo após a cirurgia, dieta deve ser líquida e ingerida lentamente. Água, chá ou suco coado estão liberados
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Em alguns casos, demora mais tempo para ter uma alimentação completa ou é comum sentir desconfortos após as refeições e até dificuldade para mastigar. Geralmente, a dieta é composta por algumas fases, que mudam de acordo com a evolução e tolerância da pessoa:

  • Logo após a cirurgia: dieta líquida, que deve ser ingerida lentamente. Não pode conter açúcar, gordura e cafeína. Geralmente, a pessoa bebe água, chá ou suco coado em pequenas quantidades.
  • De uma a duas semanas: dieta líquida completa, com adição de leite e derivados.
  • De uma a três semanas: dieta leve pastosa, ou seja, alimentos com uma leve consistência, como sopas liquidificadas ou amassadas, água, frutas assadas, cozidas ou amassadas.
  • De uma a quatro semanas: dieta branda, com alimentos sólidos e bem cozidos, carne moída ou desfiada e frutas.
  • Após dois meses: dieta livre, introdução de alimentos sólidos devagar (250 a 350 g por refeição).

Há risco de desnutrição?

Assim que a pessoa é indicada a fazer a cirurgia bariátrica, é fundamental realizar uma avaliação pré-operatória com exames que identificam as deficiências nutricionais. Dessa forma, o indivíduo corre menos riscos de ter problemas após o procedimento, como é o caso da desnutrição.

"O indivíduo precisa ser avaliado nutricionalmente antes da cirurgia, para que esse risco seja minimizado no pós-operatório. Lembrando que a desnutrição pode ser calórica, proteica e de micronutrientes. As baixas concentrações de vitaminas e minerais no pré-operatório associada a alterações anatômicas e fisiológicas, resultam em pessoas muito vulneráveis com deficiências graves de micronutrientes", diz Camyla Rocha, nutricionista e docente da UFAL (Universidade Federal de Alagoas).

Geralmente, após a bariátrica surgem deficiências de ferro, vitamina B12, cálcio, vitamina D e proteínas. Na maioria dos casos, o tratamento envolve a suplementação e orientações nutricionais individualizadas.

A seguir, veja detalhes:

Ferro: de acordo com a SBCBM (Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica), a deficiência de ferro é uma das mais frequentes após o procedimento. Isso acontece em cerca de 50% de quem faz bariátrica, provocando anemia após alguns anos da cirurgia. É comum que aconteça por causa da má absorção e intolerância a alimentos ricos em ferro.

Vitamina B12: é comum a deficiência devido às restrições de alimentos, como leite e carne.

Cálcio e vitamina D: geralmente, são deficiências que estão interligadas pela má absorção ou intolerância a alimentos ricos em cálcio e pouca absorção de gorduras, além da perda de peso acentuada.

Proteínas: muitas pessoas que realizam a bariátrica consomem menos o macronutriente devido à dificuldade de mastigação (como no caso das carnes) ou por causa da saciedade que a proteína provoca. No entanto, é importante realizar a suplementação para evitar problemas de saúde como perda da massa muscular.

Cirurgia bariátrica, estômago - iStock - iStock
Cirurgia não é indicada para qualquer um que tem obesidade
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Quando a bariátrica é indicada

Nem toda pessoa que tem obesidade deve realizar a cirurgia bariátrica. Cada caso é avaliado individualmente. Geralmente, leva-se em conta o IMC (Índice de Massa Corporal) para identificar a necessidade.

Para calcular, é preciso dividir o peso (kg), pelo quadrado da altura, em metros (m). Está com sobrepeso quem tem valores de IMC entre 25 kg/m² e 29,9 kg/m². E valores acima de 30 kg/m² já indicam obesidade.

Na maioria das vezes, a bariátrica é indicada quando o IMC está acima de 40 kg/m² ou 35 kg/m² —considerado obesidade severa—, caso tenha alguma doença associada (como diabetes, hipertensão, colesterol alto, doenças articulares degenerativas) e que tenha realizado tratamento sem resultados por, pelo menos, dois anos.

"É um procedimento seguro, mas não deve ser banalizado. É importante buscar uma equipe capacitada, informar-se sobre o assunto e se preparar para que tudo ocorra bem na cirurgia", destaca Schiavon.

Acompanhamento deve ser constante

Os especialistas consultados por VivaBem destacam que, apesar dos resultados satisfatórios da cirurgia bariátrica, ela sozinha não faz "milagres". Além disso, há a necessidade de monitoramento por toda a vida, já que o emagrecimento é uma consequência de um processo longo e complexo.

Portanto, o acompanhamento pela equipe multiprofissional deve ser realizado desde o período pré-operatório. A pessoa com obesidade precisa se consultar com especialistas como cirurgião bariátrico, endocrinologista, psicólogo, psiquiatra e nutricionista regularmente.

"Devem ser feitos exames detalhados (laboratoriais e de imagem), orientação nutricional para perda de 10% do peso para melhor evolução no pós-operatório, além da avaliação do estado psicológico. E também recuperação de deficiências existentes, mudanças de hábitos alimentares e a orientação de toda evolução nutricional", explica Rocha.

Apoio psicológico também é fundamental

Parece algo simples, mas a cirurgia bariátrica envolve uma mudança rápida e drástica nos hábitos alimentares. Por isso, são necessárias adaptações na dieta e também na percepção da saciedade. Se o indivíduo não receber apoio psicológico e suporte emocional, pode piorar a sua relação com a comida e até desenvolver transtornos alimentares.

Além disso, é comum que os comportamentos alimentares inadequados facilitem o reganho de peso. Logo, a pessoa se sente frustrada, culpada e com a sensação de fracasso.

"O sucesso não depende apenas da mudança anatômica causada pela cirurgia, mas por todas as alterações de hábitos de vida. Caso isso não ocorra, o paciente poderá recuperar o peso ou sofrer com desnutrição", diz Fernandes.