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Qual a importância da alimentação no climatério e na menopausa?

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Imagem: iStock

Cecilia Felippe Nery

Colaboração para o VivaBem

24/06/2022 04h00

A alimentação tem uma grande influência na saúde do corpo. No caso das mulheres, ao chegar no período do climatério —fase de transição do período reprodutivo para o não reprodutivo—, essa atenção se torna uma importante aliada no alívio dos sintomas.

O climatério tem início por volta dos 40 anos e se estende até os 65 anos, e a menopausa (última menstruação) ocorre durante esse período. Nessa etapa há progressiva redução da produção de hormônios ovarianos, sobretudo do estrogênio e da progesterona, provocando alterações físicas e psíquicas que interferem na qualidade de vida da mulher.

Essas transformações têm início com ondas de calor, irritabilidade, insônia, cefaleia, mudança da libido, secura vaginal e às vezes alterações na memória e depressão. Assim, a mulher precisa procurar um especialista em climatério para fazer o acompanhamento e indicar o tratamento mais adequado, além de adotar uma dieta mais rica e equilibrada para dar suporte a essa terapia.

"Mulheres em menopausa têm deficiências de nutrientes, mas isso pode ser bem avaliado, com orientação dietética de um profissional de nutrição", orienta Maurício Abrão, coordenador do departamento de Ginecologia do Hospital da Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Além disso, o excesso de gordura corporal está associado a uma maior frequência de ondas de calor, por isso é essencial regularizar o peso com exercícios físicos e cuidados com a alimentação, evitando alimentos processados/industrializados, açúcares, gorduras ruins (trans/saturadas), fast-foods, enlatados, embutidos, frituras e sal.

Esses alimentos promovem uma inflamação crônica no organismo. "Esse impacto no estado nutricional aumenta a incidência de doenças relacionadas à nutrição e piora os sintomas da menopausa, em razão da maior sensibilidade à insulina e colesterol elevado", destaca o médico nutrólogo Eduardo Della Valle Munhoz.

Cuidado com os ossos e a anemia

A importância de uma alimentação mais equilibrada ajuda a mulher a passar melhor pelo período da menopausa. Nessa fase, elas apresentam perda óssea mais acelerada, e isso se deve pela diminuição do estrogênio e também ao avanço da idade, portanto, precisam ter atenção especial na ingestão de cálcio e vitamina D, que são nutrientes relacionados à prevenção do enfraquecimento ósseo. "Quando ocorre deficiência na ingestão, uma consequência pode ser a osteoporose", lembra Munhoz.

Além disso, algumas mulheres nesse período podem ter sangramentos excessivos durante a menstruação irregular, podendo apresentar deficiência de ferro e aumentando o risco de anemia.

Mais amora, menos fogacho

Alguns alimentos ainda são pilares importantes na diminuição dos sintomas do climatério, como os fogachos, que incomodam muito as mulheres. "A amora é um deles, uma vez que age como fito-hormônio, ajudando a diminuir as ondas de calor e completando a reposição hormonal", informa Abrão.

Munhoz também aponta alimentos que são capazes de agir como estrogênio, entre eles o resveratrol, encontrado nas uvas, os isoflavonoides da soja e as lignanas da linhaça, que diminuem igualmente as ondas de calor. Ele também recomenda as sementes oleaginosas e óleos vegetais, ricos em vitamina E. "O chá de folha de amora e o inhame auxiliam naturalmente no controle dos fogachos", acrescenta.

Outros alimentos que também podem amenizar os calorões são a beterraba e a melancia, que possuem uma substância vasodilatadora (óxido nítrico).

Cecilia Braz Garcia, médica ginecologista e obstetra, alerta para a redução de gatilhos alimentares. "Os fogachos podem ser despertados pelo consumo de alimentos apimentados e evitá-los é uma opção", diz.

Alimentos e bem-estar

O chocolate com alta concentração de cacau, acima de 70%, é rico em polifenóis e tem a capacidade de reduzir o estresse. "Podem fazer parte da dieta, mas não se deve abusar da quantidade", aconselha Munhoz.

Além dele, no geral, a dieta mediterrânea traz alimentos que promovem, além de mais saúde, mais bem-estar, reduzindo o estresse. Essa alimentação preza pela comida fresca e natural como frutas, legumes, peixes, azeite, oleaginosas, grãos e cereais. Leites e queijos são consumidos com parcimônia. A carne vermelha é consumida raramente. Estão fora da dieta os embutidos, enlatados e os alimentos ultraprocessados.

No entanto, a nutricionista Janaína Cavalcanti Costa de Oliveira lembra que uma dieta individualizada poderá trazer resultados mais positivos, visto que existem mulheres que podem apresentar um desequilíbrio da microbiota intestinal ou bactérias "boas" do intestino. "Tratar esse intestino é o início de tudo", pondera. O tratamento consiste em consumir quantidade e qualidade mais adequadas de alimentos ricos em fibra e, se for necessário, o uso de probióticos.

"O equilíbrio intestinal é fundamental, inclusive para quem optar pela reposição hormonal, pois pode prejudicar a ação destes medicamentos e causar danos à saúde", explica Oliveira.

Adiar menopausa?

Os ovários têm um tempo de vida útil determinado geneticamente para cada mulher, mas sabe-se que a exposição a toxinas, como cigarro e um estilo de vida não saudável, pode antecipar a falência da função ovariana, levando à menopausa precoce. "Portanto, mantendo alimentação e estilo de vida saudáveis, é possível usar toda a potência dos ovários que já vêm pré-determinada ao nascimento, mas não se consegue adiar a menopausa", assegura Garcia.

Por outro lado, um estudo da Universidade de Leeds, publicado em maio de 2018 no Journal of Epidemiology and Community Health, associa o consumo de alguns alimentos a um atraso no início da menopausa. Os pesquisadores viram que as mulheres que ingeriam mais peixes gordurosos, como salmão, sardinha e atum, tiveram um atraso de 3,3 anos na interrupção definitiva da menstruação. Quem comia mais fontes de vitamina B6 (batata, feijão, milho) e zinco (pescados, camarão, carne, leguminosas e oleaginosas) também demorou um pouco mais para a menopausa.

"Apesar disso, ainda não é possível aconselhar uma mudança de dieta capaz de adiar o início da menopausa", pondera Munhoz. Mesmo assim, os investigadores conseguem explicar alguns resultados. Por exemplo, o consumo das leguminosas e ácidos graxos ômega 3 presentes nos peixes, por serem antioxidantes, podem preservar a menstruação por mais tempo.

Nesse mesmo estudo da Universidade de Leeds, nas mulheres que consumiam massas e grãos refinados acima da media, notou-se uma propensão maior para chegar nessa fase um ano e meio antes das outras participantes.

Segundo Abrão, em alguns casos, considerando que a menopausa é precoce, ela acontece mais frequentemente quando a mulher apresenta algumas disfunções do sistema imunológico ou endometriose. "Sempre quando houver um estímulo ao exercício físico regrado, ao controle do peso e alimentação correta, é possível até postergar um pouco a menopausa, mas isso depende muito de cada situação", reforça.

Fontes: Cecília Braz Garcia, médica ginecologista e obstetra, especialista em ginecologia endócrina pela EPM/Unifesp (Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo) e atualmente preceptora no ambulatório de climatério da Maternidade Escola Januário Cicco da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte); Eduardo Della Valle Munhoz, médico nutrólogo, responsável pelo serviço de nutrologia do CHS (Conjunto Hospitalar de Sorocaba); Janaina Cavalcanti Costa de Oliveira, especialista em nutrição clínica, com experiência em cuidados nutricionais da mulher e da criança na Maternidade Escola Januário Cicco da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte); Maria Angela de Souza, mestre em ginecologia pela Unifesp e nutróloga pela Abran (Associação Brasileira de Nutrologia); Maurício Abrão, médico ginecologista e obstetra e coordenador do departamento de Ginecologia do Hospital da Beneficência Portuguesa de São Paulo.