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Não é só o Jägermeister: Por que ingerir álcool rapidamente pode matar?

Pietra Carvalho

De VivaBem, em São Paulo

15/07/2022 04h00

O consumo excessivo de álcool em um curto período de tempo pode "desligar" a transmissão de informações para o sistema cardiorrespiratório. É isso que está por trás de casos como o do sul-africano que morreu no domingo (10) após consumir uma garrafa inteira do licor Jagermeister, em menos de dois minutos.

O rapaz de 23 anos tomou 700 ml da bebida, que tem grau alcoólico de 35%, para vencer uma competição valendo 200 rands sul-africanos (o equivalente a R$ 63). Logo após ganhar a disputa, ele desmaiou e morreu pouco depois, segundo o site local Independent Online.

A professora Zila van der Meer Sanchez, associada do Departamento de Medicina Preventiva da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), explica que o corpo de um homem médio leva cerca de uma hora para metabolizar uma dose de destilado, o que varia entre 30 e 45 ml, de acordo com os padrões de cada país.

Isso quer dizer que, no caso do sul-africano, o corpo levaria cerca de um dia para conseguir metabolizar os 700 ml da garrafa de licor, em várias etapas, que incluem o trabalho das enzimas do fígado, dividindo o álcool em várias outras substâncias.

"É uma intoxicação. O álcool atua em uma área do cérebro em que ele deprime algumas transmissões neuronais. Ele expôs o cérebro dele a uma quantidade muito maior que o organismo conseguiria metabolizar e excretar", explicou Sanchez, lembrando que uma pequena porcentagem da bebida deixa o corpo sem dificuldade, pela urina, suor e respiração.

Nessas regiões em que o álcool age, você tem esse bloqueio de estímulo à respiração e ao batimento cardíaco, como o cérebro não consegue mandar mensagem para os órgãos que eles têm que funcionar, eles param.

A professora também destaca que, em casos menos extremos, a pessoa atingida já começa a apresentar uma lentidão no funcionamento do corpo com menos batimentos cardíacos por minuto e respiração mais "rara", antes da paralisação total do sistema cardiorrespiratório.

"Esse neurotransmissor específico em que o álcool age, se ele não estiver funcionando direito, não consegue mandar a mensagem correta para o órgão. E tem uma hora que ele pode parar", explica ela, deixando claro também que a quantidade de álcool necessária para a "pane" do corpo humano varia de indivíduo para indivíduo.

Tem gente que toma uma dose e já começa a ficar mal. Tem muito a ver com os metabólitos do álcool e das ações desse álcool no fígado, no próprio estômago e intestino, que a gente chama de periféricas e centrais. Mesmo em doses baixas, se é alguém não tolerante, já começa a ter esses efeitos também, indicativos de que alguma coisa está indo mal. Mas é aquela história: depende de cada caso, de cada organismo, do tamanho, da quantidade de gordura.

Apesar das particularidades, a professora ressalta que a quantidade ingerida pelo homem sul-africano seria tóxica para qualquer pessoa exposta.

"Qualquer um teria entrado em coma alcoólico. Se houvesse uma intervenção imediata, com esvaziamento gástrico e tudo mais, dependendo do quanto já tivesse sido absorvido, ainda daria para salvá-lo. Mas depende de quanto ainda tinha no estômago para ser absorvido e de uma ida rápida ao pronto atendimento", analisou Sanchez.

A bebida

Segundo a fabricante, o Jagermeister é um licor com receita "secreta", composto de 56 ervas, frutas e temperos — como gengibre, canela, anis-estrelado, casca de laranja, açafrão e flores de camomila.

"Após selecionar as matérias-primas, os mestres destiladores as pesam conforme especificado na receita original e então preparam diversas misturas de ervas secas. Terminado este processo um mestre destilador mistura estes macerados e os transfere para barris de carvalho", diz a empresa.

O licor fica quase um ano nos barris até ficar pronto, com grau alcoólico de 35% — muito acima de bebidas como cerveja (geralmente de 4% a 10%) —, mas abaixo de uísque (média de 43%) e cachaça (entre 38% a 54%).