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Conheça 9 causas de infertilidade masculina e o que pode ser feito

Imagem: iStock

Paula Carvalho

Colaboração para VivaBem

24/06/2022 04h00

A infertilidade masculina ainda é um assunto tabu. Descobrir que é infértil parece ser o fim da linha do sonho de ser pai. Uma avaliação clínica detalhada pode fornecer informações para que um diagnóstico precoce seja realizado de maneira precisa e, consequentemente, uma terapia seja proposta.

Estima-se que a infertilidade masculina atinja cerca de 80 milhões de pessoas ao redor do mundo.

A infertilidade masculina é a incapacidade do homem em produzir espermatozoides em quantidade ou qualidade suficiente para fecundar o óvulo e resultar em uma gravidez.

Conheça as principais causas da infertilidade masculina

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1) Varicocele é principal causa de infertilidade masculina. Está presente em 15% da população masculina e em aproximadamente 40% dos homens com infertilidade primária, que nunca engravidaram. Este número pode aumentar para até 80% dos homens com diagnóstico de infertilidade secundária (que já engravidaram, mas não conseguem engravidar novamente). Pode ter uma questão hereditária envolvida na predisposição para o aparecimento desta doença, que ocorre sempre na adolescência.

2) Criptorquidia (testículo que não desceu) é uma causa importante de infertilidade masculina e pode estar associada, inclusive, ao desenvolvimento de tumor de testículo. É importante uma avaliação precoce pelo especialista, pois quanto mais cedo o testículo criptorquídico for corrigido, maiores são as chances de preservação da fertilidade masculina. Nos casos de criptorquidia unilateral, a chance de o menino desenvolver infertilidade na vida adulta é de 30%. Este risco mais do que dobra quando a criptorquidia é bilateral.

A cirurgia de correção de criptorquidia não aumenta a produção de espermatozoides, mas, sim, protege contra uma piora do quadro.

3) Fibrose cística é uma doença genética que também é conhecida como a doença do beijo salgado, pois as secreções do organismo têm alto teor de sal. Cerca de 4% da população brasileira porta um gene da fibrose cística sem, entretanto, ter a doença.

Na maioria das vezes, a doença é diagnosticada logo após o nascimento pelo famoso teste do pezinho (especialmente nos casos mais graves), porém ela pode ser diagnosticada apenas na idade adulta.

4) Síndrome de Klinefelter é quando o homem não ejacula espermatozoides, caracterizando-o como portador de azoospermia não obstrutiva. As chances de sucesso para aquisição de espermatozoides são muito baixas, não passando dos 30%.

5) Síndrome de Kallmann é caracterizada como uma insuficiência testicular gerada por redução dos hormônios hipofisários associada a anosmia (ausência de percepção dos cheiros). A reposição de alguns hormônios injetáveis, como o HCG e o FSH, tem a função de estimular o testículo a voltar a produzir espermatozoides e testosterona.

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6) Uso de cigarro tradicional, eletrônico e vaporizadores afeta a função reprodutiva do homem. O hábito de fumar e a consequente inalação e absorção de substâncias tóxicas pelo organismo podem alterar o volume do sêmen, prejudicar sua qualidade, alterando a concentração e a motilidade dos espermatozoides.

Com mais radicais livres no sêmen, os fumantes podem sofrer o que chamamos de estresse oxidativo, que, frequentemente, está relacionado ao aumento de fragmentação do DNA do espermatozoide. Altas taxas de DNA fragmentado indicam baixa capacidade de gravidez natural, aumento do número de abortos e necessidade de maior número de tratamentos de fertilização in vitro para alcançar uma gestação.

7) Obesidade leva a um aumento crônico de temperatura testicular. Um estudo da Universidade de Utah nos Estados Unidos comprovou que homens obesos na faixa dos 60 anos têm contagens de espermas mais baixas do que indivíduos mais magros na mesma faixa etária.

Quando exposto a temperaturas mais elevadas constantemente, os testículos sofrem um processo de estresse oxidativo, com a produção excessiva dos temíveis radicais livres. Estes radicais livrem atuam eliminando as células produtoras de espermatozoides, além de prejudicar a qualidade dos espermatozoides produzidos para ejaculação.

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Os homens obesos tendem também a transformar o hormônio de testosterona produzidos pelo testículo em hormônio estradiol, tipicamente feminino. O tecido gorduroso induz a um aumento na produção de hormônio feminino em pacientes homens. Então quanto mais gordura, mais hormônio feminino no corpo, gerando uma alteração hormonal que desfavorece a produção de um bom espermatozoide.

Segundo o urologista Antonio Cesar Cruz o homem pode ser fértil a vida toda. "Idade não é fator para diminuir a produção de espermatozoides. O homem produz espermatozoides a vida toda. É muito comum se encontrar homens com 80 anos sendo pai. É diferente da mulher que já nasce com todos os óvulos e vai só amadurecendo a cada ciclo menstrual", explica o especialista.

8) Uso de testosterona e anabolizantes é uma das principais causas de infertilidade nos homens adultos jovens. O uso de qualquer dose de testosterona e de outros anabolizantes pode zerar a produção de espermatozoides, seja de forma transitória ou de forma definitiva, dependendo do tempo de uso, das doses utilizadas e da suscetibilidade individual de cada homem.

O uso destas substâncias inibe a produção de FSH, hormônio responsável pela produção de espermatozoides pelo testículo. Quando inibido cronicamente, ocorre a morte de células produtoras de espermatozoides e, como consequência, o testículo perde volume e fica pequeno de forma irreversível.

9) ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) são importantes causas de infertilidade masculina e feminina. Segundo o Ministério da Saúde, entre brasileiros com 15 e 24 anos, apenas 56,6% usam camisinha no ato sexual.

Infecções como gonorreia e clamídia podem afetar os testículos, gerando uma infecção conhecida como orquite, que pode afetar a produção de espermatozoides. Muitos homens acabem se infectando e muitas vezes, por não apresentarem sintomas, viram disseminadores de ISTs para suas parceiras. Nas mulheres, os agentes infecciosos podem levar a infecção das tubas e do endométrio (endometrite), gerando uma perda importante de potencial reprodutivo feminino.

Exames para diagnóstico

Espermograma: exame que avalia os espermatozoides e o líquido seminal. Com base no resultado, o médico terá melhores informações para conduzir o tratamento de infertilidade.

Teste de fragmentação do DNA espermático: mapeia o percentual de espermatozoides com alterações de DNA.

Exames de imagem: complementa o diagnóstico do paciente e podem ser solicitados, como a ultrassonografia testicular com Doppler colorido.

Dosagens hormonais: avalia as alterações nas taxas hormonais envolvidas na produção dos espermatozoides - como o LH, FSH e a testosterona.

Avaliação genética: em alguns casos deve ser feita a investigação de causas genéticas para a infertilidade masculina, principalmente nos casos mais graves. Os testes mais comuns são o cariótipo, pesquisa de microdeleção do cromossomo Y e a pesquisa de alterações nos genes da fibrose cística (CFTR).

Tratamentos para infertilidade

Tratamentos clínicos, quando é corrigida uma disfunção ou baixa hormonal.

Tratamentos cirúrgicos, como da varicocele, e reversão de vasectomia.

Laboratorial, quando se usa inseminação artificial e fertilização in vitro (fertilização de um óvulo por um espermatozoide) por alterações no número e qualidade.

Planejamento familiar x vasectomia e sua reversão

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No Brasil, a esterilização cirúrgica está regulamentada por meio da Lei nº 9.263/1.996 que trata do planejamento familiar, que estabelece no seu 10º artigo os critérios e as condições obrigatórias para a sua execução.

A lei determina a realização da cirurgia em homens maiores de 25 anos e com dois filhos vivos, desde que observado o prazo mínimo de 60 dias após a manifestação expressa do desejo e aconselhamento por equipe multidisciplinar, a fim de desencorajar a esterilização precoce.

A vasectomia pode ser sempre revertida, mas as chances de sucesso dependem de três grandes fatores: tempo de vasectomia, idade da esposa e habilidade do cirurgião em realizar este procedimento cirúrgico, preferencialmente com a técnica de microcirurgia.

A vasectomia é um procedimento seguro, que não traz riscos de câncer de próstata e testículos, não aumenta o risco de desenvolver hipertensão arterial, doenças cardíacas ou demências. Além disso, a vasectomia não altera a produção dos níveis hormonais, do prazer sexual ou da libido.

Ausência de espermatozoides pode causar sofrimento

A infertilidade conjugal de causa masculina pode afetar negativamente o lado psicológico dos homens, sobretudo quando o fator está associado a ausência de espermatozoides. Nestes casos, o homem pode ter sua virilidade fortemente impactada, a ponto de o próprio homem questionar a si mesmo o seu papel na relação conjugal.

Apesar de não haver uma relação direta da produção de espermatozoides com a produção de testosterona e masculinidade, muitos homens fazem esta associação de uma forma negativa, prejudicando o relacionamento com a sua parceira por se sentirem incapazes de provê-la naturalmente com a formação de uma família.

Nestes casos, seja o fator masculino grave ou não, muitas vezes o médico deve ter a sensibilidade de solicitar ajuda de um profissional mais capacitado, como um psicólogo, para lidar com as frustrações e os medos inerentes ao diagnóstico de infertilidade masculina.

Fontes: Antonio Cesar Cruz, urologista, professor de urologia da FMO (Faculdade de Medicina de Olinda) e professor de laparoscopia urológica do Ircad - América Latina; Daniel Suslik Zylbersztejn, membro do Departamento de Saúde Sexual e Reprodutiva da SBU-SP (Sociedade Brasileira de Urologia - Regional São Paulo), coordenador médico do Fleury Fertilidade e diretor médico da DSZ medicina reprodutiva; Luiz Fernando Dale, ginecologista especialista em medicina da reprodução e diretor-geral da Clínica Dale; e Bernardo Puglia, urologista e diretor médico do Instituto Puglia.

Referências:

https://www.reproductivefacts.org/globalassets/rf/news-and-publications/bookletsfact-sheets/spanish-fact-sheets-and-info-booklets/evaluacion_de_la_infertilidad_masculina_que_debo_saber-spanish.pdf

https://www.researchgate.net/publication/281433855_Varicocele_A_Principal_Causa_da_Infertilidade_Masculina

https://www.dailymail.co.uk/news/article-10775829/Obese-men-60s-lower-sperm-counts-slimmer-men-age-group-study-suggests.html

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