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Estudo: remédio reduz progressão do câncer de mama e aumenta sobrevida

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Imagem: iStock

Luiza Vidal

De VivaBem, em São Paulo

09/06/2022 16h41

Um novo estudo traz esperança para pacientes que têm uma forma agressiva de câncer de mama. De acordo com um artigo publicado no The New England Journal of Medicine neste domingo (5), apresentado durante o maior congresso de oncologia do mundo, da Asco (na tradução, Sociedade Americana de Oncologia Clínica), um medicamento conseguiu reduzir a progressão do câncer, diminuir o tamanho do tumor e estender a vida da pessoa em cerca de seis meses.

O remédio em questão, o trastuzumab deruxtecan (nome comercial de Enhertu), já era utilizado para uma classe específica deste tipo de câncer. Até então, era destinado apenas para pacientes com HER2-positivo, ou seja, com forte expressão dessa proteína.

Antes, se a biópsia do exame mostrava que o HER2 era negativo, ou seja, sem expressão da proteína, o paciente não era elegível ao tratamento. Mas o que os pesquisadores descobriram é que, na verdade, essas pessoas poderiam ter uma "baixa expressão" de HER2 e não necessariamente com valor negativo. Para esse grupo, deram o nome de HER2-low que, agora, também pode estar apto ao medicamento.

Segundo o oncologista Max Mano, do Grupo Oncoclínicas, de São Paulo, com essa nova categoria, muitas biópsias terão que ser analisadas novamente. "Agora, a diferença é que a população que vai se beneficiar é muito maior. Antes, a gente cobria só de 15% a 20% dos pacientes com câncer de mama. Agora, a gente chega a 60%", explica o médico.

Como o estudo foi feito

Já na fase 3, ou seja, última etapa, 557 pacientes foram distribuídas aleatoriamente em dois grupos: uma parte recebeu o tratamento com o remédio, que é aplicado por via intravenosa, e a outra realizou a quimioterapia de escolha do médico.

As participantes foram diagnosticadas anteriormente com baixa expressão da proteína HER2 (HER2-low), em fase avançada, com metástase, que é quando o câncer já se espalhou para outras partes do corpo.

As pacientes também já haviam tentado outros tratamentos e, além disso, possuíam um tumor que não poderia ser tratado com cirurgia.

Quais foram os resultados do estudo

O medicamento, das farmacêuticas AstraZeneca e Daiichi Sankyo Co, interrompeu a progressão do câncer por cerca de 10 meses em comparação com cerca de quase seis meses no grupo que recebeu a quimioterapia padrão.

A droga também melhorou a sobrevida em cerca de seis meses: passou de 17,5 para 23,9 meses. No outro grupo, esse valor foi de quase três meses.

Segundo o oncologista, a regressão do tumor foi um achado muito importante para a qualidade de vida dos pacientes. "Alguns pacientes têm muitos sintomas associados à metástase do câncer, como dor ou outros tipos de sintomas. Quando a doença regride com o tratamento, eles sentem bastante alívio", explica.

"Só para ter uma ideia da eficácia, 50% dos tumores tiveram uma regressão de ao menos 30%. No grupo da quimioterapia, foi apenas de 16%. É uma diferença muito grande," afirma Mano.

Como funciona o medicamento

"É um anticorpo monoclonal chamado transtuzumab ligado a um inibidor da enzima topoisomerase, recebendo o nome de transtuzumab deruxtecan", explica Décio Lerner, coordenador do Centro Avançado de Oncologia do Hospital São Vicente de Paulo (RJ), além de membro da SBOC (Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica) e da Sociedade Brasileira de Transplante de Medula.

O medicamento, de aplicação intravenosa, age bloqueando a proteína HER2 nas células cancerosas, ao mesmo tempo em que descarrega um poderoso produto químico que mata o câncer dentro dessas células.

"A grande jogada do medicamento é que, uma vez que essa droga chamada de inibidor da enzima topoisomerase se desprende do anticorpo, ela é também capaz de agir nas células de baixa expressão da proteína HER2", diz o oncologista.

No entanto, a droga, que custa nos Estados Unidos cerca de US$ 14 mil por mês, pode ter complicações graves. De acordo com a agência Associated Press, três pacientes no estudo morreram de uma doença pulmonar, que já é um risco conhecido da droga.

Por isso, os médicos precisam garantir que os pacientes relatem problemas respiratórios imediatamente para que o medicamento possa ser interrompido e os pacientes tratados.

No Brasil, o seu uso é apenas aprovado para pacientes com o HER2-positivo e, segundo o oncologista da Oncoclínicas, via setor privado.