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Remédios e Tratamentos

Um guia dos principais medicamentos que você usa


Metoclopramida é eficaz contra náusea, inclusive a presente na enxaqueca

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Imagem: iStock

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

07/06/2022 04h00

Resumo da notícia

  • O fármaco é classificado como antiemético, ou seja, age no controle da náusea e do vômito
  • Por ser antagonista da dopamina, problemas extrapiramidais são possíveis efeitos colaterais
  • Considerado seguro, efetivo e acessível, pode ser indicado a crianças acima de 1 ano e idosos
  • No caso de enjoo na gravidez, ele deve ser usado somente quando indicado pelo médico

Descoberta em meados dos anos 1950, a metoclopramida tem sido indicada para controlar sintomas como enjoo e náuseas consequentes a diversas situações médicas.

O que é metoclopramida?

Trata-se de um fármaco classificado como antiemético ou procinético. Dadas as suas características, ele deve ser utilizado mediante prescrição médica ou indicação farmacêutica.

Em quais situações ela pode ser usada?

Dada a utilização desse fármaco há mais de meio século, seus efeitos são bastante conhecidos. Contudo, é importante que você faça o uso racional desse remédio, ou seja, utilize-o de forma apropriada, na dose certa e por tempo adequado, conforme orientação médica ou do farmacêutico.

A metoclopramida pode ser indicada —isolada ou em associação a outras medicações— para a prevenção e o controle de enjoos e vômitos consequentes a:

  • Cirurgias
  • Uso de determinados medicamentos (quimioterápicos, por exemplo)
  • Doenças metabólicas e infecciosas
  • Exames radiológicos para facilitar o esvaziamento gástrico
  • Doença do refluxo gastroesofágico
  • Gastroparesia diabética (uma complicação do diabetes descontrolado)
  • Enxaqueca

Estudos com o medicamento indicam que a metoclopramida é também eficaz na síndrome de Blackfan-Diamond, um tipo de anemia rara, assim como na terapia de doenças avançadas do fígado. Os dados foram publicados nos periódicos médicos American Journal of Hematology e Gastroenterology, respectivamente.

Entenda como funciona a metoclopramida

Após a administração do medicamento pela via oral, ele é rapidamente absorvido pelo trato gastrointestinal e é minimamente metabolizado pelo fígado. Por isso, após completar sua ação, cerca de 85% dele é excretado por meio da urina.

A metoclopramida é um antagonista de um neurotransmissor, a dopamina, que estimula o trato gastrointestinal e está relacionada ao peristaltismo, ou seja, aos movimentos dessa região. Para controlar o enjoo e a náusea, o fármaco bloqueia os receptores nos quais a dopamina agiria. E é por meio desse bloqueio que ela aumenta a força da contração gástrica e relaxa o esfíncter da área que une estômago e intestino (piloro). Todo esse processo melhora o esvaziamento gástrico, reduz o movimento que facilitaria a náusea e o vômito.

Quando administrado pela via oral, espera-se que o medicamento comece a fazer efeito no período de 30 a 60 minutos. As explicações são de Fernanda Cristina Ostrovski Sales, coordenadora do curso de farmácia e coordenadora adjunta da Escola de Medicina da PUC-PR.

Conheça as apresentações disponíveis

Plasil® é o medicamento de referência desse fármaco, mas você pode encontrar as versões genéricas.

Confira algumas das apresentações disponíveis:

  • Comprimido - 10 mg
  • Solução injetável - 5 mg
  • Solução oral - 4 mg

A metoclopramida consta da Rename 2022 (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais) e, portanto, pode ser retirada nas farmácias do SUS (Sistema Único de Saúde), bastando apresentar a receita médica.

Há riscos no uso prolongado?

Em geral, esse medicamento é usado por um curto período de tempo, mas há situações médicas nas quais ele pode ser indicado para uso prolongado. Quando isso for necessário, o médico deve monitorar o paciente mais atentamente para prevenir e controlar possíveis manifestações de efeitos colaterais.

Quais são as vantagens e desvantagens do uso desse medicamento?

De acordo com os especialistas consultados, a medicação é efetiva, segura e acessível, mas tem como desvantagem o fato de ser altamente lipossolúvel. Tal característica faz que ela atravesse barreiras no organismo de maneira muito fácil, inclusive a barreira hematoencefálica, que é aquela que protege o SNC (Sistema Nervoso Central).

Por ser antagonista da dopamina, ao atravessar essa barreira, ela atua em outras funções desse neurotransmissor, que regula outros movimentos para além daqueles do sistema gastrointestinal. O resultado disso pode ser o aparecimento de movimentos involuntários como tremores, além de agitação, entre outras manifestações, o que os médicos definem como problemas extrapiramidais.

Conheça as contraindicações

A metoclopramida não pode ser usada por pessoas que sejam alérgicas (ou tenham conhecimento de que alguém da família tenha tido reação semelhante) ao seu princípio ativo ou a qualquer outro componente de sua fórmula.

Fique também atento à presença das condições abaixo descritas, que deverão ser noticiadas ao médico ou farmacêutico antes do início do uso do medicamento:

  • Sangramento gastrointestinal
  • Obstrução ou perfuração gástrica
  • Doença de Parkinson
  • Depressão
  • Convulsões ou epilepsia
  • Feocromocitoma (um tipo de tumor)
  • Discinesia tardia (doença neurológica que afeta os movimentos)
  • Pressão alta (hipertensão)
  • Câncer de mama
  • Doenças dos rins, fígado ou coração
  • Gravidez
  • Amamentação
  • Idade inferior a 1 ano

Crianças e idosos podem usá-lo?

O medicamento é contraindicado para crianças com idade inferior a 1 ano, mas pode ser utilizado pelas demais e também por idosos, quando possível, por curto período de tempo, dados os seus possíveis efeitos colaterais.

Estou grávida e pretendo amamentar. Posso usar metoclopramida?

De acordo com o endoscopista Daniel Dutra, do HU-UFPI, apesar de os efeitos do medicamento entre mulheres grávidas e as que amamentam sejam bastante conhecidos, já existem medicações com melhor perfil de segurança para indicação nesses grupos.

"Não é que o remédio não possa ser utilizado. Ele pode. Mas preferimos indicar fármacos mais seguros. Quando não há a resposta esperada, a metoclopramida será uma opção, mas é preciso estar sempre atento aos efeitos colaterais, que não são raros", explica o médico. Ele acrescenta ainda que essa regra também se aplica ao uso da metoclopramida para o controle de náuseas na gravidez.

Qual é a melhor forma de tomar a metoclopramida?

A sugestão da farmacêutica Amouni Mourad, professora do curso de farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie e assessora técnica do CRF-SP, é que o medicamento seja ingerido com água, de preferência antes das refeições (o uso concomitante com os alimentos poderia comprometer a sua biodisponibilidade, ou seja, ele demoraria mais tempo para fazer seu efeito) e antes de dormir, isso porque algumas pessoas têm muita sonolência com a metoclopramioda.

Apesar disso, siga as instruções de seu médico sobre a melhor forma de tomá-lo para o tratamento de seus sintomas específicos. Lembre-se que o esquema de doses é sempre personalizado. Evite aumentá-lo, reduzi-lo ou mesmo automedicar-se: sem a orientação e o monitoramento de um profissional da área da saúde, o risco de efeitos colaterais aumenta.

O que faço quando esquecer de tomar o remédio?

Aguarde o horário da próxima dose, e tome o remédio normalmente, conforme orientação médica e do farmacêutico.

É desaconselhado tomar doses em dobro de uma vez para compensar a dose que foi esquecida. Se você sempre se esquece de tomar seus remédios, use algum tipo de alarme para lembrar-se.

Quais são os possíveis efeitos colaterais?

Este medicamento é considerado bem tolerado, seguro e eficaz quando usado em doses adequadas. No entanto, algumas pessoas podem apresentar manifestações como sonolência, fadiga, fraqueza, dor de cabeça e tontura.

Confira os outros possíveis efeitos:

  • Diarreia
  • Nausea
  • Vômito
  • Falhas no ciclo menstrual
  • Redução da libido
  • Aumento da frequência urinária
  • Dificuldade para controlar a urina

Além desses exemplos, a metoclopramida pode causar outros efeitos colaterais. Fale com o médico ou farmacêutico caso observe o aparecimento de algum sintoma estranho durante o uso desse medicamento.

Interações medicamentosas

Algumas medicações não combinam com a metoclopramida. E quando isso acontece, elas podem alterar ou reduzir seu efeito.

Avise o médico, o farmacêutico ou dentista caso esteja fazendo uso (ou tenha feito uso recentemente) das substâncias abaixo descritas, que são apenas alguns exemplos das possíveis interações. Confira:

  • AINEs (anti-inflamatórios não esteroidais, como o paracetamol)
  • Anti-histamínicos (cetirizina)
  • Medicamentos para Parkinson (levodopa)
  • Imunossupressores (ciclosporina)
  • Barbitúricos (fenobarbital)
  • Antiarrítmicos (digoxina)
  • Antipsicóticos (haloperidol)
  • Insulina
  • Estabilizadores de humor (lítio)

Fique atento ainda a medicamentos usados para tratar a ansiedade, a pressão sanguínea, a doença do intestino irritável, úlceras, problemas urinários, narcóticos para controle da dor e sedativos em geral.

Além disso, lembre-se também de informar ao médico ou ao farmacêutico sobre o eventual uso de suplementos bem como fitoterápicos que, potencialmente, podem interferir no efeito desejado da metoclopramida.

Posso beber bebidas alcoólicas?

É recomendado não consumir esse tipo de bebida porque ela aumenta a chance de ter efeitos colaterais no sistema nervoso. Isso resultaria em tontura, sonolência e dificuldade de concentração.

De acordo com Marcelo Polacow, presidente do CRF-SP, alguns indivíduos podem ainda apresentar problemas cognitivos e alterações na capacidade de julgamento.

A metoclopramida pode alterar resultados de exames laboratoriais?

Até o momento não foram relatadas interações com exames feitos em laboratórios.

Em casa, coloque em prática as seguintes dicas:

  • Observe a validade do medicamento indicado no cartucho. Lembre-se: após a abertura, alguns fármacos têm tempo de validade menor, o que também é influenciado pela forma como você o armazena;
  • Leia atentamente a bula ou as instruções de consumo do medicamento;
  • Ingira os comprimidos inteiros. Evite esmagá-los ou cortá-los ao meio --eles podem ferir sua boca ou garganta;
  • Em caso de cápsulas, não as abra para colocar o conteúdo em água, alimentos ou mesmo para descartar. Sempre use a cápsula íntegra;
  • No caso de suspensões orais, agite bem o frasco antes de usar. E sempre limpe o copo dosador antes e após o uso. E armazene junto ao frasco do medicamento, para evitar misturar com outros medicamentos;
  • Prefira comprar remédios nas doses justas para o uso indicado para evitar sobras;
  • Respeite o limite da dosagem diária indicada na bula;
  • Escolha um local protegido da luz e da umidade para armazenamento. Cozinhas e banheiros não são a melhor opção. A temperatura ambiente deve estar entre 15°C e 30°C;
  • Guarde seus remédios em compartimentos altos. A ideia é dificultar o acesso às crianças;
  • Procure saber quais locais próximos da sua casa aceitam o descarte de remédios. Algumas farmácias e indústrias farmacêuticas já têm projetos de coleta;
  • Evite descarte no lixo caseiro ou no vaso sanitário. Frascos vazios de vidro e plástico, bem como caixas e cartelas vazias podem ir para a reciclagem comum.

O Ministério da Saúde mantém uma cartilha (em pdf) para o Uso Racional de Medicamentos, mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos - Fiocruz) (em pdf) ou do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (também em pdf). Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.

Fontes: Amouni Mourad, farmacêutica, professora do curso de farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP) e assessora técnica do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia em São Paulo); Daniel Dutra, médico endoscopista do HU-UFPI (Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí), que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares); Fernanda Cristina Ostrovski Sales, farmacêutica e bioquímica, coordenadora do curso de farmácia e coordenadora adjunta da Escola de Medicina da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná); Marcelo Polacow, farmacêutico, mestre e doutor em farmacologia pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e presidente do CRF-SP. Revisão técnica: Amouni Mourad.

Referências: Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária); Isola S, Hussain A, Dua A, et al. Metoclopramide. [Atualizado em 2022 Abr 28]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK519517/.