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Congelamento de óvulos: há riscos? Como é feito? Entenda o passo a passo

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Imagem: Getty Images

Letícia Naísa

De VivaBem, em São Paulo

27/06/2022 04h00

Maternidade é quase sempre um assunto presente em rodas de conversas entre mulheres. Entre as novas gerações, adiar o momento de ser mãe tem sido cada vez mais frequente. Por isso, a troca de experiências, informações e curiosidades sobre o congelamento de óvulos também é um tema que desperta interesse.

O procedimento é indicado não apenas para quem quer adiar a maternidade por questões sociais e profissionais, mas também para mulheres jovens que recebem diagnóstico de câncer ou que enfrentam menopausa precoce, e se tornou muito popular nos últimos anos —apesar de ainda ter valores salgados.

Um levantamento feito pela revista Time em 2021 mostrou um aumento de 50% do número de procedimentos nos Estados Unidos desde 2019. No Brasil, é difícil mensurar essa procura. Existem 183 centros de reprodução humana assistida no país, sendo que a maioria está concentrada na região Sudeste, segundo o último relatório do SisEmbrio (Sistema Nacional de Produção de Embriões).

O documento também mostrou que houve aumento de 11,6% no número de embriões congelados no Brasil entre 2018 e 2019. Por isso, a percepção dos especialistas é de que o congelamentos de óvulos também tem se tornado cada vez mais popular.

Como é feito?

Antes de começar o procedimento, é preciso que o médico avalie a reserva ovariana da paciente para determinar quantos óvulos em média devem ser congelados.

Por meio de medicamentos, é estimulado o crescimento dos folículos ovarianos, onde ficam os óvulos. Os ovários vão crescendo de tamanho para produzir o máximo de óvulos que eles forem capazes. Quanto mais óvulos, maiores as chances de uma gravidez futura vingar.

Os remédios normalmente são aplicados pela própria paciente e de forma subcutânea, ou seja, devem ser injetados no abdome com uma seringa. A dosagem da medicação vai depender da idade e do histórico de saúde.

Normalmente, a medicação é aplicada por cerca de 10 a 12 dias, que é o tempo necessário para a liberação dos óvulos. A coleta é feita em uma clínica. É necessária aplicação de anestesia geral, mas o procedimento é rápido, dura cerca de 20 minutos. Os óvulos são colhidos com um transdutor com uma agulha.

Qualquer pessoa pode fazer?

Grávida gravidez segura sapatos sapatinhos de criança bebê - Andre Furtado/ Pexels - Andre Furtado/ Pexels
Imagem: Andre Furtado/ Pexels

A princípio, sim. O ideal é que seja feito até os 35 anos de idade. "Até essa idade, a reserva ovariana está mantida", explica Aline Monteiro, ginecologista e especialista em reprodução humana, membro da SBRA (Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida) e da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).

"O ovário ainda tem uma quantidade boa de óvulos e também tem qualidade. Os óvulos mais saudáveis têm mais chances de serem fertilizados e gerar um bom embrião", completa.

Ao longo do tempo, a qualidade dos óvulos vai diminuindo, e há risco deles não formarem um embrião saudável. Quanto mais velha a mulher, é melhor que congele mais óvulos para ter mais chances de uma gravidez de sucesso. O problema é que, quanto mais velha, menos óvulos ela tem para serem congelados —e pior fica a qualidade destes óvulos.

Para cada faixa etária, é indicado congelar um certo número de óvulos:

  • Até 34 anos, de 11 a 15 óvulos
  • Dos 35 aos 38, de 16 a 20
  • A partir dos 38, de 21 a 30

Existe contraindicação?

Não existe contraindicação para o congelamento de óvulos, mas existem algumas condições. "Não vale a pena fazer acima dos 40 anos, porque pode ser frustrante", afirma Andrea Nacul, ginecologista e membro da comissão especializada em endometriose da Febrasgo.

"Às vezes, as pacientes chegam com 40, 43, 45 anos, para fazer congelamento ou mesmo fertilização in vitro, mas as taxas de sucesso são muito menores com o avanço da idade", diz.

Também é preciso que a paciente esteja saudável. Entre pacientes obesas e hipertensas, o ideal é que elas percam um pouco de peso e mantenham a pressão estável antes do procedimento, até para que as doses necessárias de hormônio sejam menores. Mulheres fumantes também são aconselhadas a suspender o cigarro para poder congelar os óvulos.

Quem toma pílula anticoncepcional também deve parar com o medicamento durante a aplicação dos remédios para estimulação ovariana. "Depois que é feita a coleta, a paciente está liberada para voltar a usar o anticoncepcional", diz Nacul. Já quem usa qualquer tipo de DIU pode passar pelo procedimento sem precisar retirar o dispositivo.

Em casos oncológicos, o recomendado é que o congelamento seja feito antes do tratamento do câncer —que pode afetar a fertilidade. Se a paciente já passou pelo tratamento de quimioterapia, o ideal é esperar pelo menos seis meses para fazer o congelamento.

Outro tipo de paciente que precisa de atenção na hora de optar pelo congelamento de óvulos são aquelas que têm diagnóstico de ovários policísticos. Entre essas, é preciso que o médico avalie a dosagem de medicamentos, já que elas têm uma reserva ovariana aumentada, mas com óvulos de menor qualidade, muitas vezes.

Bomba de hormônio?

Ovários - iStock - iStock
Imagem: iStock

Apesar de parecer que os hormônios podem causar mal, os especialistas consultados por VivaBem afirmam que os efeitos colaterais são toleráveis e raros. "Não é uma bomba de hormônios, são cerca de 10 dias de injeção —e tem gente que toma pílula por 20 anos", observa a ginecologista Aline Monteiro. "E não engorda!", brinca a médica Andrea Nacul.

Existem riscos anestésicos e cirúrgicos, como em qualquer procedimento, mas é difícil acontecer alguma complicação. Pacientes com risco de desenvolver trombose também são casos raros, menos de 1% da população, segundo Monteiro. "O estado mais trombogênico que existe é a gravidez", afirma.

As pacientes podem apresentar alguns dos efeitos colaterais durante a estimulação ovariana:

  • Dor nas mamas
  • Dor de cabeça
  • TPM

Os riscos são mínimos e complicações de congelamento de óvulos são muito raras de acontecer. "A tecnologia evoluiu muito, tudo é feito com muita segurança", afirma Claudio Leal, professor adjunto da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e ginecologista especialista em reprodução humana.

"Antigamente, a gente fazia o congelamento só de embriões, porque eles são mais resistentes, mas nos últimos anos as técnicas de congelamento de óvulos melhoraram, 80% a 90% dos óvulos congelados podem ser aproveitados."

Tem no SUS? Quanto custa?

Existe a opção para pacientes que fazem tratamento de câncer pelo SUS de fazer o congelamento de óvulos de forma gratuita, mas são poucos hospitais públicos no país que oferecem o serviço.

Na maioria das vezes, o procedimento é feito em clínicas particulares. Contando os custos de consultas, medicamentos e mão-de-obra dos profissionais envolvidos, pode sair por cerca de R$ 15 mil.

Depois de feito o procedimento, é preciso pagar uma taxa anual de cerca de R$ 1.000 para manter os óvulos congelados em nitrogênio líquido —ou seja, "na geladeira".