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É verdade que usar rasteirinhas e chinelos pode provocar dores na lombar?

Imagem: Priscila Barbosa

Janaína Silva

Colaboração para VivaBem

08/06/2022 04h00

Muita gente prefere sapatos baixos para o dia a dia, principalmente após os meses de isolamento forçados pela pandemia em que andar descalço, de meias ou chinelos fez parte da rotina de uma boa parcela da população.

Porém, ao contrário do que muitos acreditam, Carolina Cunha Moraes Accioly, ortopedista do Hospital Português, em Salvador, afirma que esses modelos apresentam um falso conforto: "Não é novidade que o uso contínuo de salto alto faz mal à coluna, no entanto, as rasteirinhas e os chinelos também causam dores, pois não amortecem o impacto durante a caminhada, o que leva a desgastes nas cartilagens dos tornozelos, joelhos, quadris e lombar. Andar um longo trajeto com esses modelos, sem o devido amortecimento, pode levar a dores nas regiões lombar e dorsal".

A dor é desencadeada pela sobrecarga das estruturas ligamentares e articulares, em geral previamente acometidas, e afeta tanto mulheres quanto homens. "A coluna tem um equilíbrio que é mantido pela inclinação da pelve, pela lordose lombar e cervical e pela cifose dorsal —curvatura normal da coluna. Qualquer alteração em uma dessas curvas interfere nas demais e gera sobrepeso nas articulações e ligamentos", esclarece Marcelo Risso, ortopedista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, de São Paulo.

Características como lordose, encurtamento da musculatura posterior lombar e nos membros inferiores e patologias degenerativas levam a reclamações no uso de calçados mais baixos. Para essas pessoas, a recomendação dos especialistas é optar por modelos com um pouco de altura.

"O que se sabe é que pessoas sedentárias, obesas e que não realizam alongamentos sentem-se mais confortáveis com o uso de salto, pois o corpo fica mais equilibrado e, de uma forma ou de outra, força-se menos a musculatura dos membros inferiores e a coluna lombar", explica Eduardo Araujo Pires, ortopedista especialista em cirurgia do pé e tornozelo e chefe da disciplina de pé e tornozelo da Unisa (Universidade Santo Amaro).

De olho nos pés

A ortopedista do Hospital Português explica que os pés são responsáveis pelo suporte do peso do corpo e pelo deslocamento e sofrem impacto diário durante as atividades, que é transmitido para as outras articulações dos membros inferiores e para a coluna vertebral.

"Na região plantar do pé existe uma estrutura fibrosa chamada fáscia plantar, que é a mais afetada. Esse tecido pode passar por um processo inflamatório que evolui para fascite plantar, que tem como consequências a dificuldade para caminhar e a mudança da biomecânica da marcha, que propicia uma pisada inadequada, ocasionando dores articulares crônicas e lesões na coluna, em especial, na região lombar", diz Accioly.

Saltos altos também são danosos

Segundo Andre Liggieri, ortopedista, professor do curso de dor do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), os sapatos altos com bico fino são bastante perigosos do ponto de vista biomecânico.

Eles não possuem uma parte de trás, a do retropé, para garantir uma base confortável e que amorteça o impacto. Além disso, no antepé —a área anterior do pé—, os dedos ficam espremidos e não funcionais. Com isso, ocorre o aumento de carga que se tem na região dos metatarsos (parte do meio do pé).

"A metatarsalgia tem uma relação muito grande com o uso do salto alto. Daí, muitas pessoas que usaram esses exemplares a vida toda reclamam de dor nas costas e nos joelhos", explica o professor Liggieri. O bico fino causa, ainda, calosidades e joanetes em muitas pessoas.

Os especialistas dão algumas dicas para melhorar o conforto dos pés e não provocar distúrbios:

  • Dar preferência a sapatos com elevação entre 2 e 5 cm, com solado firme, com bom apoio ao arco plantar, palmilha macia e acolchoada, e bem ajustados ao pé;
  • Os saltos baixos colaboram na redução das dores nas regiões da panturrilha, do tendão de Aquiles e na região plantar, e conferem alívio aos pés femininos e masculinos;
  • É importante alternar os modelos de calçados para descansar e evitar incômodos e esforços constantes em apenas uma região do pé;
  • As atividades físicas regulares com alongamentos associados fortalecem e melhoram os encurtamentos e desequilíbrios musculares.

"Sempre que tiver uma dor no pé ou na coluna que persista, com piora progressiva ou que evolua com algum formigamento ou perda de força nos membros inferiores, é preciso procurar de forma imediata um pronto-socorro ou um médico de confiança para que uma avaliação seja feita", orienta Pires.

Fontes: Andre Liggieri, ortopedista, professor do curso de dor do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), membro do comitê de dor da SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia) e membro da SBRET (Sociedade Brasileira de Regeneração Tecidual); Carolina Cunha Moraes Accioly, ortopedista do Serviço de Ortopedia do Hospital Português, em Salvador, membro da SBOT e membro da ABTPé (Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé); Eduardo Araujo Pires, ortopedista especialista em cirurgia do pé e tornozelo e chefe da disciplina de pé e tornozelo da Unisa (Universidade Santo Amaro); e Marcelo Risso, ortopedista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.

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