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Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Morte, diagnóstico, demissão: como enfrentar situações duras e repentinas?

Imagem: Yan Krukov/ Pexels

Marcelo Testoni

Colaboração para o VivaBem

23/05/2022 04h00

Na vida, nem sempre as notícias são positivas. Inesperadamente, um telefonema avisa sobre a morte de alguém muito querido ou que você foi demitido da empresa de anos. Para piorar, não há garantias de que enquanto digere e tenta resolver o baque você ainda não seja "premiado" com outras desventuras em série.

Situações dessas, duras, repentinas e, às vezes, sequenciais, no imaginário coletivo remetem ao azar, mas não devem ser encaradas assim. Antes, são bem comuns, possíveis de acontecer com qualquer pessoa, que ainda precisa enfrentar mais um desafio: o de encontrar forças dentro de si para contorná-las. Para a maioria não é fácil, mas nem sempre há outra solução, sobretudo quando se trata de questões muito particulares e que ninguém mais pode assumir.

Especialistas explicam que, de imediato, a pessoa pode entrar em desespero ou petrificar, ficar em choque. Pode também recusar o acontecimento, como um mecanismo de defesa, para depois aceitá-lo e tomar uma atitude. Do contrário, o descontrole emocional vai agravar tudo. Choro, impotência, medo geram tensão, ansiedade, angústia e facilitam diversas patologias, como depressão, pânico, agorafobia, estresse pós-traumático.

Como ser forte assim, de surpresa

Não existe fórmula mágica. Quem no dia a dia tende a enfrentar problemas e de maneira centrada costuma reagir melhor frente a um "maremoto". Já quem não se encaixa nesse perfil deve procurar ajuda da rede de apoio, que pode ser de familiares ou amigos. Em caso de choque, ajuda médica pode servir, às vezes até entrando com medicamentos.

Ser poupado de preocupações menores nesse momento também é indicado. Nesse sentido, o indivíduo deve buscar alguém confiável, que também, por consideração, pode se oferecer para assumir, momentaneamente, enquanto o outro resolve assuntos urgentes, o cuidado por seus filhos, compromissos de trabalho, tarefas domiciliares. No entanto, o ajudador precisa ter tato, cooperar de maneira menos dramática possível e passar informações corretas.

Mentiras e omissões podem machucar mais do que uma verdade dolorosa. A pessoa pode desconfiar ao perceber quem está próximo triste ou apreensivo e, se descobrir o que está por trás, ainda se sentir iludida, frustrada, ressentida. Também, para preservar suas energias, mesmo precisando de favores, é um direito dela e que deve ser respeitado, optar por ficar em silêncio, não querer se aprofundar em detalhes, que podem ser difíceis de serem esmiuçados.

Vivenciar a dor ajuda

É natural e esperado que os outros, num primeiro momento e sem má intenção, visando cuidados, solidariedade, tratem o sofredor como vítima. Porém, a dimensão do que cada um suporta é apenas uma projeção e que nem sempre condiz com a verdade. A percepção se o sujeito aguenta a luta, ou não, é influenciada pelo estado emocional, as dificuldades pessoais daqueles que estão ao seu redor.

Além disso, quando se trata de alguém cujo histórico é o de enfrentamento de muitas ou longas enfermidades, mortes e acidentes, embora esteja passando por mais uma provação, pela experiência, denota na verdade que pode ser muito desenvolvido emocionalmente e até saiba lidar bem com o sofrimento. Muitos tendem a censurar a dor psíquica como se fosse algo negativo, mas vivenciá-la facilita, inclusive, o processo e a compreensão sobre lutos e perdas.

Estando estável, bem de saúde, mas convencido por terceiros a se privar de se posicionar diante de um assunto que lhe diz respeito, o indivíduo, que tem total direito sobre si, também perde oportunidades significativas. Deixa de concluir tarefas que mais tarde podem até lhe infligir grandes arrependimentos, como, por exemplo, não ter pedido perdão ou perdoado, se despedido de alguém em estágio terminal. Depois, pode até ficar doente emocionalmente.

Dá para se preparar?

Muita gente deixa para olhar para dentro de si e buscar ajuda profissional do momento em que problemas se instalam e repercutem em prejuízos. No entanto, para evitar esse tipo de desfecho e maturar a probabilidade —e iminência— de enfrentar eventos ruins, o indicado é começar a agir e se planejar com antecedência. Quem é hipersensível, ou tende a sofrer, se desesperar e isolar por muito pouco merece investigação e acompanhamento redobrados.

Terapia cognitivo-comportamental, medicamentos quando há a presença de sintomas, ioga, meditação, apoio, tudo isso contribui como tratamento, mas limitar a própria vida por temor do que pode ocorrer no amanhã, nem pensar. No máximo, vale tomar atitudes que aumentem a segurança em diferentes áreas, mas sem exageros, até porque, em se tratando da morte, é uma certeza inevitável e imprevisível. Ninguém a contém, por isso não faz sentido temê-la.

É necessário encarar desafios, infortúnios, sob a perspectiva de que não servem para que se "entregue os pontos", mas para que se movimente, se encoraje, se alcance vitórias. Respostas emocionais rápidas, apoiadas em medos, superstições, falta de reflexão, podem estimular o contrário e retroalimentar paranoias. Daí a necessidade de se desenvolver para já, para evitar o enrijecimento de limitações, as debilidades e promover comportamentos saudáveis.

Fontes: Gabriela Luxo, psicóloga, mestre e doutora em distúrbios do desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e fundadora da clínica Diálogo Positivo, em São Paulo; Henrique Bottura, psiquiatra, diretor clínico do Instituto de Psiquiatria Paulista e colaborador do ambulatório de impulsividade do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo); Leide Batista, psicóloga pela Faculdade Castro Alves e com experiência pelo HC (Hospital da Cidade), em Salvador (BA).

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