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Remédios e Tratamentos

Um guia dos principais medicamentos que você usa


Levofloxacino é antibiótico potente que combate vários tipos de bactérias

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Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

02/08/2022 04h00

No mercado desde meados dos anos 1990, o levofloxacino é um antibiótico utilizado para o tratamento de infecções em diferentes regiões do organismo causadas por bactérias.

O que é levofloxacino?

Trata-se de um antimicrobiano de amplo espectro, isto é, ele pode combater vários tipos diferentes de bactérias, como aeróbios gram-positivos e negativos e outros microrganismos.

Também conhecido como antibiótico, ele é classificado como fluoroquinolona e consta da lista dos medicamentos essenciais da OMS (Organização Mundial da Saúde).

Dadas as características desse medicamento ele só deve ser utilizado sob receita médica, que é retida.

Em quais situações ele deve ser usado?

O fármaco é utilizado na prática clínica há mais de 15 anos e seus efeitos são bastante conhecidos. Contudo, é importante que você faça o uso racional desse remédio, ou seja, utilize-o de forma apropriada, na dose certa e pelo tempo adequado.

Ele pode ser indicado no tratamento das seguintes condições:

  • Infecções do trato respiratório (superior e inferior) - bronquite crônica, sinusite, pneumonia
  • Infecções de pele e tecido subcutâneo - abcessos, impetigo, erisipela, celulite
  • Infecções do sistema urinário - como a pielonefrite aguda
  • Osteomielite

A literatura sobre este medicamento revela que ele também pode ser útil em situações de inalação de antraz, na peste bubônica e na conjuntivite bacteriana. Como essas indicações não constam da bula, elas são chamadas de off label.

O medicamento trata a covid?

Durante os meses mais difíceis da pandemia em 2020, a indicação de antibióticos para pacientes com covid foi intensa, embora esse tipo de medicamento não seja efetivo contra vírus como o Sars-CoV-2.

O levofloxacino, porém, não foi o medicamento mais utilizado. Naquele período, a azitromicina, outro antibiótico de amplo espectro, representou mais de 50% das prescrições. Os dados são do CDC (Centers for Disease Control and Prevention), dos EUA.

Entenda como ele funciona

Quando tomado, o levofloxacino é rapidamente absorvido e distribuído por todos os tecidos da pele, dos pulmões e prostáticos, além dos fluídos. Ele sofre pouca metabolização e é excretado majoritariamente pela via renal.

Para combater as bactérias, o medicamento age inibindo diretamente a ação de duas enzimas essenciais a elas, a DNA girase e topoisomerase IV, cujas funções são a replicação e divisão celulares. Em outras palavras, elas bloqueiam a multiplicação das bactérias, levando-as à morte celular.

Após a administração, espera-se que ele já comece a fazer efeito entre 1 e 2 horas, e a melhora dos sintomas ocorre a partir de 48 horas.

"No entanto, a ação de qualquer medicamento no organismo depende de diversos fatores, entre eles, a idade do paciente, a presença de outras doenças, uso correto de medicamento conforme prescrição e orientação, entre outros", acrescenta Luciana Canetto, farmacêutica e vice-presidente do CRF-SP.

Por quanto tempo vou usar esse medicamento?

Dados os possíveis efeitos colaterais do levofloxacino, como alterações do SNC (Sistema Nervoso Central), e o risco de resistência bacteriana (o remédio pode deixar de fazer efeito no futuro se utilizado de modo incorreto), o medicamento deve ser utilizado com muito cuidado pelos médicos e nas situações em que não haja outras opções de tratamento e diante de forte suspeita de infecção bacteriana.

Em geral, o tempo de tratamento é de 5 a 7 dias, a depender da gravidade do quadro, porque o esquema de doses é sempre personalizado. Evite interromper o tratamento —mesmo quando observe melhora do quadro, reduzir ou mesmo automedicar-se durante uma crise sem prévia orientação profissional.

Conheça as apresentações disponíveis

Levaquin® é a marca de referência do levofloxacino. Mas você pode encontrar as versões genéricas.
Algumas apresentações do medicamento constam da Rename 2022 (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais) e pode ser obtido por meio do SUS (Sistema Único de Saúde), bastando apresentar a receita médica para ter acesso a ele.

Confira as apresentações e doses disponíveis:

  • Comprimidos - 250 mg, 500 mg, 750 mg
  • Solução injetável - 500 mg

Quais são as vantagens e desvantagens desse medicamento?

Os especialistas consultados concordam que o levofloxacino é um medicamento seguro e eficaz, quando utilizado adequadamente e sob a prescrição de um médico ou orientações de um farmacêutico. Além disso, o tratamento tem fácil adesão porque requer dose única diária, e pelo período de 5 a 7 dias.

A desvantagem é que o medicamento não tem a eficácia e segurança estabelecidas em crianças e adolescentes. Além disso, efeitos colaterais relacionados ao SNC requerem maior atenção do médico.

Saiba quais são as contraindicações

De modo geral, o grupo de medicamentos ao qual o levofloxacino pertence é considerado eficaz e seguro, mas existem algumas contraindicações relacionadas ao perfil de seus efeitos colaterais.

Assim, o fármaco não deve ser usado por pessoas que sejam alérgicas (ou tenham conhecimento de que alguém da família tenha tido reação semelhante) ao seu princípio ativo ou a qualquer outro componente de sua fórmula.

São sinais de reação alérgica: rubor, dificuldade para respirar ou engolir, inchaço nos lábios, face, garganta ou língua.

Fique também atento na presença das seguintes condições:

  • Ter ou ter tipo epilepsia ou convulsões
  • Ter ou ter tido tendinite consequente ao uso de antibióticos da mesma classe
  • Ser criança ou adolescente
  • Ter idade superior a 60 anos
  • Gestação, amamentação ou em tratamento para engravidar
  • Uso de corticosteroides
  • Lesões cerebrais decorrentes de um AVC (Acidente Vascular Cerebral) ou outro problema neurológico
  • Problemas nos rins ou coração
  • Distúrbios venosos
  • Doenças relacionadas à glicose
  • Diabetes
  • Miastenia grave

Crianças e idosos podem usar o levofloxacino?

Não existem estudos de segurança e eficácia desse medicamento na população pediátrica e em adolescentes. Assim, ele é contraindicado para esses grupos.

No caso dos idosos, não há contraindicação, mas o levofloxacino deve ser utilizado considerando as características de todos os fármacos da classe das quinolonas, em especial o limiar convulsivo: "Como ele tem o potencial de sensibilizar o SNC, há risco de convulsão. Daí a necessidade de monitoramento do paciente para observar eventuais sintomas que indiquem esse quadro para rever dosagem ou suspender o medicamento", fala Glenda Maria Santos Moreira, médica com formação em clínica geral, geriatria, cuidados paliativos e integrante do corpo clínico do HU-UFPI/Ebserh.

Estou grávida e pretendo amamentar. Posso usar levofloxacino?

A indicação dos especialistas é que ele somente seja utilizado após avaliação médica e, sobretudo quando os riscos para a gestante justifiquem o uso do medicamento.

Em caso de aleitamento, dado o potencial de efeitos adversos, o médico deve considerar o benefício para a mãe e optar entre a descontinuação do tratamento ou a interrupção da amamentação.

Qual é a melhor forma de consumi-lo?

O medicamento deve ser administrado nos mesmos horários todos os dias e de acordo com o esquema de doses indicado pelo médico.

Evite aumentar ou reduzir as doses prescritas pelos especialistas, assim como o tempo de tratamento.

Os comprimidos devem ser engolidos inteiros, com bastante água, e não mastigados, quebrados ou esmagados.

Existe uma melhor hora do dia para usar esse medicamento?

Não. O importante é que o levofloxacino seja utilizada na forma indicada pelo médico.

A consultora técnica do CRF, Danielle Bachiega, diz que, em caso de dúvidas, você deve falar com o farmacêutico. "Nas farmácias, ele sempre está identificado e pode orientá-lo adequadamente sobre como o medicamento deve ser utilizado e qual melhor horário para tomá-lo, a depender da prescrição médica", esclarece.

O que faço quando esquecer de tomar o remédio?

Tome-o assim que lembrar e reinicie o esquema de uso do medicamento. É desaconselhado tomar doses em dobro de uma vez para compensar a que foi esquecida. Se você sempre se esquece de tomar seus remédios, use algum tipo de alarme para lembrar-se.

Quais são os possíveis efeitos colaterais?

Este medicamento é considerado bem tolerado, seguro e eficaz quando usado em doses adequadas e pelo menor tempo possível. Apesar disso, os efeitos colaterais mais comuns são sensibilidade à luz, náusea, vômito, diarreia, dor de cabeça, tendinite, ruptura de tendão.

Veja outras manifestações menos comuns:

  • Hiperglicemia
  • Hipoglicemia
  • Neuropatias periféricas (dormência nas extremidades, contrações nos braços e pernas, etc.)
  • Agitação
  • Tremores
  • Ansiedade
  • Palpitação
  • Gastrite

Interações medicamentosas

Algumas medicações não combinam com o levofloxacino. E quando isso acontece, elas podem alterar ou reduzir seu efeito. Avise o médico, o farmacêutico ou dentista, caso esteja fazendo uso (ou tenha feito uso recentemente) das substâncias abaixo descritas, que são apenas alguns exemplos dessas possíveis interações. Confira:

  • Corticosteroides (prednisona)
  • Anticoagulantes (varfarina)
  • Antibroncoespasmos (teofilina)
  • Aines (anti-inflamatórios não esteroidais, como o ácido acetilsalicílico)
  • Imunossupressores (ciclosporina)
  • Antiarrítmicos (amiodarona)
  • Antiácidos (sucralfato)
  • Antidepressivos tricíclicos (amitriptilina)
  • Outros antibióticos (azitromicina)
  • Antipsicóticos (clozapina)
  • Antidiabéticos (glipizida)

Embora não existam muitos dados na literatura médica sobre interação com suplementos, é indicado evitar tomar o levofloxacino ao mesmo tempo em que se ingere ferro, zinco e magnésio. Antes de iniciar o tratamento com o medicamento, informe ao médico ou ao farmacêutico sobre eventual uso desses produtos.

Interação com o álcool

A farmacêutica e consultora técnica do CRF-SP Amouni Mourad explica que não há contraindicação formal para o consumo de pequenas doses de álcool durante o tratamento com o levofloxacino. No entanto, ela adverte que pode haver redução da ação do medicamento, e até o acúmulo de metabólicos tóxicos dele, aumentando o risco de efeitos colaterais.

Mourad destaca ainda que pacientes com infecções graves devem evitar bebidas alcoólicas. "A questão não é o álcool em si, mas a doença, e o mesmo vale para pessoas com doenças no fígado", explica.

Interação com exames laboratoriais

Esse medicamento pode interferir nos resultados de exames de urina, apresentando falso negativo para investigações sobre o uso de analgésicos pesados como opiáceos. O mesmo pode ocorrer com testes que busquem identificar bactérias relacionadas à tuberculose.

Outro exemplo é o possível aumento do tempo de protrombina (exame que avalia a capacidade do sangue para coagular) e possível aumento de enzimas musculares.

Antes de se submeter a quaisquer exames de laboratório, informe ao médico sobre o uso do levofloxacino.

Em casa, coloque em prática as seguintes dicas:

  • Observe a validade do medicamento indicado no cartucho. Lembre-se: após a abertura, alguns fármacos têm tempo de validade menor, o que também é influenciado pela forma como você o armazena;
  • Leia atentamente a bula ou as instruções de consumo do medicamento;
  • Ingira os comprimidos inteiros. Evite esmagá-los ou cortá-los ao meio --eles podem ferir sua boca ou garganta;
  • Em caso de cápsulas, não as abra para colocar o conteúdo em água, alimentos ou mesmo para descartar. Sempre use a cápsula íntegra;
  • No caso de suspensões orais, agite bem o frasco antes de usar. E sempre limpe o copo dosador antes e após o uso. E armazene junto ao frasco do medicamento, para evitar misturar com outros medicamentos;
  • Prefira comprar remédios nas doses justas para o uso indicado para evitar sobras;
  • Respeite o limite da dosagem diária indicada na bula;
  • Escolha um local protegido da luz e da umidade para armazenamento. Cozinhas e banheiros não são a melhor opção. A temperatura ambiente deve estar entre 15°C e 30°C;
  • Guarde seus remédios em compartimentos altos. A ideia é dificultar o acesso às crianças;
  • Procure saber quais locais próximos da sua casa aceitam o descarte de remédios. Algumas farmácias e indústrias farmacêuticas já têm projetos de coleta;
  • Evite descarte no lixo caseiro ou no vaso sanitário. Frascos vazios de vidro e plástico, bem como caixas e cartelas vazias podem ir para a reciclagem comum.

O Ministério da Saúde mantém uma cartilha (em pdf) para o Uso Racional de Medicamentos, mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos - Fiocruz) (em pdf) ou do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (também em pdf). Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.

Fontes: Amouni Mourad, farmacêutica, professora do curso de farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP) e assessora técnica do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia de São Paulo); Danielle Bachiega, consultora técnica do CRF-SP; Glenda Maria Santos Moreira, médica com formação em clínica geral, geriatria e cuidados paliativos; é integrante do corpo clínico do HU-UFPI (Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí), que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares) e preceptora da residência médica na mesma instituição; Luciana Canetto, farmacêutica e vice-presidente do CRF-SP, integrante do Departamento de Assistência Farmacêutica da Secretaria Municipal de Saúde de Piracicaba (SP). Revisão técnica: Amouni Mourad.

Referências: Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária); Podder V, Sadiq NM. Levofloxacin. [Atualizado em 1º de maio de 2022]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan-. Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK545180/.